É sempre novidade quando se avista um lobo-ibérico no distrito de Viana do Castelo, até porque, segundo os últimos censos da CIBIO, restam apenas cerca de 30 exemplares no Minho, divididos em pouco mais de cinco alcateias. E quando são dois os exemplares, é ainda mais raro.
Emanuel Oliveira foi um dos ‘sortudos’ que conseguiu por a vista em cima de dois lobos. E filmou um deles. Tudo aconteceu esta quarta-feira, numa zona rural do Alto Minho, que não identificamos propositadamente, mas situava-se junto a um acesso à autoestrada.
A O MINHO, Emanuel, que é investigador e consultor na área dos incêndios, bem como formador, professor e membro do Observatório Técnico Independente, revela que “ganhou o dia” com este avistamento.
Habituado a “andar no monte”, já tinha por várias vezes seguido rastos de lobo, tanto no Alto Minho como em Ourense, já na zona da Galiza, mas nunca tinha tido sucesso em conseguir avistar um. Mas hoje foram logo dois.
“O comportamento do animal foi o de um animal doméstico. Tentei filmar o segundo, mas não consegui. Devem ser macho e fêmea e devem estar a fazer o seu clã”, considerou.
Emanuel, que está bastante familiarizado com a zona onde ocorreu o avistamento, reforça que ali existem “muitos animais selvagens, como corços”. “No ano passado já tinha ouvido os uivos, mas este ano é que vi o que julgo tratar-se de um casal”, adiantou.
O investigador lamenta ter deixado o equipamento fotográfico em casa, e só ter tido a possibilidade de filmar com o telemóvel. “Mas era difícil de focar porque o lobo está com aquele pelo acastanhado e fica camuflado com as folhagens de outono/inverno”, conta.
Emanuel considera ainda que a aproximação dos lobos a zonas habitadas pelo ser humano é muito por causa do abandono dos campos agrícolas. “Sai o homem e entra o bicho. Os campos de cultivo estão a ser abandonados e tornam-se zona de pasto para a vida selvagem, como os corços, que são presas naturais do lobo”, afirma.
“Mas também tenho impressão que tem a ver com fogos e queimadas. Os animais fogem e procuram sítios mais calmos, como os humanos”, apontou.
Emanuel considerou “estranho” ter estado a 10, 20 metros do animal, e este ter manifestado total indiferença, continuando na sua actividade a marcar território e a tentar, provavelmente, impressionar a fêmea.
Assegura que nunca teve medo: “Estes animais são mais medrosos do que nós. Se fosse uma alcateia, não estaria tão sossegado, mas neste caso não há risco algum”.
Ao que apurou O MINHO junto de fonte oficial do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, entidade que monitoriza o lobo-ibérico no Norte de Portugal, existem entre 30 a 40 lobos em toda a região do Minho, com especial incidência na zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês. A nível nacional, serão cerca de 300.
O número é manifestamente reduzido, sendo que os restantes dois centos e meio estão dispersos por Trás-os-Montes e Alto Douro.
Existem ainda algumas (muito poucas) alcateias a sul do rio Douro, mas a extinção nestes locais parece cada vez mais iminente.