Morreu, com 14 anos e meio, o cão mais conhecido do centro histórico de Guimarães. Seth não resistiu a um AVC e acabou por falecer no dia 26 de maio, tendo ido a cremar no Canil de Atães, naquele concelho. As cinzas foram lá sepultadas.
Nascido a 20 de novembro de 2007, no Algarve, foi comprado quando tinha apenas três meses por Alfredo Ribeiro de Magalhães que, em 2018, se mudou para a cidade-berço, trazendo consigo o animal de companhia.
Ao longo dos últimos quatro anos, Seth da Quinta da Praia Grande (era esse o nome que constava na cédula de nascimento), um Golden Retrivier puro de cor branca, foi travando amizades no centro de Guimarães, por entre comerciantes e turistas que não perdiam a oportunidade de se fotografarem com o animal, sempre bastante afável e que nunca mostrava agressividade com ninguém.
Alfredo conta a O MINHO que Seth era o seu melhor amigo e que “era mimado por toda a gente” no centro de Guimarães. Como vive sozinho, Alfredo tinha em Seth a sua companhia diária, que lhe “enchia a casa”, e não conseguiu disfarçar a comoção quando falava no amigo de quatro patas.
“Ele entrava comigo em todos os lados em Guimarães, e não só. Até nos hotéis, embora tivesse de pagar uma taxa extra”, conta Alfredo, cuja trisavó já havia nascido e vivido no Largo do Toural, no centro da cidade vimaranense.
“Era o meu companheiro do dia a dia, sempre foi. Para onde eu ia, ele ia atrás de mim – até na banheira se queria meter quando eu tomava banho (risos). De resto, em casa, havia períodos em que eu estava aqui a ver televisão e já sei que a cabeça dele vinha para cima dos meus pés, e se eu mexesse, ele fitava, atento, a ver o que eu iria fazer de seguida”, recorda.
Esse afecto transmitido pelo animal começou a ser notado pelas gentes vimaranenses. “Começaram a gostar dele, a dar-lhe algumas coisinhas para comer, e o leque de conhecimentos do Seth foi-se alargando. Posso dizer que era o cão mais conhecido aqui do centro de Guimarães. Uma vez, um senhor ali no Largo da Oliveira disse-me que o Seth era o cão que mais festas recolhia das mulheres (risos). Ele era assim, encantava”, acrescenta Alfredo.
Mas nem sempre o Seth foi bem recebido, muito por causa de, considera Alfredo, “burocracias trogloditas deste pais”, e ficava em casa quando o destino do tutor era algum desses locais. Contudo, só lá ia se houvesse mesmo necessidade, porque em outros locais onde o Seth não fosse bem-vindo, Alfredo não mais lá regressava. Um desses locais era uma pizzaria no centro. Ao início até deixavam o Seth entrar e davam-lhe “uma bolachinha” quando ele pedia. Mas, um dia, um casal queixou-se que não se sentia seguro com o cão lá dentro e a gerência acabou por pedir para que o animal fosse para fora. Escusado será dizer que Alfredo não voltou mais a esse espaço, que até acabou por fechar passado uns meses: “É o karma”, considera.
Mas noutros lados era muito bem recebido, não só no comércio, mas também nos serviços, como é o caso do Registo Civil. “O Seth era um animal que entrava, davam-lhe sempre bolachas, e quando se podia levantar, quase punha as patas em cima do balcão à espera das festas. Outro sítio onde ele entrava sempre e recebia festas era no Museu Raul Brandão.
“Olhe, em termos gerais, o Seth era muito bem-vindo na cidade. Era um cão impecável, não fazia mal a ninguém. Na Rua D. Maria II, veio um cão de porte grande, atacou o Seth e eu ainda coloquei o braço à frente e fiquei com uma marca, mas rasgou-lhe a orelha. E sabe o que ele fez? Ficou agachado o tempo todo. Nem reagiu. Ou seja, não era nada violento”, recorda.
Sobre a morte de Seth, Alfredo revela que, em julho do ano passado, o veterinário detetou um cancro a nível dos dois pulmões, pelo que já não restaria muito tempo, embora tenha aguentado quase um ano. No dia 26 deste mês, logo pela manhã, Alfredo percebeu que Seth estava desorientado, a bater contra as paredes. Com ajuda da agente Sandra Oliveira, da Polícia Municipal, – que sempre se mostrou muito prestável para ajudar Alfredo com o cão, sabendo que viviam os dois sozinhos – conseguiu levar o animal ao veterinário (Dra. Sabina Martins Rodrigues), que indicou que o mesmo tinha sofrido um AVC e que, em poucas horas, ia acabar por falecer.
Em jeito de despedida, Alfredo recorda que Seth “tem muitas fotografias em várias partes do mundo”, muito graças aos turistas de várias nacionalidades que pediam sempre para tirar uma fotografia com o canídeo enquanto este circulava pelo centro histórico. “Era o verdadeiro animal internacional”, conclui Alfredo Magalhães.