Mercado Municipal de Braga (1915-1955): Extinta Obra de Arte do nosso património industrial

ARTIGO DO OPINIÃO

Rui Maia

Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia

Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.

O velho Mercado Municipal de Braga localizava-se na atual Praça do Município, outrora palco de touradas e outras proezas. A poucos metros desse epicentro, encontrava-se a Capela de Santo António, destruída para dar lugar à atual Rua Eça de Queirós, não estivessem os famigerados automóveis a promover um novo paradigma urbanístico.

Todavia, focando a nossa atenção no Mercado, importa recordar que o mesmo encontra a sua génese na alvorada da I República (1911/12), em que a cidade se procura renovar à sombra do novo paradigma liberal. Nesse sentido, urgia fundar um espaço comercial fechado, capaz de atender às distintas necessidades comerciais, dotado de condições modernas, com especial cautela nas questões de higiene e salubridade. A realização do empreendimento deve o seu cunho ao ilustre Presidente da Câmara Municipal de Braga, Major Albano Justino Lopes Gonçalves, que solicitou para o efeito a contratação de um empréstimo no valor de 550 mil escudos. O estudo do local para a construção do novo Mercado ficou a cargo de uma Comissão, que apontou diversas possibilidades. Porém, determinou-se que o novo Mercado assentaria arraiais na atual Praça do Município. Pouco depois, sob a supervisão do engenheiro municipal Albino Rodrigues, é lançado o concurso ao qual concorrem dois proponentes: A Fábrica de Fundição de Massarelos (Companhia Aliança) e um empresário local, Domingos José Afonso. Em 12 de novembro de 1914 as propostas são abertas, ganhando vantagem o empresário local, por apresentar um projeto com maior número de lojas, incluindo o projeto das canalizações (água e esgotos), bem como a iluminação e o projeto arrojado da arquitetura das fachadas principais. Em 20 de março de 1914 a obra é adjudicada, arrancando os trabalhos de construção no mês de agosto. O Mercado é formalmente inaugurado no dia 1 de outubro de 1915.

O projeto do Mercado é da autoria de J. Moura Coutinho, assente numa tipologia modular, onde se destaca um dos elementos mais versáteis da época – o ferro industrial. O edifício contempla cerca de 3000m2, contando com 553 pontos de venda, grosso modo, alugados em regime anual. O Mercado conheceu por essa época o seu apogeu, na medida em que era bastante concorrido, porém, com o passar dos anos e as sucessivas intervenções de que foi alvo, tornava-se onerosa a sua manutenção, agremiando a tudo isso um conjunto de vicissitudes que levariam à sua desativação e desconstrução. 

O último dia em que manteve as suas portas abertas foi em 14 de janeiro de 1955 e, pouco depois, no mês de setembro, a Câmara Municipal de Braga delibera a sua demolição, executando-se no espaço ocupado pelo Mercado a atual Praça do Município, cujas feições se mantêm até a hodiernidade.

Em 28 de maio de 1956 é inaugurado o novo Mercado Municipal de Braga, na atual Praça do Comércio, outrora denominada Praça Alferes Armindo Pereira.

O extinto Mercado da Praça do Município esteve ativo ao longo de quatro décadas, caso não tivesse sido desconstruído, completaria este ano 110 de existência.

Os Mercados Municipais, na mesma medida de outros estabelecimentos tradicionais, como as Mercearias, vão perdendo a sua força, em particular, a partir de finais do último quartel do século XX, com a proliferação de supermercados e, mais tarde, a criação de grandes superfícies comerciais (shoppings), que num mesmo espaço congregam uma oferta muito diversificada e apelativa. É curioso que, em muitas aldeias, num raio de poucos metros, existiam muitas Mercearias, que vendiam a granel imensos artigos, como a cevada, o sabão rosa, pregos e tachas, lacticínios, etc., até o vinho era comercializado dessa forma, tantas vezes ao quartilho. Esses espaços, Mercados e Mercearias, afiguravam-se locais de socialização, redes sociais de outrora, muito mais sadias e profícuas. Tudo muda, e por vezes muda para pior, daí a dificuldade em apelidar esse novo paradigma de “progresso”, bastando para isso perceber os excessos que trouxe, e os impactos negativos a que sujeita o planeta e as sociedades.

 
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