A falta de água e os casos de ‘escaldão’ e ‘míldio’ na Região dos Vinhos Verdes, consequência das alterações climáticas, condicionaram de forma diferente a Campanha de 2023, com Monção a antecipar quebras, em contraciclo com as restantes adegas.
Na Região dos Vinhos Verdes, é mais a norte onde as vindimas arrancam mais cedo. Na próxima quarta-feira, dia 30 de agosto, é data apontada pelo presidente da Adega Cooperativa de Monção, Armando Fontainhas, para o início da vindima no concelho Monção e dia 31 em Melgaço.
“É a primeira vez que a Adega começa a vindimar no mês de agosto. (…) É o aquecimento global. Os invernos são cada vez menos frios e com mais luz, isso faz com que a vinha tenha rebentação mais cedo”, explicou.
Na campanha de 2023, as alterações climáticas tiveram também impacto na produção. O responsável da Adega antecipa uma quebra entre 5% e 10%, o que representa 400 a 800 mil quilos de uvas menos do que em 2022, quando foram contabilizados oito milhões de quilos.
A culpa deve-se aos ataques de míldio – um fungo que se desenvolve no interior das folhas da videira, normalmente durante primaveras muito chuvosas, neste caso, a um mês de junho “muito chuvoso”.
Apesar de também nos concelhos de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez se terem registado ataques deste fungo, as previsões da Adega Cooperativa de Ponte da Barca são mais positivas, antecipando-se uma produção de cerca de quatro milhões de quilos, em linha com 2022.
Bruno Almeida explica que, por se encontrarem localizados nos vales dos rios Lima e Vez, os viticultores estão mais “protegidos” da influência do Atlântico, o que limitou as perdas. Ainda assim, admite, as chuvas de maio e junho fizeram diminuir o “grande potencial” identificado no início do ciclo.
Com uma área de produção de 900 hectares, a Adega Cooperativa de Ponte da Barca tem previsto o início da vindima para 12 de setembro – em linha com os últimos anos – com algumas exceções para castas mais precoces e alguns viticultores, onde a marcação será diferenciada e a vindima será antecipada uma semana.
Já na Adega Cooperativa de Felgueiras, Casimiro Alves antevê que a vindima se realize uma semana mais cedo do que em 2022 – dia 05 ou 06 de setembro – por conta das alterações climáticas que, sublinha, afetam e “de que maneira” os viticultores daquele concelho.
“Aqui não caiu uma pinga de água”, disse.
Apesar de antecipar uma boa colheita – entre oito e nove milhões de quilos – aquele responsável mostra-se “assustado” com as previsões climatéricas que apontam para que as temperaturas atinjam, esta semana, os 40 graus em algumas regiões.
Na Adega Cooperativa de Amarante, a vindima inicia-se mais tarde, a 13 de setembro, dado que a maturação das uvas ainda se encontra “um pouco atrasada”, sobretudo nas áreas onde os viticultores têm falta de água.
Ainda assim, António Barbeitos – presidente da cooperativa – antecipa uma produção de um milhão de toneladas, acima das 800 mil registadas em 2022 – com as vinhas novas a compensar os focos de míldio.
Aquele responsável teme, contudo, uma retração na procura, traduzida numa descida do preço pago pelos operadores privados aos viticultores, em face da quantidade de stock de vinho existente, “o que para os viticultores é uma desgraçada muito grande”, avisa, acrescentando que a esta retração há que somar, o impacto do aumento dos custos de contexto e da mão-de-obra, cuja escassez é referida por todas as cooperativas ouvidas pela Lusa.
No extremo sul da Região dos Vinhos Verdes, o presidente da Adega Cooperativa de Vale de Cambra, Joaquim Paiva, antecipa um crescimento na produção entre os 5% e os 10%, apesar dos casos de escaldão e de míldio e da falta de água com que os viticultores estão confrontados.
Com 500 associados e uma produção anual e cerca meio milhão de litros de vinho entre brancos e tintos, a adega estima que a campanha deste ano se inicie entre 11 e 12 de setembro, cerca de duas semanas antes do que em 2022, devido às altas temperaturas previstas e mais uma vez à falta de água.