Maior produtor de kiwis da Península Ibérica é de Guimarães e faturou 20 milhões em 2023

Victor Araújo tinha seis anos quando o pai plantou os primeiros kiwis. Foto: Rui Dias / O MINHO

Em 1980, quando António João Araújo plantou os primeiros dois hectares de kiwis, o fruto era uma novidade em Portugal. Passados 44 anos, a empresa, com sede na freguesia de São Salvador de Briteiros, em Guimarães, é dirigida pelo filho, Victor Araújo, e tornou-se no maior produtor de kiwis da Península Ibérica.

Reconhecida como Organização de Produtores, a Kiwigreensun, na última campanha, processou 14,6 mil toneladas de kiwis e faturou 20 milhões de euros.

Victor tinha seis anos quando o pai arriscou plantar um fruto que na altura era uma novidade exótica. “Quando o meu pai começou, havia umas 30 ou 40 plantas em Portugal”, aponta. Foi preciso resistência, até porque o kiwi só começa a produzir ao fim de quatro anos. “Inicialmente o meu pai manteve a vinha e a vacaria”, esclarece. Todavia, o sucesso acabou por vir e, passados dez anos, as plantações ocupavam uma área de 22 hectares, na região de Guimarães. Com o tempo, a vacaria e a vinha acabaram por desaparecer e o kiwi tornou-se no negócio da família.

Foto: Kiwigreensun / Arquivo

O aumento da capacidade de produção foi tão grande que, no final da década de 80, desencadeou a primeira crise da empresa. “Estávamos a aumentar a capacidade produtiva a um ritmo maior do que o do aumento da procura. Naturalmente, com excesso de oferta, os preços baixaram”, recorda Victor Araújo. Com a entrada na última década do século XX, a procura voltou a crescer e a situação normalizou.

A Kiwigreensun com a forma jurídica que tem hoje, nasceu em 2002. Tínhamos a necessidade de ter capacidade de armazenamento para não estarmos sujeitos à especulação de preços. Os kiwis são conservados a baixas temperaturas, “mas não congelados”, destaca Victor Araújo. As câmaras frigoríficas, com controle dos níveis de humidade, permitem a conservação dos frutos por um período de seis a oito meses.

Foto: Rui Dias / O MINHO

Investimento com capital próprio

Atualmente a capacidade de armazenamento é de 12,6 mil toneladas mas, pode ser “esticada” usando os corredores das câmaras frigoríficas que também são climatizados. Para breve, está previsto um investimento de 4,6 milhões de euros que aumentará a capacidade de armazenamento em frio em cinco mil toneladas. Entre 2004 e 2022, a Kiwigreensun investiu 11,2 milhões de euros, “quase tudo com capitais próprios e pouquíssimos apoios”, destaca Victor Araújo.

Na unidade de São Salvador de Briteiros, a linha de calibragem onde os frutos são separados por dimensão, mas também tendo em conta a cor e as imperfeições na pele, é capaz de processar 20 toneladas por hora. Um dos armazéns climatizados da empresa é completamente robotizado. “Colocamos as caixas de 300 quilos de kiwis aqui à frente e ele vem buscá-las e armazena-as como bem entende, sem mais nenhuma intervenção humana. Quando queremos retirar alguma coisa, limitamo-nos a digitar o lote no computador e a máquina vem entregá-lo”, explica Victor Araújo.

Tecnologia no cultivo

Originária da China, a cultura do kiwi desenvolveu-se na Nova Zelândia, antes de se difundir pelo mundo. Na região de Entre Douro e Minho, onde se situam a maioria dos pomares dos sócios da Kiwigreensun, o fruto encontrou excelentes condições, “beneficiando da brisa atlântica”.

Os sistemas de cultivo evoluíram muito desde o primeiro pomar plantado por António João Araújo. Os pomares da Kiwigreensun estão equipados com sensores que medem o crescimento do tronco da planta e dos frutos, avaliam as necessidades hídricas, em função da irrigação, da pluviosidade e da temperatura. Tudo isto é monitorizado remotamente de forma permanente.

“O kiwi precisa de frio, no inverno mas, é muito afetado pela geada, na primavera. O calor em excesso, como se tem sentido nos últimos anos, também não é bom”, clarifica o administrador.

Em conjunto com a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e com a Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, a empresa está a testar a instalação de telas de cobertura anti-granizo e fotoseletivas, para proteger sem impedir a entrada da luz.

As primeiras conclusões apontam para 50% menos danos pelo vento, a eficácia contra o granizo e a redução do stress hídrico, contudo, também há uma diminuição da polinização pela dificuldade que os insetos têm de aceder às plantas. “Relativamente à polinização, usamos ‘organismos auxiliares’, ou seja, abelhões que são introduzidos nos pomares”, esclarece Victor Araújo.

A Kiwigreensun tem certificação de produção integrada, quer dizer que, utiliza recursos naturais e mecanismos de regulação natural em substituição de fatores de produção prejudiciais ao ambiente de modo a assegurar, a longo prazo, uma agricultura sustentável.

Um exemplo é o uso de feromonas para atrair os percevejos, uma praga que tem vindo a aumentar. Os insetos ficam presos em placas colantes e dessa forma evita-se o uso de inseticidas.

20 milhões de faturação

A Kiwigreensun reúne 56 produtores, o mais a sul em Santa Maria da Feira e o mais a norte, em Vila Verde, mas com a maioria a situar-se na zona de Guimarães. No total, os sócios da Organização de Produtores têm 500 hectares de pomares.

80% da produção é para exportação. Foto: Rui Dias / O MINHO

A empresa tem 67 funcionários efetivos, dos quais sete são licenciados, entre a colheita (em outubro, novembro) e junho, emprega mais 15 pessoas sazonais.

Com 80% das suas vendas a irem para o estrangeiro, maioritariamente para Espanha, a empresa fechou o último ano com uma faturação de 20 milhões de euros.

 
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