Artigo de opinião
Alexandra Sousa da Silva
Nutricionista na Unidade de DP da ULS Braga
Embora cada doença seja única e tenha um impacto diferente em cada pessoa, a transição para uma situação de doença acompanha-se sempre de novas exigências, conduzindo à necessidade de prestação de cuidados diferenciados.
A diálise peritoneal (DP) consiste numa técnica de substituição renal que utiliza o peritoneu como membrana semipermeável. Durante a diálise, a cavidade peritoneal serve de reservatório à solução de diálise, e a membrana peritoneal funciona como um filtro de transporte. Devido às alterações metabólicas e fisiológicas, os doentes em DP experimentam um conjunto de sintomas heterogéneos, principalmente na fase inicial de tratamento, que condiciona não só a capacidade de se alimentar, mas também de apreciar e utilizar esses mesmos alimentos. A todo este espetro sintomático intrínseco à doença associam-se ainda fatores externos que contribuem para o maior agravamento da sua condição física e psicossocial. A adaptação da alimentação do doente às suas necessidades específicas, o cuidado pelo ambiente onde as refeições são ingeridas, dietas pouco palatáveis ou recomendações alimentares exageradamente restritivas, são aspetos determinantes na ingestão alimentar do doente. E se não forem colocados na equação, conduzem mais rapidamente à instalação de um quadro de desnutrição precoce. Pelo que um cuidado alimentar e nutricional personalizado é fundamental.
Um dos maiores desafios relacionados com a prescrição do plano alimentar para os doentes em DP está na necessidade de fornecer proteína suficiente para compensar as perdas dialíticas de ácidos aminados essenciais, fornecer energia adequada de forma a evitar o catabolismo da massa magra e controlar a ingestão de fluidos. Para isso, a pessoa e a família deverão reconhecer a importância do equilíbrio hídrico, que deve ser feito de forma individualizada, e identificar as consequências do consumo excessivo de líquidos, agindo em conformidade.
Quanto às restrições alimentares de potássio e fósforo, que comumente acontecem quando o doente está em programa de hemodiálise, na DP existe uma maior flexibilidade nestes cuidados alimentares pelo facto de o doente realizar 3 a 4 ciclos por dia. Embora seja indicado manter os níveis de potássio e de fósforo sérico dentro da faixa de normalidade, a recomendação é individualizada e deve considerar-se a sua fonte alimentar. Deste modo a evicção de alimentos processados acaba ser uma boa prática, já que estes alimentos para além de apresentarem um valor nutricional menos interessante e serem muitas vezes ricos em sódio, contêm aditivos de fosfato e de potássio, que têm absorção intestinal mais alta.
Portanto, acima de tudo devemos estabelecer prioridades na intervenção alimentar, conhecer os hábitos e preferências do nosso doente, individualizar e motivar quer o doente quer a família, por forma a melhorar a sua adesão aos cuidados alimentares propostos.
No passado dia 06 de novembro, a Unidade de Diálise Peritoneal da ULS Braga, organizou o II Fórum de Diálise Peritoneal. A iniciativa decorreu no Auditório 1 do Hospital de Braga, e teve como objetivo promover a atualização de conhecimentos na área diálise peritoneal, reunindo profissionais de saúde para discutir evidências científicas e práticas clínicas, tendo ainda uma mesa redonda de partilha de experiências entre doentes.
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