A bracarense Catarina Marques é neurocirurgiã na Suécia, onde faz o doutoramento na especialidade, mas tem uma segunda paixão: declama poesia.
“ENQUANTO” é o nome do álbum de poesia cujo pré-lançamento ocorreu em outubro na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga. Foi acompanhada à guitarra clássica por André Teixeira, à guitarra portuguesa por João Martins e a apresentação foi da Ana Araújo.
Neste álbum, Catarina inseriu textos de alguns dos seus poetas preferidos mas “não esqueceu aqueles que, sendo ainda desconhecidos, lhe tocaram a sensibilidade e o coração”.
Na casa dos seus pais, os advogados Artur e Mané Marques, ouvia-se, entre outros, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Chico Buarque, Jacques Brel, Édith Piaf. Recitava-se poesia e a literatura, a par com as artes plásticas, entrelaçavam-se naturalmente na vida familiar. Daí o gosto pela poesia.
Catarina escolheu poemas daqueles que mais a tocaram desde a infância e que aprendeu a amar, por lhe falarem das liberdades, da condição feminina e das tenebrosas condições de vida e da censura. Disso são exemplos a “Calçada de Carriche” (“…Luisa sobe, sobe a calçada…”), de António Gedeão e “A Defesa do Poeta”, de Natália Correia.
António Gedeão, poeta maior, que conheceu na adolescência e que muito a impressionou através do poema “Anti-Anne Frank”, é um dos seus preferidos, dele retirando o título “ENQUANTO” .
ENQUANTO
“ENQUANTO” tem várias faixas nas quais diz poesia de, para além de Gedeão e Natália, António Machado, Armindo Rodrigues, Jorge de Sena, José Régio, José Saramago, Manuel Alegre, Mário de Sá-Carneiro, e Pedro Barroso, poetas que preencheram o século XX.
Mas não esqueceu jovens e/ou desconhecidos, como Carolina Mangana Monteiro, jovem autora do livro “Há quem escreva poesia”, que escreveu o poema “Portuguesa”, onde fala da saudade e da portugalidade com notável sentimento. Também José Leal de Loureiro, amigo e colega, a tocou com o notável poema “Alienis”.
A seleção dos poemas revela os traços que definem a mulher por detrás da intérprete, que pretende “apelar a que tenhamos o arrojo de olhar noutro sentido, mais amplo que aquele do quotidiano. Olhar para a fraternidade, para a procura da justiça, não apenas como um ideal mas sobretudo como uma prática, o que podemos fazer olhando as ruas e as gentes, onde se concentra o mais simples e terno lirismo, degustando esta vivência diária com vagar, pois “a poesia”, como Natália Correia imortalizou, “é para comer!”.
Catarina Marques nasceu em 1969. Cresceu em Braga, onde estudou na Escola Calouste Gulbenkian e completou, mais tarde, a especialidade médica de Neurocirurgia. O CD estará disponível dentro de dias.