Os 22 habitantes do lugar Carreiros, em Paredes de Coura vão exercitar a democracia, em comunidade, através de ações artísticas e culturais promovidas a partir deste fim de semana e até 25 de abril de 2026.
Em Carreiros, “há um sentido de comunidade sem prescindir da singularidade de cada um. Achamos tão importante o fortalecimento dos laços comunitários, precisamente para o exercício da democracia, porque é uma forma de promover a confiança e sem confiança entre todos nós a democracia torna-se mais frágil”, afirmou hoje à agência Lusa Magda Henriques.
Em causa está o projeto “Carreiros para Futuros Ancestrais”, apoiado pelo programa “Arte pela Democracia”, uma parceria entre a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril e a Direção-Geral das Artes (Dgartes).
“Aceder a uma parte da história antes e depois de abril de 74”
O objetivo é aceder às histórias dos habitantes da aldeia, com idades compreendidas, maioritariamente, entre os 65 e os 85 anos, o que no fundo “é aceder a uma parte da história antes e depois de abril de 74”.
“Nós chamamos-lhe micro práticas democráticas. No fundo, através de micro ações, consolidarmos e exercitarmos a democracia. Quando contamos, juntos, histórias deste lugar e das nossas vidas, percebemos o que mudou antes e depois da revolução do 25 de abril”, especificou.
O projeto liderado por Magda Henriques, natural de Coimbra, e pelo marido Alastair Fuad-Luke, de Manchester, no Reino Unido, começou a nascer há dois anos quando decidiram viver no lugar de Carreiros, União das Freguesias de Formariz e Ferreira, aumentando o número de habitantes de 20 para 22.
“Tendo em conta os tempos que estamos a viver, nós fomos, na verdade, dois imigrantes que vieram para aqui. Como é que isto pode servir para refletirmos?”, questionou.
O agradecimento pela “hospitalidade” como foram recebidos em Carreiros começou sob a forma de “convívios, sessões de cinema na casa do casal, partilha de histórias, experiências e muitas gargalhadas”.
Dois anos depois, o projeto “Carreiros para Futuros Ancestrais” ganhou forma e conteúdo e foi candidatado à DGartes.
“O centro do projeto são as assembleias, para já são só com os nossos vizinhos, orientadas pela socióloga Carlota Quintão e pela antropóloga Teresa Fradique, de forma a estarmos mais próximos uns do outros, imaginarmos possibilidades de futuro”, explicou.
A primeira assembleia está marcada para sábado, às 15:30. No domingo, às 16:00, acontece o primeiro clube de leitura intitulado “Uma espécie de teatro”, com a atriz e encenadora Sílvia Pinto Ferreira.
Além das assembleias e do clube de leitura, o projeto incluiu um ciclo de cinema, caminhadas, a produção de um filme/documentário, uma escultura sonora, três exposições de retratos dos habitantes e do lugar de Carreiros e um sítio na Internet que já está disponível e que contém toda a informação sobre as atividades previstas.
“O nosso desejo é que as atividades possam, uma vez mais, aproximarmo-nos uns dos outros, juntarmos perspetivas diferentes através, sobretudo, das práticas artísticas e de objetos artísticos”, explicou.
Na aldeia não há crianças
Na aldeia não há crianças, mas os responsáveis pelo projeto esperam que “os filhos e netos possam ser convocados para as atividades, através dos avós ou outros familiares do lugar”.
“São eles que podem ajudar a um exercício mais efetivo da democracia e, sobretudo, um pensamento para o futuro. Estes lugares têm um potencial imenso para podermos viver bem”, sublinhou.
O projeto termina no dia 25 de abril “com a apresentação do filme/documentário da realizadora Rita Senra, a inauguração de uma escultura sonora da autoria do João Gigante e da Sílvia Pinto Ferreira, uma última das três exposições dos retratos dos habitantes de Carreiros e uma última assembleia que seja não só uma reflexão do que fizemos todos juntos, mas também a construção de um manifesto coletivo sobre este lugar”.