Artigo de Vânia Mesquita Machado
Humanista. Mãe de 3. De Braga. Pediatra no Trofa Saúde – Braga Centro.
Canção de embalar de um filho no Céu para os seus pais na Terra.
Uma homenagem a todas as crianças perdidas no Holocausto global da atualidade, sem escolher credo ou cor da pele, transversal a todos os povos de países em conflito armado.
Em 2018, foi quebrado o infeliz recorde de crianças mortas ou feridas na guerra, conforme os indicadores da ONU.
– Não chores minha mãe.
(Ou chora mais se te faz bem chorar)
– Não cales o choro meu pai.
( ou emudece o choro se te entristece chorar também)
– Não desesperem de tristeza
pode parecer longe agora,
por me terem perdido.
– Eu estou aqui a olhar por vós,
como olharam por mim
antes de me ir embora.
Ensinaram- me a ser forte,
antes de me levar a morte,
e vos deixar aí tão sós
com o coração partido.
– Aqui, o azul é a cor do céu.
Não existe vermelho sangue
vertido das nossas feridas,
perdido no nosso chão.
Nem cores pretas vestidas
Sinal humano de partidas,
(de filhos sem pais)
(de pais sem filhos)
Almas em escuridão de breu.
– Aqui,o silêncio é tão bom!
Não se ouve o som das bombas,
nem das balas
dos homens malditos.
– Vou-vos contar um segredo:
aqui, não sinto medo nenhum
como sentimos das sombras e dos gritos
quando fugimos de casa.
Não tremo nem me atormento.
Estou ainda protegido na tua asa pai,
E com a tua terna mão me embalas mãe.
Aqui, já não existe mais guerra,
como aí na nossa terra.
Aqui, será eterna a paz.
– Sou capaz de ficar sozinho
mais algum tempo,
e esperar pelo amanhã,
quando vierem a caminho
Papá, e mamã.
(Inspirada numa canção de embalar iídiche, escrita em placa comemorativa dos 60 anos da libertação das vítimas de Auschwitz no local onde, a 15 de junho de 2005, foi plantada uma oliveira, no âmbito de evocação promovida na Escola Secundária Carlos Amarante, Braga)
Vânia Mesquita Machado
03 agosto 2019