Um “grupo espontâneo” de mais de 20 docentes esteve este sábado a apoiar Rui Garcia, professor de Ponte de Lima colocado a centenas de quilómetros de casa e que vive numa carrinha, a quem Marcelo Rebelo de Sousa pagou uma noite de alojamento.
O caso de Rui Garcia tornou-se conhecido depois de uma reportagem da SIC ter revelado, em setembro, que o professor de Educação Física foi colocado a lecionar em Elvas, a mais de 400 quilómetros de casa, e que vivia numa carrinha, a que chama o seu “T0”.
O professor e o seu “T0” estão hoje frente ao Palácio de Belém, em Lisboa, onde estão também mais de 20 docentes, que vieram demonstrar solidariedade e denunciar as dificuldades por que muitos professores passam, nomeadamente para encontrar casa.
À Lusa, Rui Garcia explicou que quando concorreu ao concurso nacional o fez de consciência e sabendo que poderia ir dar aulas em qualquer ponto do país, mas acreditando igualmente que reunia todas as condições para que lhe fosse atribuída uma casa.
Tal não aconteceu ainda, apesar de ter contactado por diversas vezes tanto a Câmara Municipal de Elvas, como o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), razão pela qual fazer o protesto à porta do chefe de Estado.
Rui Garcia foi recebido por dois assessores do Presidente da República, a quem transmitiu o seu caso, e de quem ouviu que iriam passar a informação a Marcelo Rebelo de Sousa.
No final do encontro, o professor contou a todos os presentes que, a título pessoal, Marcelo Rebelo de Sousa tinha decidido dar uma ajuda.
“O senhor Presidente, pago do seu bolso, tomou a iniciativa de alugar-me um quarto, aqui na pensão Setubalense, onde eu posso tomar o meu banhinho e fazer a minha dormida. Posso pernoitar hoje e fico muito agradecido ao senhor Presidente”, disse Rui Garcia, acrescentando que depois fará um agradecimento por escrito.
Além dos aplausos, uma professora, que envergava uma ‘t-shirt’ do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop), aproveitou para elogiar a coragem e a força de Rui Garcia e lembrar que “houve um tempo em que quando era preciso colocar um professor nas aldeias mais recônditas, construía-se a escola e a casinha para o professor”.
“Andamos a regredir porque os edifícios do Ministério da Educação, em Lisboa, pelo que sei, estão a ser alugados a 1.400 euros por apartamento”, afirmou a mesma professora.
Rui Garcia disse que vai aproveitar a próxima semana para “serenar”, porque tem sido uma “grande azáfama” e “muito desgastante”, e que depois irá escrever um documento para enviar a Marcelo Rebelo de Sousa, no qual irá colocar todas as questões que o preocupam, principalmente a norma travão, que entende que deve ser revista.
A norma travão é uma regra de vinculação para os docentes que obtêm três contratos seguidos em horário completo e anual (ou equiparado) e abre vaga no Quadro de Zona Pedagógica (QZP) e no Grupo de Recrutamento da escola de colocação no último dos 3 anos.
“A penalização é de tal ordem que eu posso, no limite, reformar-me sem nunca vincular por causa de uma norma que é injusta”, defendeu.
Disse ainda que está nas mãos dos professores por esta questão na agenda política, “com este tipo de ações ou melhores”.