O solo e as plantas no Minho estão a transpirar mais e ameaçam a qualidade do vinho

Foto: Divulgação / Adega de Monção

A região do Minho e de todo o Noroeste Peninsular, incluíndo Galiza e Trás-os-Montes, têm vindo a aumentar o registo de evapotranspiração do solo, levando a conclusões que podem ser alarmantes para os produtores do vinho verde.

O alerta foi deixado por João Santos, geofísico da UTAD, considerado um dos 1000 investigadores de alterações climáticas mais reconhecidos do mundo (foi a Reuters quem o disse aqui) adianta que a perda de água do solo por evaporação e a perda de água das plantas por transpiração tem vindo a aumentar e que essa subida traz “balanços negativos de água no solo e recorrentes situações de secas mais severas”.

O especialista falava no IV Congresso Transfronteiriço de Meteorologia e Alteração Climáticas, realizado no início deste mês de maio, em Arcos de Valdevez, evento que foi considerado “como um sucesso a vários níveis”, adiantou a organização em comunicado enviado a O MINHO.

O geofísico da UTAD aponta ainda que setores socioeconómicos importantes na região como a vitivinicultura (Vinhos Verdes), embora já se estejam a adaptar, terão “de continuar e intensificar este esforço nas próximas décadas”.

“Só desta forma será possível manter a sua sustentabilidade ambiental e socioeconómica”, alertou.

Ao todo, participaram 150 congressistas, “um recorde face às edições anteriores” com participantes vindos da Galiza (Vigo e Ourense) e territórios nacionais mais longínquos como o Alentejo, Lisboa, Leiria, Viseu, Aveiro, Porto, para além de várias localidades do Minho. 

Neste congresso foi certificada e oficializada a estação meteorológica do CCV de Arcos de Valdevez, equipamento certificado fará parte de uma rede integrada municipal de quatro estações meteorológicas (RIMEM), distribuídas geograficamente por ambientes microclimáticos diferenciados.

Quem também defendeu “medidas drásticas” para uma adaptação a “um novo clima na região” foi a investigadora da Universidade de Vigo, Susana Bayo, que é também apresentadora de meteorologia na televisão espanhola.

A especialista apresentou estudos dos anos 2021 e 2022 quanto a fenómenos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes na Galiza, vincando que os períodos de seca mais prolongados, as ondas de calor e invernos mais suaves são uma realidade inimaginável há décadas e que agora exigem medidas drásticas de adaptação.

Adriano Bordalo e Sá do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto explicou que o aumento da temperatura do ar, solos e água, períodos cada vez mais frequentes de secas, inundações e de tempestades, estão a aumentar a densidade de microrganismos, incluindo a dos patogénicos.

O investigador mostrou-se preocupado com as praias da região Norte, mesmo as de bandeira azul, onde têm sido detetadas no verão, uma grande, presença de bactérias altamente patogénicas, não abrangidas pelo controlo sanitário oficial.

Defende ainda a necessidade de mudar a mitigação do efeito das alterações climáticas, tendo em conta o conhecimento atual sobre o papel dos microrganismos de modo a serem desenvolvidos planos de proteção da saúde publica de forma integrada.

O presidente do IPMA, Jorge Miguel Miranda, referiu que os registos alarmantes deste ano 2023 com o mês de fevereiro mais quente de sempre e, o mês de abril com três ondas de calor são sinais que fazem antever um verão muito difícil e prolongado no tempo.

Adianta que os cenários previstos exigem uma responsabilidade acrescida dos comportamentos individuais, uma vez que as entidades públicas poderão não ter meios de resposta atempada.  

 
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