Neste Artigo
ARTIGO DE OPINIÃO
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Mário Coelho
Engenheiro e membro da Iniciativa Liberal
Ponto de partida
Nos últimos dias temos assistido a um vasto leque de manifestações de nacionalismos. Como diz o famoso genérico, “em casa, no carro, em todo o lado”, somos bombardeados com notícias que nos induzem a crer que o mundo está perdido.
Parece que o tema, e o medo que gera, se tornaram omnipresentes, inevitáveis e, pior que tudo, sem solução. Mas nada temam.
Se o nacionalismo exacerbado é uma cebola, a solução existe e até já lhe sinto o cheiro.
O caso – onde está o nacionalismo exacerbado?
Na verdade, é mais do que um caso. Aqui ficam alguns exemplos de diferentes formas de nacionalismo que temos visto nos últimos dias.
- Comecemos pelo discurso do vice-presidente dos USA em Munique, onde mais uma vez veio reforçar a posição isolacionista dos Americanos e o virar de costas aos aliados de sempre.
- Depois tivemos o caso da desagregação das freguesias que, ao fim destes anos todos, concluíram que afinal estão melhor separadas.
- Mais recentemente, tivemos o caso da forma como uns e outros terão ou não reagido ao falecimento de Pinto da Costa.
Naturalmente que poderia elencar mais casos, mas já temos aqui uma boa tripla para ilustrar o cenário. Um nacionalismo mais global, outro mais local e outro mais emocional. Parece o início de uma anedota, mas sem graça alguma neste caso.
O nacionalismo é uma cebola
Com toda a certeza, esta teoria tem um nome qualquer mais elegante, atribuído por quem estuda estas questões. Eu gosto desta analogia da cebola, por ser muito fácil de explicar.
- Na camada do meio da cebola está a minha família. As que estão fora, não prestam.
- Na camada seguinte, a única freguesia boa – a minha. As outras não prestam.
- Na camada seguinte, a minha cidade – a melhor. As outras não prestam.
- Na camada seguinte, o meu país – o melhor do mundo. Os outros não prestam.
Certamente que já deu para perceber a lógica da coisa.
Eventualmente, o que talvez não tenha ficado claro é que, quando o nacionalista está numa camada, o seu nacionalismo é válido também para as camadas abaixo. Explicando, agora de forma mais rápida.
- Na camada do país, todos os meus concidadãos são excelentes, independentemente da sua cidade.
- Na camada da cidade, pessoas de todas as freguesias são excelentes também.
- Na camada da freguesia, todos são os melhores fregueses.
- Imagine-se que, até na camada da minha família, todos são espetaculares!
Mas se o nacionalismo exacerbado é, afinal de contas, uma cebola, o que fazer com ele? Fácil. Pica-se bem picadinho e usa-se para fazer um estrugido. O segredo aqui, como em qualquer bom cozinhado, é saber como tratar os alimentos – a cebola, no caso.
A faca do liberalismo
O liberalismo defende, tal como o nome permite antever, pessoas livres, mercados livres, sociedades livres e cidadãos livres. Ou seja, e voltando à teoria da cebola, o liberalismo pode ser a faca que corta as diferentes camadas da cebola dos nacionalismos e permite que, pela via da liberdade de cada indivíduo ser o que quiser e se realizar como bem entender, sejamos todos uma mesma camada – a camada dos seres humanos.
Portanto, aos olhos do liberalismo, somos todos iguais, não importa a nação, freguesia ou clube, para usar os exemplos acima. Assim, parece-me lógico assumir que, havendo facas liberais suficientes, podemos acabar com os nacionalismos que, por estes dias, nos fazem chorar – tal como as cebolas.
O que podemos fazer
Visto que teremos em breve eleições autárquicas, esta vai ser mais uma oportunidade para darmos força aos liberais. Para reforçarmos a faca que pode ajudar a cortar os nacionalismos que infestam o nosso mundo, uma camada da cebola de cada vez.
No curto prazo, com liberais nas freguesias e nos municípios, serão menos duas camadas da cebola nacionalista para nos preocuparmos.
No médio prazo, trataremos de os levar ao Governo do país.
A longo prazo, e ainda que nos pareça utópico a esta distância, chegaremos à cebola de uma só camada.
Como dizia Saramago, “não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.
E eu acrescento, “para não deixar queimar o estrugido!”