Mariana Afonso é uma das duas mulheres no primeiro ano do curso de licenciatura em Engenharia Mecânica da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC). Este fim de semana, será a única piloto portuguesa a competir no Campeonato do Mundo de TrialGP, que se realiza em Viana do Castelo, mas o seu maior objetivo é inspirar outras jovens a desafiar barreiras, seja no ensino superior ou no desporto.
Numa entrevista ao podcast “Com.Sigo + IPVC”, disponível no canal de Youtube do IPVC, a jovem de 19 anos conta que, “no início, foi um pouco estranho sermos apenas duas raparigas do curso, mas agora já me habituei”.
“Acredito que é importante que outras raparigas percebam que não há cursos para homens ou para mulheres. Se gostamos de uma área, devemos segui-la sem medo, porque é o nosso futuro que está em causa”, acrescenta.
Influenciada pelo ambiente familiar, a paixão pela mecânica acompanha-a desde muito cedo. Os pais, donos de uma loja e oficina de motas, sempre a incentivaram a seguir o caminho que a fizesse feliz: “No final do secundário, estava com dúvidas quanto ao curso a frequentar e decidi fazer ‘um ano sabático’. Ainda houve quem me criticasse e criticasse os meus pais por permitirem que eu parasse de estudar. Mas quando lhes disse que queria Engenharia Mecânica, ficaram orgulhosos. Disseram-me logo: ‘É mesmo a tua cara’.”
A par da exigência académica, Mariana Afonso enfrenta outro grande desafio: conciliar os estudos com a sua carreira desportiva no motociclismo. Aos 10 anos começou a competir e, de lá para cá, acumulou vários títulos nacionais e internacionais. Hoje, dedica-se ao Enduro, mas regressará ao Trial no próximo fim de semana, onde será a única piloto portuguesa no Campeonato do Mundo de TrialGP, que se realiza em Viana do Castelo.
“É difícil conciliar tudo, mas sempre fui muito organizada. Quando não estou a estudar, estou a treinar, e vice-versa. No secundário já era assim, mas agora, no ensino superior, o nível de exigência aumentou muito, mas estou a conseguir.” E o apoio dentro da sala de aula também tem ajudado, quer dos docentes, quer os colegas.
Mariana vê no curso de Engenharia Mecânica uma forma de complementar os seus conhecimentos práticos e acredita que a formação superior será essencial para o seu futuro. “Quero juntar estas duas áreas e um dia estar numa equipa do Mundial, como atleta e como mecânica. Sei que a licenciatura é só um passo, porque vou querer continuar a estudar, porque o meu futuro, acredito, será nesta área.”
Uma das suas grandes inspirações é a piloto catalã Laia Sanz, 14 vezes campeã mundial de Trial e uma referência no Dakar. “Ela abriu caminho para muitas mulheres no motociclismo e mostrou que podemos competir ao mais alto nível. Quero seguir esse exemplo e mostrar que conseguimos, seja no desporto ou na engenharia.”
Apesar dos desafios, Mariana nunca pensou em desistir, nem dos estudos, nem da paixão pelas motas. “Ouvi muitas críticas por ter feito uma pausa nos estudos, mas foi o melhor que fiz. Percebi que este era mesmo o meu caminho e sinto que estou onde devia estar”, remata a estudante.