O espectro da corrupção na democracia em Portugal

O espectro da corrupção na democracia em portugal
João Ferreira Araújo. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

ARTIGO DE OPINIÃO

João Ferreira Araújo

Advogado

Nos últimos meses a classe política tem sido fustigada por casos de suspeita de atos de corrupção, praticados no exercício de funções públicas e que já provocaram a queda de dois governos, o Governo Nacional e o Regional da Madeira, respetivamente.

As consequências reputacionais para o país são imensas e a perceção criada na opinião pública é devastadora para a classe política.

É esta perceção sobre corrupção da sociedade portuguesa que poderá, em última instância, colocar em crise os alicerces da nossa democracia, alimentando o crescimento de partidos da extrema direita. 

Urge implementar políticas de controlo da corrupção eficazes e que perpassem demonstram para a opinião pública uma vontade efetiva e real de resolver este estado de coisas.

A posição de Portugal no índice internacional de avaliação da perceção sobre a corrupção está estagnada desde 2012.

Nada tem sido feito para alterar o status quo.

Acontece que a corrupção é a principal causa do atraso do desenvolvimento e da prevalência de desigualdade económica e social em Portugal, afastando, inclusive, o investimento estrangeiro no país.

Atualmente, estima-se que os comportamentos corruptivos equivalham a 8% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, cerca de 18 mil milhões de euros, uma enormidade!!!

Aliás, estes números não nos devem surpreender assim tanto, já que o organismo denominado GRECO, criado no seio do Conselho da Europa para monitorizar a prevenção e o combate à corrupção, afirma que apenas cerca de 7% das medidas anticorrupção recomendadas por este novo organismo tinham sido implementadas por Portugal.

Parece que o legislador nacional se recusa, pura e simplesmente, a prevenir de forma frontal a corrupção em Portugal.

Em vez de inovação institucional para combater a causa número um do atraso no desenvolvimento e da prevalência de desigualdade económica e social em Portugal, o que os líderes partidários nos oferecem é uma resistência à mudança, como não se vê noutro país da União Europeia.

A Transparência e Integridade Portugal, avaliou e estratégia nacional 2020-2024 no combate à corrupção apresentada pelo Governo como “vaga, insegura e acanhada, excessivamente legalista e muito pouco ambiciosa”.

O Estado nunca promoveu ou executou uma avaliação integral e multi-institucional do conteúdo dos organismos que poderiam constituir, no seu todo, um sistema de transparência e integridade nacional.

Aliás, este estado de coisas tem vindo a ser denunciado por altas figuras do Estado, concretamente pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Juiz-Conselheiro Henrique Araújo, que abordou o tema da corrupção instalada no país, em cerimónia recente.

Portugal tem genericamente um problema de clientelismo e de compadrio, a que se associa um quadro legal pouco claro e transparente das normas que regulam este tipo de comportamentos. 

A tudo isto acresce ainda uma justiça lenta e morosa na apreciação dos casos que vão sendo investigados, demorando anos e anos a sua tramitação processual, muitas vezes sem fim à vista, como no designado Caso Sócrates.

O sentimento de que vale a pena prevaricar permanece enraizado em certa classe política portuguesa.

Sem darmos passos decisivos e consistentes no combate à corrupção não avançaremos enquanto sociedade mais justa, desenvolvida e equilibrada.

 
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