Odete Araújo
Professora da Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho
O envelhecimento das populações potenciou o colapso nos sistemas de saúde e de proteção social, concorrendo para a (re)descoberta do papel central e a responsabilidade que as famílias ocupam na prestação de cuidados às pessoas dependentes.
Apesar das motivações dos cuidadores informais (maioritariamente familiares) e dos ganhos que advêm da prestação de cuidados às pessoas com algum tipo de dependência física e/ou mental, é unânime que este papel, pela duração e pela complexidade dos cuidados, representa um desgaste físico e mental. Este desgaste, muitas vezes designado de exaustão, stress ou sobrecarga do cuidador, pode conduzir a níveis de ansiedade e de depressão, de solidão e de desesperança, provocando um impacto a nível físico, mental, emocional, social e económico na vida dos cuidadores e com repercussões na vida de quem é cuidado. Os níveis de sobrecarga e do impacto na saúde do cuidador depende de vários fatores, designadamente das suas estratégias de resposta e de adaptação à situação, em particular, mais informação sobre a doença e sobre como cuidar da pessoa com dependência física e mental estão relacionados com menores níveis de sobrecarga.
O conhecimento e o uso daquelas estratégias dependem do nível de Literacia em Saúde Mental, ou seja, quanto mais elevado for o nível, maior é o conhecimento e a capacidade para responder de forma ajustada aos desafios e às dificuldades relacionadas com a situação de cuidar de alguém dependente. As pessoas com maiores níveis de Literacia em Saúde Mental Positiva (LSM+) estão mais comprometidas com a sua saúde e tendem a envolverem-se na procura de melhores recursos na família e na comunidade, através de estruturas de complementaridade de prestação de cuidados. Os profissionais de saúde, designadamente os enfermeiros, devem integrar na sua intervenção o modo como os fatores individuais, sociais e contextuais influenciam a LSM+ podem melhorar/potenciar a motivação e a competência para aceder, compreender, avaliar e aplicar o conhecimento. Este aumento da LSM+ terá efeitos no aumento da Saúde Mental Positiva (SM+), no que se refere à competência na resolução de problemas, autonomia, satisfação pessoal, relações interpessoais, autocontrolo e atitude pró social.
Empoderar o cuidador significa, então, dotá-lo de capacidades para mobilizar o conhecimento técnico e científico e poder tomar as melhores decisões sobre a sua saúde física e mental e, por seu turno, cuidar melhor e com menos desgaste físico e mental.
A este propósito, no próximo dia 23 de novembro, às 18:00, decorrerá uma Health Talk (online) sobre a relevância dos cuidadores informais e contará com a coordenadora do Projeto ProCuidador; e terá, também, o testemunho de um cuidador informal. A sessão é gratuita, mas requer inscrição prévia aqui. Informações mais detalhadas sobre esta iniciativa promovida pela Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho encontram-se nas redes sociais das Health Talks (Instagram, Facebook, LinkedIn, Spotify).
A rubrica Health Talks é uma parceria da Escola Superior de Enfermagem da UMinho com O Minho. Na última semana de cada mês é publicado um artigo de opinião que visa empoderar as pessoas, partilhar informação baseada na evidência científica e fomentar comportamentos saudáveis. O objetivo é valorizar o bem-estar físico, mental e social a nível individual, familiar e comunitário, além de aumentar a literacia em saúde dos cidadãos e aproximá-los dos cientistas.