Artigo de Vânia Mesquita Machado
Pediatra e escritora. Autora do livro Microcosmos Humanos. Mãe de 3. De Braga.
O ótimo é inimigo do bom, dizia-me na despedida uma das minhas manas de coração, meses sem trocarmos olhares e a amizade sempre em ponto de caramelo.
Noite de astronomia, os miúdos deliciados com os anéis de Saturno, Marte, a estrela dulpa, a estrela anã, as constelações, o pátio do Mosteiro a rampa de lançamento para naves espaciais imaginárias entre constelações da nossa Via Láctea…
Noite de Astronomia integrada no Programa Ciência Viva, no Mosteiro de Tibães, Braga
…O ótimo é inimigo do bom, talvez sejamos excessivamente intransigentes nas nossas relaçōes com os outros, a efemeridade humana explícita na nossa esperança de vida máxima a rondar os 100 anos, ridícula se comparada com uma estrela de meia-idade como o astrónomo explicava ser o nosso sol, e a outra metade da vida que lhe restava seriam 5,5 mil milhões de anos…
…O ótimo é inimigo do bom, os meninos entravam no carro e eu captava a imagem não do céu onde me perdi nessa noite, mas das luzes da cidade, sinais de vidas humanas que talvez ignorassem que a satisfação pessoal residia nas coisas simples, nos gestos de afeto, na demonstração de carinho, e não na grandeza exibicionista de bens materiais ou no parecer bem social de sorrisos plastificados.
E um dia tudo acabaria, o tempo esgotava o último grão da ampulheta, restando a memória dessas coisas simples, olhares e risos sinceros, formas humanas de expressar ternura, avivadas na lembrança e transformadas em carícias quando as mãos queridas já não existissem mais…
O bom seria suficiente, a perfeição impossível de atingir na interação entre nós, pessoas, mais valeria talvez aproveitar o tempo para viver, a sério, sem a obsessão pelo ótimo, saboreando o que era a cor dos dias, sem a exigência cega de que ainda fosse melhor, tanto para nós como para os outros…
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