Luís Neves, músico de Barcelos, quis fazer um disco sobre sua cidade natal. Mas não quis cantar a Festa das Cruzes ou o artesanato, e virou-se para a “realidade escura” da cidade. No final de 2022 lançou o disco bem humorado “Lado Bê”, que canta os ‘picanços’ de carros ‘tunning’ ou sobre personagens emblemáticas da terra.
O engenheiro e músico de 27 anos assina com o alter-ego Louis G. É uma personagem que foi criando durante a pandemia, enquanto estava fechado em casa a criar música e que “pretende retratar uma realidade escura” de Barcelos.
No seu primeiro EP, assina uma “carta de amor” à cidade. Canta personagens emblemáticas como em “A Mariano”, conta histórias de amor na estância balnear da cidade que é Esposende ou faz um bailarico com as corridas ilegais de carros de fundo.
São realidades que todos conhecem e se falam entre dentes entre os locais, mas que nunca saltaram das margens. Agora, Louis G quis colocá-las nas canções do seu disco de estreia.
“O Minho é muito caricato”, diz. Só teve essa perfeita noção quando esteve a estudar fora da cidade, em Aveiro. “Comecei a perceber que coisas que para mim eram usuais, não eram assim tanto. Comecei a ver as coisas do lado de fora e apercebi-me que realmente que há coisas muito pitorescas”, conta a O MINHO.
Como a Páscoa, um tema que vai explorar no próximo disco. “A Páscoa no Minho é uma festa enorme, no resto do país é um almoço em família e pronto. Aqui são bombos, foguetes, compasso… A Páscoa é a maior festa do ano”, atira.
Para abrir o seu trajeto, quis fazer um disco sobre “aquilo que realmente” conhece, que é Barcelos. Às “boas ideias” juntou-lhe “bons sons” e resto é “sorte”. “Mais sorte do que juízo”, brinca.
Barcelos foi o ponto de partida perfeito, um concelho cheio de “sumo” para espremer. Não faltam histórias para Luís Neves se deliciar, como aquela que conta com entusiasmo de um grupo de Zés Pereiras, nos anos 80.
“Começaram a ensaiar, um vizinho não queria ouvir o barulho e chamou a GNR. A Guarda foi ao local e confiscou os bombos. No dia a seguir vieram ao juiz aqui em Barcelos. O juiz achou graça e disse que o grupo se iria chamar ‘Peles da Justiça’ e os homens, para celebrar aquela vitória, foram a tocar bombo de Barcelos até Cossourado. São 14 quilómetros a pé, a tocar bombo”, conta.
E acrescenta: “Em mais lado nenhum do mundo há uma coisa assim”.
Luís Neves é músico há largos anos, foi guitarrista na banda ‘pimba’ “João Fernandes e Amigos”, mas sempre quis ter uma banda própria.
“Barcelos tem muitos músicos, mas aqui não há muitos espaços que tenham música ao vivo, logo é difícil de encontrar gente que partilhe os mesmos gostos que os meus”, conta. Não conseguiu encontrar as almas gémeas, mas não quis “estar parado”. Fez um projeto a solo, onde começou a aprender a fazer ‘beats’ do “zero”, com “muitos tutoriais do YouTube”.
Depois de lançar o EP no final do ano, acompanhado por cinco videoclipes, já deu um concerto. O segundo é na terça-feira, no carnaval da freguesia de Pereira, em Barcelos.
Logo no primeiro espetáculo, Louis G mostrou ao que vem com um concerto “cheio de vida e calor” num bar na freguesia de Roriz, em Barcelos.
Como tem orgulho de dizer, não foi bem um concerto, foi mais um “espetáculo”. “O Quim Barreiros diz isto numa entrevista: Eu toco o que as pessoas querem ouvir. Neste caso, eu faço um espetáculo em que as pessoas queiram estar lá e ouvir”, diz.
Compromete-se a “entreter” e fazer as pessoas “felizes”.
E, depois de Barcelos, o resto do Minho que se cuide. “Estou a trabalhar no meu primeiro álbum. Estou a tentar expandir a minha área de observação a todo o Minho”, remata.