Organização de controlo sanitário lamenta que se tenha “acordado tarde” para doença da língua azul

O coordenador do Agrupamento de Defesa Sanitária de Monforte, Portalegre, lamentou hoje que as autoridades sanitárias tenham “acordado tarde” para a doença da língua azul, defendendo também a gratuitidade das vacinas aos produtores.

O Agrupamento de Defesa Sanitária (ADS) de Monforte, entidade responsável pelos controlos anuais de sanidade animal às explorações pecuárias, tutela grande parte dos concelhos do distrito de Portalegre e, nesta altura, está também a presidir à união de agrupamentos existentes na região Alentejo.

Em declarações à agência Lusa, Manuel Abreu relembra que “no início de setembro”, e “logo que começou a existir suspeitas” da febre catarral ovina ou língua azul, a união de ADS alertou as diversas autoridades sanitárias para o problema.

“O Estado não andou à velocidade que deveria ter andado e começamos a ter vacinas no mês de outubro”, começou por lamentar o responsável.

“Assim que apareceram estes casos (sobretudo no distrito de Évora e Beja), no princípio de setembro, deveriam ter fornecido as vacinas e nós começávamos a fazer uma campanha de vacinação obrigatória (serotipo 3), mas nem uma coisa nem outra, puseram voluntária para que não fosse o Estado a pagar”, acrescentou.

Manuel Abreu recordou também que a doença é constituída por vários serotipos, sendo nesta altura os mais preocupantes os serotipos 1,3 e 4.

“Mas até há pouco tempo era só o serotipo 1 e o 4 (que provocavam problemas nos animais), e nós temos os nossos rebanhos praticamente todos vacinados para (serotipos) 1 e 4”, disse.

“O que está agora a fazer estragos, a matar ovelhas e a provocar abortos em quantidade é o (serotipo) 3, que é novo em Portugal”, acrescentou.

Manuel Abreu defende que o Estado deve tomar medidas semelhantes às medidas que foram tomadas em Espanha, e disponibilizar gratuitamente a vacina referente ao serotipo 3, à semelhança do que está também a fazer com as vacinas referentes ao serotipo 1 e 4.

O coordenador do ADS de Monforte indicou ainda que a vacina para o serotipo 3 tem um valor na casa dos 3,60 euros por animal.

O responsável indicou também que a vacina “está a chegar às pinguinhas” ao mercado e, quando é solicitada pelos produtores, a mesma só é disponibilizada num período superior a “oito dias”.

A doença da língua azul já afetou, pelo menos, 279 explorações de bovinos e ovinos, sobretudo em Évora e Beja, e provocou a morte de 1.775 animais, segundo os dados disponibilizados pelo Ministério da Agricultura à Lusa.

A febre catarral ovina ou língua azul é uma doença de notificação obrigatória, mas, de acordo com o Governo, as notificações só têm chegado com a informação relativa aos efetivos pecuários, sujeitos a colheita de amostras.

Os últimos dados disponíveis, reportados na segunda-feira, indicam que foram contabilizadas 41 explorações de bovinos afetadas, com 102 animais afetados e sem mortalidade.

No caso dos ovinos, somam-se 238 explorações e 11.934 animais afetados e 1.775 mortos.

Por distrito, destacam-se Évora, com 90 explorações afetadas, e Beja, com 76, seguidos por Setúbal (48) e Portalegre (20).

Depois surgem Castelo Branco (oito), Santarém (oito), Aveiro (cinco), Vila Real (cinco), Lisboa (quatro), Bragança (três), Guarda (três), Viana do Castelo (três), Leiria (dois), Porto (dois), Coimbra (um) e Faro (um).

Já Braga e Viseu são os únicos distritos onde não se conhecem explorações afetadas pela língua azul.

 
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