Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.
Em 1886, ano em que é inaugurada a Ponte Internacional sobre o rio Minho, entre Valença do Minho e Tui, a Linha do Minho conhece ali o seu término. Porém, queria a vontade dos homens que ela prosseguisse por Monção até alcançar Melgaço – devido à presença das termas e de uma agricultura abundante – todavia, o destino tinha outros planos.
A vila de Monção familiarizou-se com os comboios ao longo de 74 anos, numa história que se inicia com a chegada da primeira locomotiva a vapor à pitoresca freguesia de Lapela, em 1913. E, logo de seguida, em 1915, o comboio alcança a vila de Monção, cuja efeméride se viveu com pompa e circunstância, tal era a necessidade de progressos, em particular, no que a meios de transporte diz respeito.
O designado “Ramal de Monção”, contemplava uma extensão aproximada de 16 km, cortando as freguesias de Ganfei, Verdoejo e Friestas, pertencentes ao concelho de Valença do Minho, e as freguesias de Lapela, Cortes (Senhora da Cabeça) e Monção, pertencendo, respetivamente, ao concelho desta última.
Em 1989 o Ramal de Monção é desativado, deixando as gentes da região entregues a um marasmo que julgavam extinto, mas que a vontade dos homens quis perpetuar.
Há agora um mural alusivo a uma das últimas locomotivas a transitar naquela vila, Obra de Arte do artista Vile, inaugurada este mês de abril.
A ferrovia faz parte do património cultural imaterial e material da região, onde se perpetuam o Depósito de Água que abastecia as locomotivas a vapor, a Estação Ferroviária, bem como o antigo Cais de Mercadorias e todos os Apeadeiros até Valença do Minho. Nesse sentido, perpetua-se no imaginário de muitas das suas gentes o silvo das velhas locomotivas a vapor e o fumo que toldava a atmosfera, e toda a azáfama em torno desses avanços da ciência e da técnica.
Não será encargo difícil perceber as vantagens desse meio de locomoção, em particular no atual paradigma que o país vive, mercê de uma intensa procura turística, cujos benefícios seriam imensuráveis se se tivesse mantido e expandido a ferrovia até Melgaço e outras regiões. Não querendo desviar-se da regra, Portugal primou nas últimas décadas pela decapitação do progresso, não apenas nesta matéria, como em muitas outras, onerando as gerações presentes e as vindouras, e num total desrespeito pelos esforços operados pelos seus arrojados antepassados.
Monção a ver comboios,
fugirem da sua alçada.
Apeando as esperanças,
dessa gente abençoada.
Entre o Minho e a Galiza,
muito há que diferenciar.
Os galegos têm comboios,
e nós ficamos a definhar.
Observando a pintura, há um homem que quer entrar, mas a porta não se abre, pois, é obra do imaginar. Até parece verdadeira a locomotiva ali parada, mas como a porta não se abre, o pobre homem insiste, numa postura inconformada.
Na Avenida D. Afonso III, excecionalmente requalificada, tudo ficou mais airoso, sem que assim fosse imaginada. Um bem-haja à Câmara Municipal, cujas políticas urbanísticas fazem ver Portugal – com tanto a ser desprezado e esquecido – como o nosso património industrial ferroviário, que em Monção é protegido.