Os Clã, uma das mais importantes bandas portuguesas, têm um novo disco, chamado “Véspera”, e também uma formação renovada com secção rítmica minhota. O baixista, Pedro Santos, é de Braga e o baterista, Pedro Oliveira, é de Barcelos.
O MINHO falou com os dois músicos minhotos que, desde há cerca de um ano, integram o grupo de Manuela Azevedo, Hélder Gonçalves, Miguel Ferreira e Pedro Biscaia.
Pedro Oliveira, baterista com longo currículo na cena musical mais alternativa construído em bandas como Kafka, Green Machine, Old Jerusalem, Dear Telephone, Krake, entre muitos outros projetos, ficou surpreendido quando, no primeiro trimestre do ano passado, recebeu o convite “para integrar a banda ao vivo em alguns concertos que os Clã tinham marcados para o verão”.
“Foi com muita surpresa que recebi esse telefonema, pois não era coisa que estivesse de todo à espera. O meu caminho musical recente tinha até caminhado num sentido contrário, mais exploratório. No entanto, achei que poderia ser uma boa oportunidade para trabalhar com músicos que sempre admirei”, refere o músico de Barcelos.
Também Pedro Santos considera que o encontro com os Clã se deu “de forma muito inesperada”.
“Fiz um concerto com os Jáfumega onde conheci o teclista da banda, o Miguel Ferreira, que uns meses mais tarde me contactou a perguntar se estava interessado em colaborar com os Clã”, recorda, acrescentado que “a experiência está a ser diferente de todas as outras” que já tivera “pela abordagem que a banda tem à sua música”.
“Fiquei surpreendido pelo trabalho e pela atenção dada a todos os detalhes musicais e não só. Há espaço e tempo para se testar tudo, o som de cada instrumento para cada música. Cada nota e cada acorde são importantes. Ver uma banda com tantos anos de carreira a ter esta paixão pela sua arte é muito inspirador”, sublinha o baixista de Braga, que acompanha desde 2013 Miguel Araújo e integra também, atualmente, a banda de Marta Ren, tendo já colaborado com nomes consagrados como Jorge Palma, Os Azeitonas, os Jáfumega, entre outros. A nível de composição, integra os 47 de Fevereiro, compõe regularmente com André Indiana e editou um disco com os CRU (“Tens mesmo de querer”).
Pedro Oliveira classifica a experiência de tocar com os Clã “inspiradora”. “É também uma excelente oportunidade explorar abordagens diferentes do que me é habitual. As composições são todas feitas pelo Hélder Gonçalves e foi para mim interessante trabalhar dessa maneira, o que fugiu completamente a tudo o que tinha feito até então”, revela.
“Em todas as coisas que me tinha envolvido até ao momento sempre tinha sido compositor em conjunto com todos os outros músicos dos projetos. Nos Clã não há grande espaço para improvisações, as músicas são bastante herméticas, o que faz com que explore coisas mais técnicas e menos artísticas. O meu contributo acabou por ser muito no trabalho de estúdio, questões de interpretação, som, etc”, acrescenta.
Os dois músicos minhotos já integraram os concertos dos Clã no verão passado no Douro Rock e no Avante. “Foram super intensos”, avalia Pedro Santos. “Muito rock, algum nervosismo e adrenalina a correr nas veias. Os Clã têm um repertório grande de músicas intemporais, e poder estar em palco e ver o público a cantá-las em massa foi especial”, confessa.
Relativamente ao novo disco, “Véspera”, o baixista avalia que “é um disco surpreendente, sem receio de explorar sonoridades atuais, misturando esse ‘modernismo’ com rock e até soul/R&B, nunca deixando de ter a identidade crua dos Clã’.
Participar em “Véspera” foi, para Pedro Santos, “um desafio muito grande. Penso que o Hélder [Gonçalves], sendo um incrível baixista, acaba por pensar nas músicas à volta de uma linha de baixo forte, ou mesmo que o baixo surja depois, tem sempre um papel importante nas músicas de Clã. Sendo assim, cada música do disco novo tinha novos detalhes para explorar. Outra coisa que achei interessante foi que, por vezes, a abordagem do baixo nos Clã é quase “guitarrística”, assumindo melodias, acordes e libertando-se um pouco do mais convencional. Acabou por ser engraçado porque eu próprio procuro esse tipo de abordagem noutras bandas em que participo”.
Pedro Oliveira afirma que está “bastante satisfeito com o resultado final do disco” e que se sente “muito orgulhoso de ter podido fazer parte dele”.
“Os Clã são uma banda inspiradora e extremamente cuidadosa com as coisas que soltam cá para fora”, conclui o baterista de Barcelos.