Após vários anos de luta de diferentes associações animais e movimentos ecologistas, o Governo espanhol aprovou a inclusão do lobo-ibérico na lista de espécies silvestres de proteção especial – o primeiro passo para que termine a caça autorizada a esta espécie no país vizinho.
A votação decorreu ontem, na comissão estatal de património natural, que reúne todos os representantes das comunidades autónomas daquele país. Apesar do voto contra das províncias a norte do rio Douro, como é o caso da Galiza, a inclusão da espécie foi votada por maioria, ainda que por uma curta margem.
A proposta, como noticiou O MINHO na altura, estava a cargo do Ministério para a Transição Ecológica, mas estava em risco de aprovação face às posições de províncias como a Galiza, onde a caça é autorizado em nome do controle da espécie. Nesta votação, os galegos votaram contra, assim como Castela e Leão, Astúrias, Cantábria, Andaluzia, Madrid, Múrcia e País Basco, num total de oito votos contra. A favor votaram oito províncias e o Governo (9 votos) enquanto Navarra, Valencia e Ceuta abstiveram-se, permitindo assim a passagem da proposta.
Para além da interdição da caça ao lobo, a espécie passa a ficar ainda mais protegida, com salvaguarda de aplicação de uma nova estratégia – ainda a decidir – para a sua preservação.
Em Espanha, não há uma homogeneização acerca das leis que protegem este tipo de animal. Se a Sul do rio Douro é totalmente proibido caçar ou abater o lobo-ibérico, a Norte do mesmo rio existem excepções que devem ser autorizadas pelas respetivas comunidades autónomas, desde juntas locais até à entidade máxima da província.
Por isso, ainda se realizam caçadas ao lobo em algumas serras galegas, algo que o Governo espanhol quer ver terminado com este novo projeto aprovado. Mas, de acordo com as Juntas autónomas que ainda as praticam, essas caçadas são realizadas sempre que se verificar perigo para o gado doméstico quando aumenta a incidência de ataque de lobo em determinadas localidades.
Não só Galiza, mas também Astúrias, Cantábria e Castela e Leão, as outras províncias espanholas com maior número de alcateia, conseguiram paralisar uma vez a proposta do Ministério de Transição Ecológica e Reto Demográfico que incluía o lobo na lista de espécies selvagens em regime de proteção especial.
Segundo o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, entidade que monitoriza o lobo-ibérico no Norte de Portugal, o lobo não representa ameaça direta ao ser humano, mas para os outros animais o perigo adensa-se.
Diz aquele instituto que cerca de 90% do alimento do lobo na região minhota são animais domésticos que andam a pastar nos montes e serras, muitas vezes em modo pastoreio autónomo, como bovinos e equídeos. Outras presas são os corços e os javalis, que abundam na região de Trás-os-Montes, facilitando a sobrevivência e expansão do animal naquele território. Apesar de poder passar vários dias sem comer, em média, um lobo adulto deve ingerir entre 3 a 5 quilos de comida por dia.
Em termos de proteção legal a nível internacional, o lobo-ibérico é uma espécie “estritamente protegida”, segundo a Convenção de Berna. Já a nível nacional existe a lei de proteção do lobo-ibérico (Lei n.º 90/88 de 13 de agosto e Decreto-Lei 139/90 de 27 de abril) que a aponta como uma “espécie estritamente protegida em Portugal”.