Adão Henrique Pizarro foi empresário “toda a vida” e sempre se envolveu na vida pública, principalmente ao nível das coletividades. Foi presidente da Associação dos Bombeiros Voluntários de Guimarães, de onde saiu demitindo-se, num processo polémico. Desde o 25 de abril de 1974, reconheceu-se politicamente como próximo do PSD. Nos últimos anos abandonou a vida empresarial, depois de ter chegado a ter 900 funcionários. Recolheu à sua propriedade, onde cria galinhas e trata das árvores de fruto. Diz-se impelido para esta corrida eleitoral pela “vontade de ver cada vimaranense com um sorriso no rosto” e fala recorrentemente dos três filhos e do futuro que deixamos às novas gerações.
O que é que é que o leva a candidatar-se a presidente da Câmara de Guimarães?
É um sonho que já tenho há muitos anos. Estive sempre ligado à política, desde o 25 de Abril. Estive ligado às associações culturais e desportivas, tive sempre um interesse enorme pela sociedade e não descanso enquanto não vir um sorriso no rosto de cada vimaranense. Vivo numa cidade onde a depressão é continua e permanente, onde a tristeza tomou conta das pessoas. Onde os nossos jovens, cada vez mais, emigram para fora porque não têm condições para viver aqui. Temos um presidente de Câmara que diz que ‘é muito bom viver em Guimarães’, mas isso é demagogia. Tenho três filhos, um é engenheiro, trabalha em Famalicão, no centro de Nanotecnologia, ganha 900 euros e não sabe se vai ficar efetivo agora em setembro e paga 450 euros de renda num apartamento T1. O meu filho do meio, é neurocientista, não tem trabalho em Portugal, teve que emigrar. Já o mais novo, é formado em administração pública e não tem trabalho na área porque não tem padrinhos nem madrinhas. Anda a trabalhar como ajudante de serralheiro, dignamente. Temos que deixar a demagogia que este Partido Socialista tem feito nos últimos 32 anos. Dizem que se preocupam muito com os jovens, mas todos os dias eles saem daqui para fora, porque não tem condições para cá viver
“Como português tenho vergonha de ver pessoas a ganharem pouco mais de 600 euros por mês”
Diz que está ligado à política desde o 25 de abril, mas o Chega é um partido recente. Como é que se aproximou do Chega?
O Chega ainda bem que nasceu. Ainda é uma criança que temos que acarinhar, estou convicto que se conseguirmos um bom resultado, a nível nacional, nas autárquicas, vamos definitivamente cimentar este partido. Um partido de direita, cuja essência é a família. Porque, ao contrário do que pretendem os socialistas, é a partir da família que se constrói a sociedade. Os socialistas querem dominar a sociedade, dominar a família, dizer-lhe como é que têm que viver. O Chega pretende o contrário. Queremos promover a família, porque é através dela que a sociedade se vai desenvolver. São as famílias que têm que dizer ao Estado: ‘nós queremos isto’. Eu fui sempre do PSD, já fui convidado, em outros anos, para avançar por outros partidos e nunca aceitei. Eu sou um conservador e é neste âmbito que eu me revejo. Não consigo perceber como é que o nosso Governo, sempre que há uma confusão lá fora, está pronto para trazer emigrantes para cá, quando não tem trabalho para os que cá estão.
Como é que responde ao argumento de que há indústrias em Portugal que não conseguem encontrar mão-de-obra?
Não é verdade. A verdade é que ninguém gosta de trabalhar sem ser recompensado. Como português, tenho vergonha de ver pessoas a ganharem pouco mais de 600 euros por mês e a levarem para casa, depois de descontos, à volta de 500 euros. Assim não têm mão-de-obra, as pessoas preferem estar no fundo de desemprego. É preciso aumentar salários para as pessoas poderem ser felizes. O Governo quer trazer emigrantes porque eles depois ficam aí de mão estendida e é mais uma quantidade de votos para o PS.
Qual é o principal problema que vê em Guimarães? Aquele que, se for eleito presidente vai atacar logo, desde o primeiro dia.
Uma das coisas principais é que na minha terra ninguém passe fome nem durma ao relento. Mas quem come tem que trabalhar. Não vai haver ninguém sem trabalho, porque há valetas para limpar, há montes para limpar, há muito que fazer. Vai-se por aí e vê-se bêbados, arrumadores de carros…. Temos que atacar este problema. O segundo problema, que faz parte deste, é a “autoridade”. A autoridade tem que ser respeitada. Temos que pegar nesta gente que está semi-abandonada e ensiná-la a viver. Criar uma quinta pedagógica onde essas pessoas possam aprender a criar galinhas, coelhos, cabritos, a fazer uma horta… A fazerem alguma coisa para que possam comer.
Como é que avalia a reação da Autarquia à pandemia? O que é que teria feito diferente?
Nós [na Autarquia] não temos gente que pensa, temos gente que reage. Não há aqui ninguém com ideias próprias, reagem ao que vem de lá de baixo [do Governo], ou andam a ver o que se faz noutros lados, mas não são capazes de criar nada. O Partido Socialista é um núcleo muito fechado de pessoas que sabem que, se mantiverem tudo na mesma, ganham eleições. Nós acabamos por ser vítimas do processo, porque fomos reclamar apoios para as empresas familiares, nomeadamente a restauração e a hotelaria. Numa pequena manifestação na qual participamos, em solidariedade com estas pessoas, acabamos identificados e tivemos que ir à polícia dar explicações. Há um desespero muito forte, um desânimo por parte dos empresários e não vimos nada que a Autarquia fizesse. Tudo o que foi feito, foi a nível nacional.
“O Ricardo Costa que tinha uma dinâmica, mandaram-no embora porque estorvava”
Transporte, mobilidade, habitação, economia (emprego), são temas que normalmente ocupam o debate eleitoral. Pegando num destes temas, que lhe seja mais caro, o que é que tem a dizer aos vimaranenses?
A habitação mexe muito comigo, pelas razões que expus logo no início desta entrevista. O problema da habitação é que as casas que estão a ser construídas são para preços que impossibilitam que qualquer jovem se envolva no aluguer ou na compra. Ficam em casa dos pais, porque não podem viver de outra maneira. Preocupa-me a juventude. Temos, por este concelho fora, em tudo quanto é prédio, seguramente duas mil lojas a emporcar prédios. Sugeri que a Autarquia tivesse o bom senso de propor aos proprietários de lojas que estão ao abandono, desabitadas, que alterassem a sua função. Isto é, essas lojas seriam transformadas em T0, T1, T2, logo que as condições técnicas do edifício o permitissem. Iria dar-nos um arranque em que rapidamente poderíamos ter habitação para os nossos jovens começarem uma vida.
O Município é bom a licenciar supermercados, ainda agora vai nascer mais um. É preciso uma bolsa de terrenos para colocar casas pré-fabricadas, topo de gama. Hoje, há empresas que colocam estas casas – T2, T3 – 60, 70, 80 mil euros e um jovem poderia pedir um empréstimo para uma casa destas.
O pouco de bom que havia na Câmara foi expulso. O Ricardo Costa que tinha uma dinâmica, mandaram-no embora porque estorvava. Esta Câmara consegue fazer asneira diariamente e depois, se não está bem, volta-se a fazer. Por exemplo, a ligação à autoestrada: uma obra daquela dimensão que foi pensada estudada, agora não funciona, não faz mal, somos nós que pagamos. Estamos cansados!
Notei que se tem referido às obras na rua Padre António Caldas (junto às bombas da Cepsa do Castelo). Acha que a demora na conclusão das obras é para fazer coincidir a inauguração com o momento eleitoral?
O presidente de Câmara ainda não decidiu de que cor vai ser o granito que ali vai ser colocado, por isso, ainda não fizeram os passeios. Estão a falir umas bombas de gasolina que têm cinco ou seis funcionários. É uma vergonha. Mais do que a questão eleitoral eu acho que é palermice. Esta gente primeiro rebenta e depois é que vai ver o que fazer. Veja a rua D. João I, tudo quanto eram pequenos negócios foram à vida. Vão fazer teatros jordões para quem? Não vamos ter gente!
“Se eu não tirar a maioria ao PS, retiro-me da política e vou-me dedicar à agricultura”
O que é seria um bom resultado para o Chega, em Guimarães?
Sinto um desacreditar da cidade. Se eu conseguir levar a votar aqueles que normalmente ficam em casa… Não nos podem dizer que somos iguais aos outros porque nós nunca passamos lá. Deem-nos uma oportunidade, é isso que eu peço às pessoas de Guimarães.
Mas, ainda não disse, o que é que seria um bom resultado?
Ah! (riso) Um bom resultado seria ganhar. Tenho consciência que será muito difícil. Vivemos numa cidade em que o Partido Socialista tem tudo minado. As pessoas, mesmo quando estão connosco, têm receio de dar a cara. Tenho esperança que as pessoas acordem. Muito sinceramente, se eu não tirar a maioria ao PS, retiro-me da política e vou-me dedicar à agricultura.
Estaria disponível para acordos depois das eleições?
No Chega vamos sozinhos para tudo. Se, porventura, nos apresentarem um projeto nós analisaremos se é benéfico para a nossa população. Não estamos preocupados com acordos. Tem que haver flexibilidade porque a cidade tem que ser governada.
Os partidos mais tradicionais têm aquilo a que se chama um “eleitorado”. O Chega vai pela primeira vez a eleições autárquicas – sem eleitorado –, a quem é que pensa que o partido vai tirar votantes?
Tenho a certeza que vai tirar votos a todos os partidos da direita à esquerda. Tenho gente do PCP e do Bloco que vai votar no Chega, muita gente do PS vai votar no Chega para a Câmara. A maioria das pessoas do PSD e do CDS vai votar no Chega. O PSD está muito desacreditado em Guimarães. O líder do PSD é alguém que vem da jota, que não sabe fazer nada. O Bruno Fernandes está mais interessado nas legislativas para ir lá para baixo, para perto dos amigos dele.
A melhor frase para rematar é aquela que o João Pinto tornou célebre: “prognósticos só no fim do jogo”. Nós vamos de casa em casa, numa campanha barata, mas arrebatadora. Temos um outdoor e foi destruído…
Porque é que não reparam o outdoor? É uma mensagem política?
Porque não temos dinheiro para o fazer. Se aparecer alguém que tenha dinheiro, nós não temos! Eu gostava que investigassem os valores que estão envolvidos nos outdoors espalhados pela cidade, do PS e do PSD. É uma vergonha! Ou já estão falidos ou vão falir uma série de empresas, porque eles vão chegar ao fim e não vão ter dinheiro para pagar.
O Chega é frequentemente relacionado com ideais racistas e xenófobos. Como é que se posiciona relativamente a estes comentários e de que forma é que isto afeta a sua campanha?
As críticas normalmente são quatro: dizem que somo racistas, xenófobos, que queremos acabar com o SNS e com o ensino público. É exatamente o contrário. Nós não somos racistas, nem xenófobos (escreva isto com letras bem grandes), o que queremos é que os outros tenham os mesmos direitos que eu: que trabalhem e paguem impostos. Direitos e deveres iguais, quem tiver dúvidas pode ler o nosso programa.
Também somos acusados de ser homofóbicos, de ser contra as lésbicas e os gays… Nós aceitamos e reconhecemos a diferença, mas não a promovemos, como a esquerda faz. Se os promovemos deixamos de ter crianças.
Nós somos a favor do SNS. Imagine que eu tenho uma intervenção que tem que ser feita, se o SNS não a pode fazer, porque não tem vaga, transfere para mim as verbas que ia gastar e eu vou a um serviço privado fazê-la na hora. Qual é problema? Isto é acabar com o SNS, ou é acabar com as mordomias dos donos do SNS? Nunca vamos conseguir baixar impostos sem reduzir os custos. Há serviços que sairia mais barato ao Estado pagar a um privado do que prestá-los diretamente.
No que toca à educação, se eu for presidente de Câmara todas as EB 2/3 terão uma oficina de carpintaria, serralharia, eletricidade e pichelaria. Todos os alunos, rapazes e raparigas, têm que saber o que é uma chave de fenda, um alicate de pontas, ser capazes de pregar um prego ou de trocar uma lâmpada.