O candidato do CDS à presidência da Câmara de Vila Verde em 2017 anunciou hoje que não irá recandidatar-se no sufrágio de 2021 e colocou o seu lugar como vice-presidente da comissão distrital, liderada por Nuno Melo, à disposição. Assumiu ainda “fracasso” por não saber “por andam” os militantes naquele concelho.
Paulo Marques aponta o dedo às hierarquias, falando em “desprezo” por ter aguardado “os últimos seis meses” para saber se poderia ou não avançar com uma candidatura. Para o centrista, o tempo útil acabou e “perdeu-se o timing” essencial para preparar a campanha de forma “profissional”.
“Aguardei os últimos 6 meses por um esclarecimento e posição do meu partido a nível da minha estratégia, mas isso nunca aconteceu”, diz, lamentando não ter sido “merecedor de um email ou um telefonema com uma indicação, orientação ou qualquer sinal de boa-vontade”.
“Este foi mais um episódio de desprezo, entre outros que aconteceram nos últimos anos, e que muito me desagradaram enquanto líder de uma estrutura local. Comigo não. Sou um homem feito de lealdades, respeito e verticalidade. Nos dias de hoje, quiçá, já um homem ‘à moda antiga’, mas tenho muito orgulho nisso”, vinca.
“A par de todas estas situações assumo, também, o meu fracasso junto dos militantes do CDS em Vila Verde. Na verdade, não sei por onde andam”, assume. Para não “avançar sozinho”, decide que não será candidato em 2021, assumindo a decisão como “definitiva”.
Lugar de vice à disposição
“Obviamente, e como consequência direta desta minha decisão, não serei candidato às próximas eleições internas do CDS em Vila Verde (devem acontecer em breve) nem participarei de forma alguma no processo. Por outro lado, como também seria de esperar, colocarei o meu lugar de vice-presidente distrital ao dispor de Nuno Melo, presidente da mesma”, escreveu Paulo Marques.
Um concelho onde o partido foi rei e senhor durante duas décadas
Foi há 44 anos. No dia 12 de dezembro de 1976, o concelho de Vila Verde elegia o primeiro presidente de Câmara em democracia. António Cerqueira era o candidato pelo CDS, vencendo PSD e PS com 38,28% dos votos.
No distrito de Braga, nesse ano, foram ainda eleitos presidentes de Câmara pelo partido Tomé Macedo (Amares), João Almeida (Cabeceiras de Basto) e Alexandre Faria (Esposende), demonstrando o poder que o partido de inspiração cristã, com o apoio da comunidade mais rural ligada à Igreja, à agricultura e à pecuária.
Cerqueira voltaria a vencer as eleições em Vila Verde pelo CDS por cinco vezes, numa das quais coligado com o PSD. O partido laranja acabaria por retirar os centristas do poder em 1997, com a vitória de José Manuel Fernandes, atual eurodeputado eleito pelos social-democratas. Nunca mais o PSD saiu do ‘trono’.
O concelho foi varrido por uma onda laranja a nível político e muitos dos altos dirigentes centristas do concelho mudaram de ‘cor’. António Vilela, que sucedeu a José Manuel Fernandes como presidente da autarquia (cumpre agora o terceiro e último mandato), foi da concelhia do CDS, por exemplo.
Os centristas ainda conseguiram a proeza de eleger um vereador em 2009, fruto do regresso à política do ‘sebastiánico’ António Cerqueira, que entretanto cumprira pena de prisão entre 2004 e 2006 pelo crime de peculato, falsificação de documentos e abuso de poder enquanto comandou o destino do concelho durante duas décadas.
Paulo Marques tentou recuperar o partido nas últimas autárquicas de 2017, conseguindo uns modestos 5,67%. Desconhece-se quem poderá ser o novo ‘timoneiro’ de um barco que segue a todo o vapor rumo a uma nova ameaça ainda mais à direita, podendo ocorrer um ‘naufrágio’ político.