ARTIGO DE OPINIÃO
José Carvalho
Trabalha na área financeira como Controller de Gestão, ativista na área ambiental e escreve no Notícias de Famalicão.
No processo do Ginásio Supera, a Câmara de Braga falhou em tudo o que diz respeito à gestão da coisa pública e foi incapaz de entender a vontade do seu povo. Inábil para sair da caixa dos procedimentos administrativos, não soube, ou não quis, envolver os cidadãos na decisão sobre o futuro de um jardim. Decisão essa que (obviamente) se revelou um desastre e gerou polémica.
Com a arrogância de quem não é capaz de ouvir a quem serve, patrocinou a destruição de um raro espaço verde sobrante na malha urbana de Braga. Por troca deste jardim, é certo pouco qualificado (e talvez propositadamente pouco qualificado), teremos um caixote de betão com um ginásio dentro. Um terreno público, que devia servir a população e que foi desbaratado a favor de um negócio.
Só por si isto é um prato cheio, ou vazio, dependendo do ponto de vista.
Mas o assunto não se fica por aqui.
O terreno em causa é atravessado pela ribeira de S. Victor. Entubada, e mesmo que no Verão só corra um fio de água, a ribeira existe e não mora em Bruxelas. Como a natureza não se determina por decreto, nem por vontade da divina responsabilidade do executivo de turno na Câmara da cidade dos arcebispos, não vejo como uma linha de água possa desaparecer, salvo na possibilidade do Saara se ter estendido até ao verde Minho. O que não é o caso.
Impressiona a forma atabalhoada como o processo foi gerido. Nada sabemos em concreto sobre a questão da ribeira e sobre a aplicação das regras do domínio hídrico (10 metros, em ambas as margens, livres e acessíveis) pois da APA (Agência Portuguesa do Ambiente) nada diz – direta e oficialmente. Embora o seu alegado ventríloquo, a Câmara de Braga, papagueia argumentos técnicos, pareceres e putativos estudos patrocinados por si mesmo e para defender a sua causa. A chamada fórmula circular.
A câmara de Braga diz que a APA assumiu que a ribeira se esvaiu, sem nunca apresentar evidências de tal. Diz que disse. Numa ridícula cena de fuga para a frente. Numa confusa e aparente promiscua relação entre decisores, reguladores e promotores. A Câmara reescreve a geografia de Braga, apagando a memória e os factos.
Na distopia 1984, George Orwell conta-nos como um poder despótico controla tudo e a história é manipulada ao sabor das necessidades do momento, apagando os registos e reescrevendo tudo sempre em função da nova narrativa oficial.
Nunca a ficção me pareceu tão colada à realidade.
A obra avança, seguindo a habitual estratégia do facto consumado. Pois obra feita não vai abaixo. Veja-se o exemplo da Torre do Bom Sucesso.
E tudo isto é assunto porque um grupo de inconformados moradores da zona decidiu questionar a fundamentação técnica e contestar a obra. Não fosse o caso e a coisa passava de fininho.
E no final o que ganha Braga com isto? Feitas as contas menos de 2.000 € por mês (valor apurado pelo grupo de moradores com base nos elementos fornecidos pelo Município de Braga).
Juro que não percebo! Atropelar tanta coisa por este valor miserável, não parece ser coisa de gente com juízo, quanto mais com sentido da causa pública.
Para finalizar, partilho a minha comoção pela forma empenhada como a Câmara assume a promoção do Yoga e do Bodybuilding na cidade de Braga! É fraco consolo, mas é o que temos.
José Carvalho – Trabalha na área financeira como Controller de Gestão, ativista na área ambiental e escreve no Notícias de Famalicão.