O impasse na direção da Confraria de Santa Luzia vai deixar a “Santa dos Olhos” sem a festa que se realizava em Viana do Castelo em honra da padroeira dos oftalmologistas e dos que têm problemas de visão.
“É uma situação que nos entristece muito. É uma tradição que retomamos há quatro anos e que ganhou algum significado. Nesta fase, não sentimos legitimidade para a realizar. É um investimento significativo que não consideramos ser fundamental”, afirmou hoje à Lusa o presidente demissionário, desde setembro, da Confraria que gere o templo-monumento, Pedro Reis.
O dia de Santa Luzia, conhecida com a Santa da Visão, começou a ser celebrado a 13 de dezembro de 304. A devoção a Santa Luzia é atribuída a uma jovem italiana, de nome Luzia de Siracusa, venerada pelos católicos, que sofreu perseguições por ser cristã, mas preferiu que lhe arrancassem os olhos a renegar a fé em Cristo.
A data vai ser assinalada este ano apenas com uma eucaristia “simbólica”. Nos últimos quatro anos o Dia de Santa Luzia foi comemorado com uma festa de três dias.
“A festa tinha adquirido algum significado, decorria entre sexta-feira e domingo com várias iniciativas, entre elas um concerto, uma feira e atuação de ranchos folclóricos”, especificou Pedro Reis.
Na semana passada, a direção demissionária da Confraria apontou à Lusa o impasse para justificar a ausência de iluminação de Natal no templo de Santa Luzia este ano, o que acontece pela primeira vez nos últimos cinco anos.
Na altura, o bispo da Diocese de Viana do Castelo disse que “ainda não tinha aceitado” o pedido de demissão que lhe foi apresentado pela direção da Confraria de Santa Luzia.
Anacleto Oliveira adiantou não ter “tomado uma decisão” sobre aquele pedido de demissão que “ainda está a ser analisado”, escusando-se, por esse motivo, a apontar uma data para a realização de novas eleições.
Hoje, o engenheiro civil de 40 anos explicou que a decisão é “irreversível”, escusando-se a adiantar as razões que estão na origem daquela decisão, por considerar que “são questões do foro interno”.
Além da iluminação natalícia do templo, o impasse diretivo vai deixar a Santa Visão sem os habituais festejos.
“Os moldes em que a festa era promovida representava um investimento significativo que a direção demissionária considera não ter legitimidade para realizar. Entendemos não ser uma despesa fundamental nesta fase, apesar da boa saúde financeira da confraria”, frisou.
Pedro Reis garantiu que a “direção demissionária está a praticar todos atos de gestão necessários para assegurar o normal funcionamento dos serviços”.
“Temos assegurado, escrupulosamente, todas as responsabilidades da Confraria, quer seja com os funcionários, quer com entidades que nos prestam serviços. Não há um cêntimo que seja por pagar”, destacou.
Já quanto a decisões futuras, como o Plano de Atividades e Orçamento para 2019, disse serem “decisões de vulto que competem à futura direção”.
“Esta direção não irá, sequer, apresentar qualquer proposta”, reforçou.
A confraria de Santa Luzia, zela pelo templo-monumento situado no cimo do monte com o mesmo nome, sobranceiro à cidade de Viana do Castelo desde 19 de março de 1884.
Entre 2014 e 2018, a confraria realizou um investimento global de dois milhões de euros no arranjo urbanístico e paisagístico daquela área.
Do zimbório existente no topo do templo, o ponto mais alto de Viana do Castelo, os visitantes avistam uma paisagem de vários quilómetros. De acordo com dados da confraria, entre 80 mil a 90 mil pessoas acedem (entrada paga) anualmente ao zimbório.
Projetado pelo arquiteto Ventura Terra, o templo de Santa Luzia, cuja construção decorreu entre 1904 e 1943, é hoje um ex-líbris de Viana do Castelo.