O premiado e, até há pouco tempo muito elogiado Mercado Cultural do Carandá, na cidade de Braga, vai encerrar, levando a que um projeto privado especializado nas áreas da Educação e Produção Artística, que ali está sedeado, tenha de fechar.
A O MINHO, o presidente da Câmara Ricardo Rio disse que “os serviços técnicos de obras concluíram que as infiltrações de água põem em risco toda a instalação elétrica tendo comunicado que a estrutura terá de fechar, aguardando-se que a Arte Total encontre um espaço alternativo, o que terá de suceder em breve”.
O autarca social-democrata reagia assim às críticas dos vereadores do PS na Câmara de Braga, que apontam “o incompreensível estado de degradação em que se encontra o Mercado Cultural do Carandá, um equipamento municipal que é referência arquitetónica e patrimonial nacional”.
“Este equipamento, que tivemos oportunidade de visitar, encontra-se num estado que deveria envergonhar uma cidade candidata a Capital Europeia da Cultura”, afirmam os socialistas Hugo Pires, Artur Feio, Sílvia Sousa e Adolfo Macedo no final de uma visita à Arte Total.
Foi feita no tempo de Mesquita Machado, projeto de Souto Moura
Sobre as críticas do principal grupo da oposição, Ricardo Rio diz que “a cobertura do Mercado tem problemas estruturais que derivam de uma obra de construção mal feita, no tempo da gestão do socialista Mesquita Machado, na base de um projeto do arquiteto Souto Moura, e que nunca foram reparados”.
“Vai-se fazer um estudo técnico para uma requalificação de fundo da estrutura, mas até lá, terá de fechar”, sublinhou.
Sobre o porquê de ainda nada ter sido feito para remodelar o Mercado, Rio afirma que “a intervenção na Arte Total estava sinalizada mas foi dada prioridade à elaboração dos projetos para outros equipamentos prioritários de cariz cultural como o Museu da Imagem, a Casa dos Crivos e o Centro Cultural Francisco Sanches”.
Requalificação premiada pelo IHRU e elogiada por vereador de Ricardo Rio
A estrutura foi projetada pelo famoso arquiteto e edificada entre 1980 e 1984, substituindo um mercado mais antigo. Mais tarde, voltou a ser reconvertido, também por Eduardo Souto Moura, e que valeu o principal prémio nacional de reabilitação urbana em 2012. Já no mandato de Ricardo Rio, em 2015, o então vereador do Urbanismo Miguel Bandeira afirmava que vinham arquitetos de todo o mundo “só para ver o Mercado do Carandá”, elogiando o resultado da requalificação.
O júri dos prémios, atribuídos anualmente pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), notaram que a reabilitação foi desenvolvido pelo autor do projeto inicial, considerando-o “um caso de estudo para os especialistas e para quem acompanha a obra daquele que é um dos mais reconhecidos arquitectos portugueses”, e que um ano antes tinha recebido o “Prémio Pritzker 2011”, considerado o ‘Nóbel da arquitetura’.
A ideia, explicou o arquiteto ao IHRU, era fazer “uma rua coberta”. A estrutura tem três parcelas e a manutenção, em ruína, dos respectivos pilares, pretende “testemunhar a pré-existência”, disse na altura da apresentação. “Quando há vinte anos projetei o mercado, a ideia era fazer uma rua coberta, um fragmento de cidade capaz de propor uma malha urbana. Essa malha aconteceu, aconteceu demais, e o mercado abafou entre escolas, discotecas e uma desenfreada especulação imobiliária”, sustentou, para justificar a necessidade de reconverter aquilo que o próprio havia criado.
“Há perigo”, diz o PS
Já os vereadores do PS são taxativos: “O edifício constitui, na realidade, um perigo para quem lá trabalha e para todas as crianças e jovens que o frequentam. Um perigo que se manifesta em infiltrações com consequências visíveis nos tetos, nas paredes, nos pavimentos e nas instalações elétricas. Um perigo que já provocou, no passado, um incêndio e que persiste. A própria qualidade do ar constitui, atualmente, motivo de preocupação para as responsáveis da Arte Total”, anotam.
Para os socialistas é incompreensível que o atual presidente da Câmara apregoe investimento avultados na cultura para a nossa cidade e, ao mesmo tempo, despreze os seus equipamentos e agentes culturais.
Os vereadores visitaram a Arte Total, uma estrutura de criação e de formação de públicos para a dança, um projeto cultural com cerca de 30 anos e que – assinalam – “é hoje, no panorama nacional, uma das raras estruturas, na sua área de ação, apoiadas pela DGArtes no âmbito do programa de apoio sustentado. No país, apenas 11 estruturas mereceram tal apoio”.
“A Arte Total apresenta um trabalho meritório e uma forte presença junto da comunidade”, acentuam.
Com Fernando André Silva.