O mesmo copo de água da torneira pode custar até sete vezes mais em diferentes concelhos do Minho, de acordo com os dados compilados no “Ranking da Água“, recentemente divulgado pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), onde são denunciadas situações de desigualdade em função das tarifas aplicadas pelas autarquias, em alguns casos com as famílias numerosas a saírem penalizadas. Em todo Portugal continental, o distrito com maior equidade é o de Viana do Castelo, só suplantado a nível nacional pelas regiões de Madeira e Açores.
Nesta 7.ª edição do Estudo Comparativo dos Tarifários de Abastecimento de Água de Portugal, apoiado pela Fundação Millenium BCP, foram analisados 308 municípios portugueses e teve por base o consumo diário per capita a 120 litros, considerando as componentes, variável e fixa do tarifário de abastecimento de água para consumo doméstico. Foram apenas considerados os tarifários familiares de aplicação universal e a análise baseou-se nos preços sem IVA incluído.
Esposende tem a água mais cara para famílias pequenas
As diferenças chegam a atingir proporções fora do normal. Em Terras de Bouro, uma pessoa que viva sozinha paga pelo consumo médio de água uma fatura mensal de 1,58 euros. Já em Esposende, a mesma pessoa pagaria 10,85 euros. O concelho do litoral é aquele, em todo o Minho, onde a fatura sai mais cara para famílias até dois elementos. A partir das três pessoas na mesma casa, a tarifa variável começa a diminuir, levando a que, apesar dos preços elevados, o município diminua a diferença em relação aos vizinhos de distrito. Em Esposende, uma família de cinco pessoas paga 21,92 euros/mês. Em Terras de Bouro paga 7,78 euros (três vezes mais, e não sete, como acontece com quem viva sozinho).
Diferença entre Barcelos e Braga daria para pagar mais meio ano de faturas
Barcelos surge como segundo concelho com menor equidade no Minho, depois de Fafe, diferenciando-se, por exemplo, do de Braga, que de entre os maiores, é o melhor classificado. Por ano, uma família de quatro pessoas que vive em Barcelos paga, em média, 244 euros (20,37/mês). Caso se mudasse para Braga (13,57 euros/mês), passaria a pagar 162, uma diferença anual de 82 euros (daria para pagar mais meio ano de faturas). A cidade do ‘galo’ é a mais cara do quadrilátero. Em Guimarães, a média da fatura mensal para um agregado de quatro é de 14,86 euros. Em Famalicão, quatro pessoas pagam 15,61/mês. Tanto numa como noutra – arredondando – são cinco euros a menos do que em Barcelos. Todos os meses.
Amares é o oitavo mais justo do país
De acordo com o relatório, é o concelho de Amares aquele com maior equidade nos valores praticados, considerando-o o oitavo mais justo do país. Na terra-natal de António Variações, uma família com cinco elementos até paga menos do que uma com quatro. Já sete pessoas na mesma casa pagam apenas três vezes mais que uma só. No outro lado da medalha está Fafe, o menos justo do Minho, e considerado um dos que menos equidade aplica no país.
Concelhos vizinhos, diferença abismal
Na região de Basto há um exemplo de concelhos vizinhos onde a diferença é acentuada. Uma família de quatro pessoas, a residir em Cabeceiras de Basto, paga 11,11 euros por mês (133/ano). Ao lado, em Celorico de Basto, para o mesmo número de pessoas, a fatura dispara para os 24,17 euros mensais (288/ano). Se pegarmos na calculadora, a diferença é de 155 euros por ano. Ou seja, só a diferença para o concelho vizinho daria para pagar mais que um ano de faturas em Cabeceiras de Basto.
A falta de equidade nos tarifários dos serviços básicos obriga a que a maioria das famílias pague mais à medida que vai tendo filhos ou à medida que o seu agregado familiar aumenta ao cuidar de pais ou avós, considera a Associação, a partir do estudo, assinalando que a falta de equidade também se verifica consoante o local em que as famílias vivem: famílias, dentro do mesmo distrito, podem, por exemplo, pagar até 14 vezes mais na tarifa fixa do serviço de abastecimento de água.