Andreia Rodrigues, encarregada de educação de dois alunos do Agrupamento de Escolas André Soares, em Braga, veio a público denunciar a entrega de manuais escolares para o novo ano por parte daquela escola sem “condições” para serem utilizados.
Os manuais foram entregues pelo agrupamento escolar no âmbito do projeto do Ministério da Educação que atribui vouchers aos pais, de forma a economizarem na compra dos livros para o novo ano letivo.
A encarregada de educação disse a O MINHO que foi receber os manuais Alfa 3 de Matemática e Alfa 3 de Português para o filho, que vai estudar no 3.º ano da EB do Carandá pertencente àquele agrupamento escolar, mas que os mesmos se encontravam “completamente riscados e escritos”, não só a caneta como também a lápis de cor.
“Na altura em que me entregaram os livros não os abri, pensei sempre que estariam em condições de ser utilizados, mas quando cheguei a casa e comecei a folhear, percebi que estavam completamente riscados”, disse.
Andreia Rodrigues terá então registado os livros em formato vídeo e divulgado nas redes sociais, atingindo centenas de partilhas de outros encarregados de educação que se mostravam revoltados e solidários com a situação.
Residente em São Lázaro, a progenitora já terá entregue os livros no estabelecimento escolar, mas não conseguiu saber se teria direito a que lhe fossem entregues outros em substituição, uma vez que os professores responsáveis se encontram de férias. A encarregada de educação enviou também um email a formalizar queixa perante o Ministério da Educação, responsável pela campanha de entrega destes manuais escolares.
O MINHO contactou a direção daquele agrupamento escolar que lamentou a situação e indicou que “só em setembro” é que será possível apurar o que terá falhado na questão logística para terem sido entregues os manuais sem condições para os alunos.
Maria Graça Moura, diretora do agrupamento, confessa ter sido “apanhada de surpresa” pela situação, mas indica que esta situação serve de alerta para que se “repense a utilização deste tipo de manuais”.
“Fui apanhada de surpresa com esta situação, uma vez que temos um local próprio na nossa sede onde os livros usados são armazenados depois de uma triagem feita por vários elementos afetos à escola”, disse a O MINHO.
“Só quando todos os envolvidos no grupo de triagem regressarem de férias é que poderei tirar ilações e perceber o que terá sucedido com este caso”, apontou ainda a diretora do agrupamento escolar.
Maria Graça Moura sublinhou que este processo de entrega de livros usados “é muito recente” e que há ainda falhas e erros que podem ocorrer. Salienta também que os manuais vêm com espaços onde os alunos são incentivados a preencher os locais em branco, e que muitas vezes o fazem com recurso a canetas ou lápis de cor.
“Acho que os próprios manuais têm de ser repensados, feitos sem qualquer espaço de preenchimento por parte do aluno, sobretudo estes manuais para crianças do primeiro ciclo”, disse.
A diretora lamentou ainda que a encarregada de educação em causa não tenha aberto os livros quando lhe foram entregues, de forma a fazer a reclamação no local, e que, ao invés, tenha colocado o assunto nas redes sociais antes de avisar a escola.
“Não acho que tenha sido uma atitude correta pois deveria ter alertado a escola em vez de colocar nas redes sociais”, assinalou a diretora.
A O MINHO, a encarregada de educação aceita a crítica, considerando que deveria ter alertado primeiro a escola, mas que se sentiu “revoltada” e que gravou e publicou o vídeo de forma a alertar outros encarregados de educação.
A campanha de recolha de manuais escolares levada a cabo pelo Ministério da Educação já foi alvo de polémica em junho, quando alguns pais queixaram-se de terem sido obrigados a apagar os manuais que foram sendo escritos pelos filhos durante o ano.
O Tribunal de Contas, em maio último, alertou para “fragilidade da sustentabilidade” deste programa governativo, indicando que a percentagem de manuais reutilizados no ano letivo transato foi inferior a 4%.
No próximo ano letivo, o programa será alargado a todos os estudantes do ensino obrigatório das escolas públicas e estima-se que custará cerca de 145 milhões de euros.