Sou social-democrata convicto há mais de 20 anos e acredito que a social-democracia orientada para a justiça social e para a redistribuição de rendimentos é uma via justa, lógica e racional de levarmos o progresso a qualquer sociedade do mundo. Este é o meu cartaz preferido.
Não sou daqueles que se baralham entre social democracia e socialismo democrático, daqueles que querem transfigurar os valores das suas matrizes para lá meterem tudo o que justifique aberrações políticas como corrupção, austeridade ou empobrecimento. Talvez por isto se tenha verificado tanta asneirada com os cartazes eleitorais – essa pérola partidária tão dispensável.
São estas duas correntes ideológicas – a social democracia e o socialismo democrático – que governam Portugal desde o 25 de abril. Vivemos há demasiados anos uma profunda crise porque os valores fundadores destes 2 partidos têm sido recorrentemente adaptados para disfarçar os sucessivos falhanços políticos do País.
Os passos que foram dados não conduzem a uma verdadeira lógica de esforço nacional e logo a uma sociedade mais justa. Repito-o porque o primeiro elemento deste complexo sistema que deveria dar o exemplo, neste mega esforço nacional, deveria ser o Estado.
Como já anteriormente escrevi, o Estado tem um apetite voraz e não consegue emagrecer aquilo que seria desejável, ao ritmo desejável e na dimensão exemplar que todos esperávamos. Como consequência, quando o produto da economia traduzido nos impostos gerados não é suficiente para alimentar o tal Estado, aumenta-se a carga fiscal aos Portugueses, gera-se mais uma qualquer depressão económica e logo entramos num ciclo vicioso gerado por uma droga chamada de austeridade. Menos crescimento, menos impostos gerados e por isso sobem-se as taxas como se de um teorema matemático se tratasse. Foi isso que mais uma vez foi feito no início da legislatura.
Depois lá veio o crescimento baseado neste modelo de empobrecer para depois enriquecer. O curioso disto é que, ao fim de vários trimestres de crescimento económico, não somos capazes sequer de ter os níveis de riqueza nacional de há 8 anos atrás.
A social-democracia e o socialismo democrático não são nada disto a que assistimos hoje!
O que hoje temos pela frente é um desafio histórico que não pode ser encarado com esta doutrina que esquece a democracia, o humanismo e a justiça social. Temo que, se não mudarmos de rumo, em pouco tempo somos uma colónia de férias europeia.
Os que andam sempre com Sá Carneiro na ponta da língua são os primeiros a traírem o seu legado ideológico e a corromperem a imagem do PSD que tão acarinhado foi pelos Portugueses quando era liderado pelos valores e ideais do PPD. Não gosto do que vejo e não posso ficar acomodado à minha situação pessoal, perante o colossal deficit de capital político que hoje temos em Portugal. Sim, faltam-nos políticos.
Cada vez estou mais cansado de gente de chavões e anglicismos. De gente que apenas conhece o mundo do Facebook e do Excel. Gente que não desce à terra e não fala com a alma da gente. Gente que evidencia um nível de autismo saloio que já a ninguém convence. Gente que esqueceu que os modelos econométricos apontam tendências e nunca resultados!
O ar que se respira é pobre. E não é pela campanha eleitoral que já arrancou com as mesmas ladainhas de sempre. Não, não é por isso. É porque da direita à esquerda está tudo farto. O Povo (palavra que alguns tinham até vergonha de empregar) só está a defender a lógica da democracia através da simples afirmação da ausência de alternativa. Para os que pensam que as eleições legitimam tudo por uma legislatura, enganam-se. Os ciclos políticos são cada vez mais a sucessão dos anteriores, e dependem substancialmente de fatores exógenos às governações. Não compreender isto é teimar no mesmo erro destes 41 anos de democracia em que ninguém meteu realmente mãos à obra.
Continuo a confirmar também que, à volta dos nossos decisores políticos, gravita muita gente que não aporta qualquer valor e que não tem sensibilidade política alguma. Talvez por isso se compreenda o fracasso da política de comunicação do atual Governo mesmo quando empreendeu reformas importantes.
Também é verdade, por outro lado (o do exterior), que seria muito bom termos uma UE emancipada e não apenas instrumental. Sobretudo para pôr as peças no seu devido lugar. Falta uma visão europeia que nos aproxime de um modelo de desenvolvimento económico único. A coesão não se faz pela imposição de denominadores comuns mas sim pela reunião das sinergias entre os Estados, potenciando o que de melhor cada um tem para oferecer. É por isso que não duvido que esta ditadura germânica tem os dias contados.
A política de austeridade cega, feita por não-políticos, envolta em contestação social, inspirada em modelos germânicos que em nada se assemelham à realidade económica portuguesa e que apenas estão a eliminar, um por um, cada um dos agentes económicos, apenas nos conduzirá ao pior momento da nossa história de quase 900 anos.
Chamar os Portugueses ao desafio da nossa história passa por falar claro e mobilizar a Nação para ganhar de uma vez a sua autonomia financeira. Desde a fundação de Portugal (1143) tivemos sempre dependência externa: conquistas, colónias, fundos de coesão e intervenções do FMI. Em que períodos destes “quase” 900 anos vivemos apenas com aquilo que gera a produção interna? Deixo para reflexão.
Pensemos no que queremos ser como Nação em 2020, 2030 e seguintes décadas. Chegaremos a algumas conclusões do que poderemos ser e não do que gostaríamos de ter. Geraremos saldo orçamental positivo se formos sérios e se recortarmos de uma vez nas gorduras excessivas que matam qualquer organismo. O nosso colesterol há muito que rompeu os limites de uma vida saudável e sem nos apercebermos já passamos por algumas dezenas de micro-AVC’s. Se limparmos o organismo (leia-se o Estado) dificilmente que aquele vírus chamado de corrupção se interessará por este corpo e nos abandonará em definitivo.
Termino como comecei: sou social-democrata. Mas acima de tudo sou Português, tenho família e amo a minha terra.