Maria Costa, de 69 anos, estava prestes a cair na burla “Olá mãe”, por WhatsApp, quando a funcionária do banco, em Barcelos, onde se tinha dirigido para fazer a transferência para (supostamente) a sua filha a alertou para não o fazer. Poucas semanas depois, voltou a ser alvo do mesmo esquema, mas desta vez já não se deixou enganar e guardou os dados para onde o burlão pedia a transferência, antes que este os apagasse.
No dia 16 de janeiro, Maria Costa recebia uma mensagem de WhatsApp alegando que era o número provisório da filha porque o telemóvel teria problemas no visor. Pouco depois, pedia-lhe para fazer uma transferência de 1.150 euros para um pagamento urgente.
Acreditando tratar-se realmente da filha, deslocou-se ao banco Santander Totta, no Largo da Porta Nova, em Barcelos. “Não conseguia fazer a transferência, como era urgente e tinha medo de errar, pedi ajuda à funcionária do banco”, conta a O MINHO Maria Costa.
E, definitivamente, foi a melhor coisa que fez. “A funcionária, pelas características da mensagem, percebeu logo que era burla e pediu-me para ligar para o número habitual da minha filha. Ela atendeu, perguntei-lhe se tinha pedido para fazer alguma transferência e ela disse que não me tinha mandado mensagem nenhuma”, conta.
Se não fosse a bancária, chamada Susana Filipa Azevedo, Maria Costa teria sido mais uma das muitas vítimas desta burla “Olá mãe” e teria ficado sem 1.150 euros. “Queria agradecer publicamente à funcionária do banco, foi como um anjo que me apareceu”, salienta em conversa com o nosso jornal.
A funcionária também a incentivou a apresentar queixa na PSP e a comunicar o caso no próprio banco, o que fez.
Ontem, Maria Costa voltou a receber nova mensagem “Olá mãe”, agora a pedirem 2.500 euros. Já sabia que era burla. E até guardou os dados do burlão, antes de ele apagar a mensagem.
Nesta segunda vez, ainda foi à esquadra da PSP, mas acabou por não apresentar queixa, afirmando ter sido desencorajada pelo agente que a atendeu, uma vez que não chegou mesmo a ser burlada.
“A Polícia de Segurança Pública (PSP) informa que tem continuado a registar um número considerável de burlas, realizadas através de algumas redes sociais (Whatsapp, Instagram, Messenger…), envolvendo quantias significativas”, referia.
Por isso, a PSP recomenda que, se receber alguma mensagem de um número desconhecido a dizer ser filho(a), ligue para o seu filho ou filha a confirmar; não faça qualquer pagamento ou transferência sem se certificar a que se refere; caso seja alvo deste tipo de burla, denuncie, mesmo que se trate de uma tentativa.
Burla informática aumentou 20% em 2022 com destaque para fraude “Olá pai, olá mãe”
A PSP recebeu mais de 36.000 queixas de burla informática e nas comunicações nos últimos quatro anos, tendo este tipo de crime aumentado 20% em 2022, ano em que se destacou a fraude “Olá pai, olá mãe”.
No âmbito do Dia Europeu da Internet Mais Segura, que hoje se assinala, a Polícia de Segurança Pública indica que no ano passado registou 11.200 crimes de burla informática e nas comunicações, mais 20% do que em 2021, quando se tinham verificado 9.349.
Os dados da PSP mostram que este crime de burlas praticadas através de meios digitais tem vindo a aumentar desde 2019, quando se verificaram 6.758 queixas, passando para 8.706 em 2020 (mais 29%), “um aumento significativo” que coincide com o primeiro confinamento devido à pandemia de covid-19 e durante o qual a população fez compras através de plataformas digitais.
Aquela força de segurança precisa que, nos últimos quatro anos, registou 36.013 denúncias de burlas feitas através de meios digitais, frisando que constituem “um fenómeno criminal em crescendo”, em contraciclo com a tendência da criminalidade geral no país, que tem vindo a diminuir.
A PSP avança que no ano 2022 se destacou a burla “Olá pai, olá mãe”, mensagem escrita maioritariamente enviada através do ‘WhatsApp’, cujo número de ocorrências tem vindo a aumentar.
A polícia explica que, neste tipo de burla, a mensagem é enviada de um número de contacto identificável, apresentando-se como sendo o filho e geralmente é usado como abordagem que o telemóvel do filho avariou, ou que se perdeu, e que o contacto telefónico utilizado será o seu único contacto até reparação ou aquisição de novo equipamento.
A PSP acrescenta que, a partir desta abordagem inicial, o diálogo continua através de mensagens para dar credibilidade à história até chegarem ao propósito pretendido, que é solicitar a transferência ou envio por intermédio de plataforma de uma quantia monetária com a justificação de que se destina ao pagamento da reparação ou aquisição de um novo telemóvel ou pedido de empréstimo para liquidar uma despesa urgente.
Segundo aquela força de segurança, as ocorrências sinalizadas deste tipo de fraude registam-se por todo o país, com especial incidência nas zonas urbanas de maior densidade populacional, podendo as mensagens escritas manter-se durante horas e a chamada não é atendida quando a vítima tenta um contacto através de voz.
A PSP alerta as vítimas para que façam sempre uma chamada de voz, sendo “a primeira e mais rápida forma de prevenção e de despiste de que poderá estar a ser alvo de uma tentativa de burla”, para que liguem para o número original dos filhos e reportem a situação de imediato à polícia.
A polícia aconselha também para que não seja feita qualquer transferência de dinheiro e que seja feito um despiste de burla com perguntas simples.
A PSP vai assinalar o Dia da Internet Mais Segura com uma sessão no Comando Metropolitano de Lisboa, em Moscavide, destinada a mais de 30 idosos.