“Não sou o Barroso, mas estou a ficar Durão”, diz Chico da Tina na música “Intro”, um eurofunk que ‘rasga’ ao som de batida e sample como se o Mr. Catra estivesse a tocar Fur Elise, de Beethoven. Esta é uma das muitas ‘dicas’ da nova produção do músico de Viana do Castelo, a “Eurotape”, lançada no Dia da Europa, na terça-feira, em conjunto com o rapper português tripsyhell.
Promover a cultura e a união dos povos
Na primeira das sete músicas da mix-tape, Chico situa o ouvinte no espaço e no tempo, lembrando que é o Dia da Europa e que este novo trabalho é “um projeto que visa promover as diferente línguas e culturas da União Europeia”, onde “vários povos, identidades culturais” estão “unidas num só terreno geográfico”. Yeah. Depois regressa ao modo Chico com um “Todas querem vir aqui ao papi”.
Eurodance ‘stunk’ ‘stunk’
Por entre os sete temas apresentados através do YouTube, destaque para dois videoclipes – “Fada”, uma novidade no repertório de Chico, com uma clara aposta no ‘stunk’ eletrónico, um verdadeiro hit de ‘eurodance’ para uma “eurotape”. E “Eu não tenho culpa”, um registo que agradará mais aos puristas fãs do ‘trapstar’ do Alto Minho onde o ‘sample’ de Mozart nos invade os tímpanos enquanto podemos apreciar a desenvoltura poética típica de Chico.
(Chico da Tina) Eu não tenho a culpa mano de não teres swag (tripsyhell) Eu não tenho a culpa de não fazeres sucesso (Chico da Tina) Eu não a culpa da erudição do meu verso (tripsyhell) Eu não tenho a culpa do que tá dentro da bag (Chico da Tina) Pós-graduado em química, esse é o meu flex (tripsyhell) Eu tou a fumar aquele que deixou o Pedro Alex (Chico da Tina) Tou tipo D.Afonso Henriques em São Mamede (tripsyhell) molly, ritalina, Victan, Voltaren (Chico da Tina) uh sou um piratinha tenho uma perna de pau comi a avó e o Capuchinho sou um lobinho mau gosto de gelado de bolacha de limão e cacau gordinho como Fernando Mendes, simpático como o João Baião (tripsyhell) Eu tou a fumar aquele que deixou o Fábio Coentrão Fiz um scam ao meu banco mano isso foi tão bom Passei na frente do meu hater as notas caíram no chão Tu vais ficar careca, cabeça de colhão (Chico da Tina) José Figueiras inocente tá sem ordem de prisão no ataque às torres gémeas o José não teve mão prendam os criminosos, o José Figueiras não o Tripsy tá a fumar aquele que deixou o Diogo Cão (tripsyhell) Eu tou a fumar aquele que deixou o António Feio Eu tou a fumar aquele que pôs o António Carneiro Eu tou a fumar aquele que deixou o Coutinho Ga-Gago Eu tou a fumar aquele que manteve o Sérgio Calado (Chico da Tina) No nosso show vai tudo abaixo é o terramoto de Lisboa (tripsyhell) Tou tipo D.Manuel I a minha bitch é memo boa (Chico da Tina) Vou tipo Fernando Pimenta, apanhei algas na canoa (tripsyhell) Eu tou a fumar aquele que fez do Fernando Pessoa (Jacin Trill) Eu não tenho culpa you know i dont care Eu não tenho culpa you know that i dare Eu não tenho culpa your bitch goes to far Eu não tenho culpa you know that i stare She wanna be nasty put my thumb in her ass leanin again but still going fast geeking again on a LSD star She tells me to go deeper but i can’t reach that far
Quatro anos de “Trapalhadas”
Chico da Tina estreou-se com o EP “Trapalhadas” em 2019 e no mesmo ano lançou o primeiro longa-duração “Minho Trapstar”. Os seus vídeosclipes no YouTube contam com centenas de milhares de visualizações, que fazem dele um dos maiores sucessos da música emergente.
O músico minhoto ganhou maior visibilidade após ganhar o Prémio de música realizado pelo festival Mimo de Amarante, em 2019.
Fortemente influenciado pelos sons e vivências do Minho, criou uma combinação inédita entre o trap (subgénero do rap), a concertina e as gírias regionais, unindo a tradição e a modernidade.
“É uma proposta meta-irónica do trap subvertido ao linguajar e costumes do universo minhoto. No entanto, para além desta colagem estética entre dois polos que à primeira vista poderiam ser opostos, há um atrevimento lírico que se pretende afirmar pelo desafio ao politicamente correto e aos limites da linguagem que ultimamente se têm vindo a estreitar”, refere a sua descrição na página do festival Mimo.