Magnatas do Minho disputam obras de milhões na alta velocidade

Alberto Couto (ACA), José Teixeira (DST), António Carlos (Casais) e Carlos Couto (Gabriel Couto)

Ao fim dos primeiros 15 dias da abertura do concurso público internacional para as empresas e consórcios interessadas na construção do primeiro troço de Alta Velocidade em Portugal, entre Porto e Oiã, em Aveiro, existem cinco consórcios interessados, dois deles com duas empresas do Minho cada, mas nenhuma quer abordar o assunto nesta fase.

Um dos consórcios, confirmou O MINHO com fonte próxima da Mota Engil, que o lidera, só comporta empresas portuguesas e duas delas são construtoras do distrito de Braga: o grupo Casais (Braga) e a Gabriel Couto (Famalicão). O MINHO pediu uma reação a ambas. A Gabriel Couto escusou-se a comentar. Já a Casais não deu qualquer resposta. Este consórcio é liderado por Mota Engil (Amarante) e pela Teixeira Duarte (Lisboa), incluíndo ainda a Conduril (Ermesinde) e a Alves Ribeiro (Lisboa), além das duas construtoras de Braga.

Grupo CAsais concluiu a torre mais alta de gibraltar. Foto: DR

Outro dos consórcios na linha da frente, avança o jornal espanhol El Economista na sua edição desta semana, incluí o Grupo DST (Braga) e a Alberto Couto Alves (Famalicão). O MINHO contactou ambas empresas com a DST a escusar-se a tecer comentários nesta fase. A ACA não respondeu. A liderar o consórcio está a Sacyr, um dos maiores construtores de Espanha, apoiados pela Somague e pela Neopul, empresas portuguesas que pertencem ao grupo espanhol.

ACA tem projetos de reabilitação urbana em vários locais do mundo. Foto: aCA

O jornal espanhol cita ainda outros três consórcios, um só de empresas espanholas que eventualmente podem incorporar um fundo português de investimento, outro liderado pela espanhola Azvi, em parceria com empresas portuguesas ligadas à mobilidade (Ascendi, Tecnovia e TIIC). O último consórcio conhecido até agora é liderado por empresas catalãs e francesas.

Recorde-se que o prazo para candidatura à parceria público-privada que levará à construção do primeiro troço de sempre da Alta Velocidade em Portugal termina a 13 de junho. Em causa está um valor de obra que pode atingir os 2,14 mil milhões de euros, após apoio de fundos europeus.

De acordo com o concurso público publicado no dia 15 de janeiro em Diário da República (DR) pela Infraestruturas de Portugal (IP), as empresas ou consórcios interessados em concorrer devem fazê-lo até às 17:00 de dia 13 de junho, e o procedimento tem um valor de 1,66 mil milhões de euros, a que se podem somar 480 milhões de euros de fundos europeus, perfazendo assim 2,14 mil milhões de euros.

DST e ACA unidos com 4.000 trabalhadores

Um dos grupos empresariais mais influentes de Portugal, a Domingos Silva Teixeira (DST) tem um grande rol de obras públicas efetuadas com sucesso, clamando para si a construção da nova linha amarela do metro do Porto, obra que, aliás, foi entregue por concurso público à ACA/Ferrovial.

DST está a construir estações do Metro do Porto. Foto: DST

O grupo desenvolve a sua atividade na área da Engenharia & Construção, Ambiente, Energias Renováveis, Telecomunicações, Real Estate e Ventures, e opera também internacionalmente nos mercados de França, Reino Unido, Holanda, Mónaco e Angola.

É liderado por José Teixeira, um empresário ambicioso que ao leme da pedreira fundada pelo pai conseguiu aumentar as incorporações do grupo, criando ainda uma ligação cultural à cidade de Braga e ao país através de mecenato. Conta com mais de 2.000 colaboradores e fatura mais de 400 milhões de euros por ano, grande maioria em obras públicas.

José Teixeira (DST) Foto: Arquivo

Ao lado de José Teixeira surge Alberto Couto Alves, líder da ACA Engenharia e Construção, outra empresa familiar que atingiu sucesso internacional, tornando-se numa das principais construtoras do país. O empresário famalicense, que até é familiar do gerente de outra empresa concorrente que surge em outro consórcio (Gabriel Couto), ergueu o seu próprio império com a ACA, contando hoje com 2.000 colaboradores e uma carteira de projetos futuros confirmados de mais de 350 milhões de euros (não incluí o TGV). Entre as obras recentemente adjudicadas estão as novas linhas do Metro do Porto.

Alberto Couto Alves (ACA). Foto: Redes sociais de Alberto Couto Alves

Gabriel Couto e Casais no lado oposto com mão de obra de 6.000 pessoas

Conforme mencionado, noutro consórcio, este liderado pela Mota Engil e, até agora, o único 100% português, está a construtora Gabriel Couto, de Famalicão, uma das 10 maiores do país e que já foi a principal empreiteira da região Norte. Fundada em 1948 por Gabriel Couto, hoje é presidida por Carlos Couto. Conta com cerca de 500 colaboradores e tem obras em várias partes do país e no estrangeiro, dedicando-se sobretudo à construção urbana.

Carlos Couto (GabriEl Couto, SA). Foto: DR
Gabriel Couto é reconhecida internacionalmente pelas construções rodoviárias. Foto: Gabriel Couto, SA

Ao lado da empreiteira de Famalicão está outro grupo de Braga que dispensa apresentações: Casais. A construtora de Mire de Tibães, para além da Engenharia e Construção,  está presente nos setores das Especialidades e Indústria e Promoção e Gestão de Ativos e conta com 5.400 colaboradores nas várias geografias, sendo mais de 1.600 em Portugal. É liderada por António Carlos Rodrigues e, à semelhança das restantes três empresas minhotas já mencionadas, a administração também é detida por uma família.

António Carlos Rodrigues (CASAIS). Foto: DR

Lista de consórcios conhecidos

1 – Sacyr, DST, ACA.

2 – Mota-Engil, Teixeira Duarte, Grupo Casais, Conduril, Gabriel Couto e Alves Ribeiro.

3 – Acciona, FCC e Ferrovial (pode incorporar um fundo português).

4 –  Azvi, Webuild, fundo John Laing e três empresas portuguesas (Ascendi, Tecnovia e TIIC).

5 –  OHLA, Comsa, NGE e TSO.

Preço é fator importante, mas há outros aspectos a ter em conta no concurso

De acordo com o procedimento de avaliação, consultado por O MINHO, o fator preço representa 70% de ponderação para escolha do consórcio final, e a qualidade 30%. Sobre a qualidade, o subfator mais importante é a estação de Campanhã, com a proposta apresentada a contar 35% para a ponderação do júri que escolhe os vencedores da obra. A estação de Gaia também representa 35% da avaliação, enquanto a nova ponte representa 30%. Ou seja, se todos apresentarem os mesmos preços ao Estado, aquele que garantir melhor qualidade nas estações de Campanhã e Gaia, além da qualidade na nova ponte, ficará com a obra.

4,26 mil milhões de euros até 2055

De acordo com a resolução do Conselho de Ministros, o consórcio vencedor passa a integrar uma PPP com o Estado português, A PPP implica um custo de cerca de 4,26 mil milhões de euros durante 31 anos.

O procedimento implica a “conceção, projeto, construção, financiamento, manutenção e disponibilização do troço” Porto – Oiã (Oliveira do Bairro, distrito de Aveiro).

O primeiro troço da linha, corresponde aos 71 quilómetros (km) entre o Porto e Oiã (Oliveira do Bairro, distrito de Aveiro), numa linha preparada para os 300 quilómetros por hora (km/hora).

O projeto inclui a reformulação da estação de Campanhã, no Porto, a construção de uma nova ponte rodoferroviária, com dois tabuleiros, sobre o rio Douro, a construção de uma nova estação subterrânea em Santo Ovídio (Gaia), com ligação ao Metro do Porto, e a ligação de 17 quilómetros à atual Linha do Norte, em Canelas (Estarreja), permitindo assim que o comboio de alta velocidade chegue à atual estação de Aveiro.

Ligar Porto-Lisboa em 1h15

A linha de alta velocidade deverá ligar as duas principais cidades do país em cerca de uma hora e 15 minutos, com paragens possíveis em Gaia, Aveiro, Coimbra e Leiria.

Prevê-se a realização de 60 serviços por dia e por sentido, dos quais 17 serão diretos, nove com paragens nas cidades intermédias (Leiria, Coimbra, Aveiro e Gaia), e 34 serviços mistos (com ligação à rede convencional), segundo a IP.

O projeto prevê transportar 16 milhões de passageiros por ano na nova linha, dos quais cerca de um milhão que atualmente fazem aquela viagem de avião.

Paralelamente, está também a ser projetada a ligação do Porto a Vigo, na Galiza (Espanha), com estações no aeroporto Francisco Sá Carneiro, Braga e Valença.

Notícia atualizada às 11h32 com informação de que a obra da linha amarela do Metro do Porto foi adjudicada à ACA/Ferrovial e que o consórcio liderado pela empresa de Famalicão venceu o concurso para a expansão da rede metropolitana.

 
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