ARTIGO DE BRUNO GUTMAN
Advogado. Membro do Conselho Diretor da FUNCEX EUROPA.
As relações entre Portugal e Brasil estão, há demasiado tempo, estagnadas e limitadas ao âmbito comercial e, em menor parcela, cultural. O desporto, por sua vez, não ocupa qualquer espaço na agenda da relação bilateral e, assim, perde-se uma grande oportunidade de aumentar a integração entre os dois países e, consequentemente, de se aproveitar o viés económico advindo dessa atividade.
Nos últimos 40 anos, houve uma grande profissionalização do desporto em todo o mundo. As diversas modalidades desportivas, e não somente o futebol, passaram a ser vistas como atividades impulsionadoras da economia, com a criação de empregos, venda de produtos, comercialização de direitos televisivos, realização de grandes eventos, dentre outros.
Há uma inegável importância económica do desporto, que não pode ser menosprezada ou direcionada, apenas, para a modalidade do futebol. O maior exemplo, nesse caso, vem dos Estados Unidos da América, que consegue dinamizar a economia local com as diversas modalidades desportivas e categorias, especialmente no desporto escolar e no desporto universitário. Somente a liga de desporto universitário (NCAA), que congrega 24 modalidades, obteve uma arrecadação financeira de 1,16 mil milhões de dólares no ano fiscal de 2021.
Brasil e Portugal são países que ainda concentram as suas forças no futebol profissional e deixam de aproveitar e de desenvolver as outras inúmeras modalidades desportivas, não apenas no âmbito económico, mas, também, no âmbito social. Deixa-se de ganhar dinheiro, de promover a prática da atividade física e de assegurar melhor qualidade de vida a toda a gente.
E, talvez, a melhor forma de fomentar e promover as diversas modalidades seja através de um programa de relacionamento bilateral entre os países, direcionado especificamente para o desporto.
Como exemplo, pode-se promover ações de intercâmbio entre as federações desportivas, os seus atletas, árbitros, enfim, entre todos os agentes de determinada modalidade, não apenas com a realização de atividades desportivas, mas de workshops e simpósios para tratar de regras, de novas metodologias, de tratamento médico para lesões específicas, dentre muitas outras possibilidades.
Deve-se realizar, também, eventos e campeonatos luso-brasileiros e, até mesmo, Ibero-americanos, com a inclusão da Espanha nessa relação de forma a potencializar os programas.
Como resultado dessas atividades, cria-se uma dinâmica para as modalidades desportivas que não sejam o futebol, integra-se melhor a cultura entre os países irmãos, incentiva-se a prática desportiva entre os cidadãos e, por óbvio, dinamiza-se o turismo e a economia local.