Stéphanie Frappart vai tornar-se hoje a primeira mulher a arbitrar num Mundial masculino. Nascida em França, a árbitra – que também já foi a primeira a dirigir um jogo na Liga dos Campeões, no Europeu e na liga francesa – é lusodescendente com raízes em Barcelos, onde, até à adolescência, passava as férias de verão.
A lusodescendente, de 38 anos, pertence à família ‘Barracas’, de Tamel S. Veríssimo, pese embora a sua mãe, Angelina (que a família trata por ‘Gina’), tenha nascido na freguesia de Perelhal, também no concelho de Barcelos.
Stéphanie Frappart vai fazer história, hoje, ao apitar o Costa Rica – Alemanha, do Mundial 2022, no Qatar, que começa às 19:00.
João Manuel ‘Barracas’ ainda não sabe onde vai ver o jogo mas garante a O MINHO que não vai perder por nada a oportunidade de ver a sua prima em segundo grau tornar-se a primeira mulher a apitar num Mundial masculino.
“É um orgulho”, salienta o familiar, que já há cerca de dez anos não vê Stépanhie, mas mantém contacto regular com a mãe dela, Angelina, sua prima em primeiro grau.
“O pai [da Stéphanie], Christian, é um francês adorável e a Gina é uma excelente pessoa. E a Stéphanie é muito boa rapariga. São pessoas muito humildes. Sinto um enorme orgulho de ter uma prima em segundo grau a apitar um jogo destes assim. Para mim e para toda a família, é um enorme orgulho”, vinca João Manuel Miranda.
Família foi de Barcelos para França quando Angelina ainda era criança
Como referido, apesar de a família ‘Barracas’ ser de Tamel S. Veríssimo, a mãe de Stéphanie, Angelina, nasceu em Perelhal, para onde a sua mãe, Amélia, e o pai, Angelino, foram viver após casarem – e onde, de resto, nasceram quase todos os nove filhos do casal.
Angelino, que já estava emigrado em França, levou, então, a mulher, Amélia, e os filhos para França, quando Angelina ainda era menor.
“A mãe [da Stéphanie] é minha prima em primeiro grau, porque a avó dela, a Amélia, era irmã do meu pai, família dos ‘Barracas'”, explica João Manuel. A avó Amélia, falecida, viveu também na Fonte de Baixo, em Barcelos, após regressar a Portugal.
Stéphanie passou muitos verões até à adolescência em Barcelos. “Era uma miúda que vinha com os pais de férias, como todos os emigrantes. Ela e os irmãos”, conta o primo em segundo grau, que, por causa disso, a conhece “desde sempre”.
As férias de verão eram quase sempre passadas na casa da avó de Angelina, em Tamel S. Veríssimo, mas também em casa de amigos, na freguesia vizinha de Galegos Santa Maria.
Assim, até aos 16, 17 anos, Stéphanie Frappart, que nasceu em Val-d’Oise, a norte de Paris, passou “quase todos os verões” em Barcelos, mas com a vida toda feita em França, não falava muito português. “O básico. Olá, bom dia, boa tarde. Penso que não conseguirá ter um diálogo em português”, observa João Manuel, que, pelas 19:00 de hoje, estará em frente a uma televisão evidenciando o orgulho de ver a prima em segundo grau elevar bem lá no alto o nome da família ‘Barracas’.
“Grande emoção”
Stéphanie Frappart considerou que vai ter de canalizar a “grande emoção” para fazer uma boa arbitragem no Costa Rica – Alemanha, jogo que a tornará a primeira mulher a arbitrar num Mundial masculino.
“Terei de controlar a emoção para me centrar no relvado. Vou sentir muita emoção para entrar num estádio de um Mundial, que seguramente estará cheio e onde haverá muitas expectativas”, referiu, em declarações à FIFA.
Frappart, uma das três mulheres nomeadas para o Mundial2022, vai dirigir hoje o encontro entre costa-riquenhos e alemães, da terceira e última jornada do Grupo E.
“Quando soube [da nomeação] a emoção foi enorme, não o esperava, estou muito orgulhosa de representar a França no Mundial”, disse.
Frappart, que também já foi a primeira mulher a dirigir um jogo na Liga dos Campeões, no Europeu e da liga francesa, afiançou que o seu objetivo passa por “fazer um bom encontro”.
“Tenho de me centrar no jogo, porque vou ter de tomar boas decisões. Fazes uma boa atuação quando te centras no objetivo essencial, o campo”, afirmou.
Frappart, de 38 anos, já tinha sido quarta árbitra no México-Polónia e no Portugal-Gana, este último vencido pelos portugueses por 3-2, e assim vai somar novo marco histórico da sua carreira, por um lado, e da igualdade de género no futebol, por outro.
Árbitra internacional desde 2009, a francesa foi a primeira mulher a dirigir um jogo de competições europeias masculinas, na Supertaça Europeia de 2019, a primeira num jogo da Liga dos Campeões e da Liga francesa, e em 2021 apitou também um encontro da qualificação para o Mundial2022, onde agora fará mais história.
A lusodescendente é uma de três mulheres nomeadas para o torneio, e hoje terá a brasileira Neuza Back e a mexicana Karen Medina como fiscais de linha, com o hondurenho Said Martínez como quarto árbitro.