Bastam normas simples para haver sociedades cooperativas. Três investigadores das universidades do Minho e de Lisboa publicam esta semana um estudo na “Nature”, uma das principais revistas científicas do mundo, concluindo que bastam princípios morais simples apoiados na reputação para promover a cooperação numa sociedade (ou empresa).
A Reitoria salienta que “é a primeira vez que se faz uma relação matemática entre a complexidade de julgamentos morais e a cooperação e, também, sobre o peso do historial da reputação das pessoas”.
Explicar a evolução e subsistência de cooperação entre humanos é dos maiores desafios científicos do século XXI. Impostos, reciclagem, vacinação voluntária e acordos climáticos são exemplos diários, com custos e ganhos.
Para tratar o fenómeno, o matemático Jorge Pacheco, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da UMinho, e os informáticos Francisco Santos e Fernando Santos, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento (INESC-ID) no Instituto Superior Técnico, desenvolveram um novo modelo teórico inspirado na teoria dos jogos. Simularam a evolução de uma sociedade artificial simples, onde os indivíduos decidem se devem cooperar ou não com outros. Avaliaram múltiplos degraus de cooperação, associando 256 estratégias com 65.536 normas sociais.
Resultados
Os resultados – diz a UMinho – “mostraram que só uma pequena fração dessas normas (0.2%) sustenta níveis máximos de cooperação, beneficiando a sociedade como um todo”.
Aí inclui-se um código moral tão simples e que até negligencia a reputação passada dos indivíduos: “Quem cooperar com os ‘bons’ e não cooperar com os ‘maus’ deve ter boa reputação, e quem fizer o contrário deverá ter má reputação”. Por exemplo, no local de trabalho tender-se-ia a cooperar mais com quem é “bom” ou tem boa reputação. Os autores provaram assim que as normas altamente sofisticadas não são benéficas na cooperação.
Jorge Pacheco é professor do Departamento de Matemática e Aplicações da escola de Ciências da UMinho.