O confiante Iúri Leitão concretizou ontem o seu sonho, em nome da família da pista, transformando a sua paixão pelo ciclismo num título olímpico em madison e confirmando estar “entre os melhores do mundo” e do olimpismo português.
O orgulhoso minhoto, que tem nos canoístas olímpicos da sua região “ídolos de infância”, colecionou a mais desejada de todas as medalhas, que entregará como todas as outras à sua namorada Carolina, também ela de Viana do Castelo.
O ciclista tornou-se, também, este sábado, no primeiro atleta português a conquistar duas medalhas numa edição dos Jogos Olímpicos, ao vencer o ouro no madison, ao lado do compatriota Rui Oliveira, depois da prata no omnium em Paris2024.
Depois de ter conquistado na quinta-feira a medalha de prata na prova de omnium, Iúri Leitão chegou ontem ao lugar mais alto do pódio em equipa com Rui Oliveira, com ambos a vencerem a prova de madison, com um total de 55 pontos, à frente da Itália, com Simone Consonni e Elia Viviani, segunda com 47, e da Dinamarca, com Niklas Larsen e Michael Moerkoev, terceira, com 41.
Basta uma conversa mais distendida com Iúri Leitão para perceber que o ciclista de Viana do Castelo é uma pessoa confiante, que sabe o que quer. Tem um discurso fluído, pensado, e lida bem com a exposição mediática que foi ganhando a par com as medalhas que ia somando na pista, além das vitórias na estrada.
Batizado de ‘Flying Piggy’ pela sua ‘família’ do ciclismo de pista nacional, uma alcunha que ostenta com orgulho – é habitual estampar um porco rosa no seu equipamento -, Iúri Leitão é “uma pessoa autêntica”, nas palavras de João Matias, o mais velho dos seus colegas naquela seleção.
“Diz e faz o que pensa no momento, sem pensar muito. Tem aquela verdadeira ‘chispa’ em tudo na vida e, principalmente, em cima da bicicleta. Há quem lhe chame o ‘fósforo’, porque só precisa de um pequeno estímulo para deitar logo fogo”, descreveu Matias à agência Lusa.
O maior ‘fósforo’ para o vianense de 26 anos é mesmo a paixão pelo ciclismo, que foi crescendo bem depois de ter começado neste mundo aos seis anos, ‘empurrado’ por um amigo do pai.
Hoje, é com um brilho nos olhos que fala sobre a sua modalidade: “É a minha profissão, mas eu faço isto por diversão. Eu faço porque adoro, porque é uma coisa que me dá muito gozo e que me passa uma adrenalina muito boa”.
Foi na estrada que deu as primeiras pedaladas, mas foi na pista, descoberta aos 16 anos, que se tornou um dos “melhores do mundo”, como recordou aos jornalistas quando ganhou a prata no omnium, num percurso vitorioso iniciado em 2020, quando se sagrou, pela primeira vez, campeão europeu de scratch e ainda vice-campeão continental de eliminação.
Os resultados na pista, aliados às promissoras indicações na estrada, ‘abriram-lhe’ as portas da Tavfer-Measindot-Mortágua, na qual se estreou como ciclista profissional e se consolidou como um dos mais promissores sprinters do pelotão nacional – ganhou a classificação por pontos na Volta ao Alentejo, além de duas etapas, e triunfou também numa tirada do Grande Prémio Douro Internacional
O talento do português não passou despercebido à Caja Rural, equipa espanhola do segundo escalão mundial, que contratou Leitão em 2022 e o mantém nas suas fileiras até hoje, numa relação nem sempre fácil e que precisou de ser ‘negociada’.
“Quando entrei para a equipa, era novo, e foi difícil mostrar do que era capaz. A equipa entendeu que tinha objetivos muito claros, e bem definidos, na pista. Compreenderam e chegámos a acordo. Desde que não falhe com a equipa, e tenho três vitórias este ano…”, relevou à Lusa numa entrevista pré-Paris2024.
Com a confiança e aparente tranquilidade permanente que emana, Leitão foi trilhando o seu caminho no pelotão internacional e no primeiro ano da “aventura” no estrangeiro, como a ‘batizou’ o próprio, venceu ‘apenas’ uma etapa na Ronde de l’Oise, além de ter repetido o título continental de scratch.
A temporada seguinte seria de afirmação, com uma sucessão de resultados de relevo: conquistou a Volta à Grécia, onde venceu uma etapa, duas tiradas no Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela e outra na Volta à Croácia, sagrando-se campeão mundial de omnium.
Rumo às suas duas medalhas olímpicas – já igualou os melhores portugueses de sempre -, tornou-se no primeiro homem a conquistar três títulos europeus no scratch, no arranque de uma época em que somou triunfos na Volta à Grécia, GP Beiras e Serra da Estrela e Volta ao Alentejo.