Laurentino Dias ou Fernando Gomes, um deles será o novo presidente do Comité Olímpico

Vencedor conhecido na quarta-feira
Foto: Lusa

O novo presidente do Comité Olímpico de Portugal será conhecido na quarta-feira, com Laurentino Dias ou Fernando Gomes a sucederem a Artur Lopes, após um processo marcado pela desistência de três candidatos.

Quase sete meses após o falecimento de José Manuel Constantino, o homem que presidiu ao organismo entre 26 de março de 2013 e 11 de agosto de 2024, dia em que morreu vítima de cancro, será conhecido o novo presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), no culminar de um processo eleitoral nem sempre ‘pacífico’.

Uma ‘corrida’ que começou a cinco será concluída apenas pelo antigo secretário de Estado do Desporto Laurentino Dias e pelo ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) Fernando Gomes, com um dos dois a ser eleito para o quadriénio 2025-2029, cujo exponencial máximo serão os Jogos Olímpicos Los Angeles2028.

+++ 11 de agosto +++

José Manuel Constantino morreu aos 74 anos, vítima de doença prolongada.

A morte do pensador do desporto aconteceu durante a cerimónia de encerramento de Paris2024, onde a Missão portuguesa conseguiu o melhor resultado de sempre, com um ouro, duas pratas e um bronze, o mesmo número de medalhas alcançado em Tóquio2020.

+++ 11 de agosto +++

A Comissão Executiva decidiu propor o então vice-presidente Artur Lopes como substituto de José Manuel Constantino na presidência do organismo, com a decisão a ser votada, posteriormente, numa Assembleia Plenária.

+++ 05 de setembro +++

Artur Lopes foi confirmado, por unanimidade, como presidente do COP até ao fim do mandato da atual equipa, que deveria prolongar-se até ao primeiro trimestre de 2025.

Antigo presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), Lopes era vice-presidente do COP há 23 anos, tendo iniciado funções com Vicente Moura e cumprido os três mandatos de Constantino.

+++ 07 de novembro +++

Antigo secretário de Estado do Desporto, nos dois governos liderados por José Sócrates (2005 a 2011), Laurentino Dias tornou-se no primeiro candidato anunciado à presidência do COP.

O jurista, natural de Fafe, apresentou-se para uma eleição “particularmente exigente”, por acontecer “na sequência da perda de uma liderança forte e incontestada na pessoa de José Manuel Constantino que, durante mais de uma década, levou o desempenho do Comité a altos níveis de credibilidade e prestígio públicos”.

+++ 14 de novembro +++

A intenção era clara há vários meses, mas José Manuel Araújo escolheu o dia da Celebração Olímpica para confirmar, ainda que de forma indireta, a sua candidatura à presidência do organismo.

Secretário-geral do COP desde março de 2013, nos três mandatos da presidência de José Manuel Constantino, agendou a apresentação do seu programa para seis dias depois, sendo o primeiro a elencar publicamente as suas propostas para o futuro do COP.

À entrada para a Celebração Olímpica, gala que decorreu em Lisboa, Jorge Vieira, presidente cessante da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), declarou ser inevitável concorrer à liderança do COP, depois de ter sido “desafiado” por várias federações para essa “possível missão”.

+++ 19 de novembro +++

O advogado Alexandre Mestre tornou-se no quarto candidato declarado à presidência COP, com o ex-secretário de Estado do Desporto e Juventude do Governo de Pedro Passos Coelho a assumir a “ambição de querer ir mais longe no apoio aos atletas, aos técnicos, às federações, ao Movimento Olímpico Português em geral”.

+++ 26 de novembro +++

As eleições dos órgãos sociais do COP para o mandato 2025-2029 foram agendadas para 19 de março de 2025, com a Assembleia Plenária a aprovar ainda a Comissão Eleitoral composta por Vasco Lynce, que viria a presidi-la, Ana Vargas e João Mariz Fernandes.

+++ 20 de dezembro +++

Após meses de rumores, impulsionados por artigos na imprensa desportiva e não só, Fernando Gomes, ainda presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), apresentou-se como candidato.

Numa mensagem de vídeo publicada no site da candidatura, Gomes declarou querer “contribuir para o engrandecimento do olimpismo” e anunciou ter o apoio das federações de basquetebol, canoagem, râguebi, ténis, atletismo e triatlo.

+++ 07 de janeiro +++

Laurentino Dias e José Manuel Araújo uniram-se numa candidatura única à presidência do COP, com o antigo secretário de Estado do Desporto a encabeçar a lista e o secretário-geral do organismo a ser o seu primeiro vice-presidente.

A ‘fusão’ das candidaturas aconteceu como resposta a um apelo feito pelas federações e demais organismos que os apoiavam.

+++ 13 de janeiro +++

A Comissão Eleitoral fixou as datas do processo que culminará com a escolha do novo presidente, indicando que os candidatos tinham até 27 de fevereiro para apresentar as suas listas, com cada candidatura a ter de ser subscrita por nove federações olímpicas.

A dúvida quanto às subscrições necessárias animou a ‘campanha’ eleitoral, uma vez que as interpretações dos estatutos não eram claras quanto ao número de federações necessárias.

Os estatutos estipulavam que as listas tinham de ser subscritas por “pelo menos um quarto das federações desportivas cujas modalidades figurem no programa dos Jogos Olímpicos”, que desde 01 de janeiro são 34.

No dia em que o processo eleitoral ficou definido, Jorge Vieira desistiu da sua candidatura, por considerar que as eleições tinham assumido contornos políticos inéditos no movimento olímpico.

“O processo eleitoral progrediu no sentido da polarização entre, sobretudo, dois candidatos que disputam o apoio das federações, baseando-se na lógica do voto útil. Esta lógica não privilegia a apresentação e debate de ideias e projetos, mas, tão só, a adesão a um dos candidatos e às vantagens que, supostamente, lhes são garantidas”, defendeu, numa alusão a Laurentino Dias e Fernando Gomes.

+++ 27 de fevereiro +++

Alexandre Mestre esperou pelo último dia para a formalização das listas para retirar a sua candidatura, criticando a “bipolarização” da campanha entre Laurentino Dias e Fernando Gomes.

“De cinco pré-candidatos, ficámos três. Foi então criada uma lógica de bipolarização. Esse facto, aliado a um processo eleitoral muito condicionado a diferentes títulos, gerou a perceção da necessidade de um voto útil […]. Neste enquadramento, não estando preenchidos os requisitos formais para formalizar a candidatura aos órgãos estatutários do COP, não serei candidato a presidente do COP”, declarou Mestre, que durante a campanha nunca identificou que federações o apoiavam.

A Comissão Eleitoral confirmou que Dias e Gomes seriam os únicos candidatos à presidência do COP nas eleições de 19 de março, com ambos a apresentarem nesse dia as suas listas na sede do organismo, em Lisboa.

+++ 03 de março +++

O sorteio ditou que Laurentino Dias encabeçaria a Lista A nas eleições e o ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol Fernando Gomes a Lista B.

+++ 19 de março +++

O ato eleitoral decorrerá entre as 17:00 e as 19:00, na sede do COP, na Travessa da Memória, em Lisboa, com o anúncio do sucessor de Artur Lopes a ser feito depois de contados os votos no mesmo local.

+++ 25 de março +++

Os novos órgãos sociais vão ser empossados no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

São mais as semelhanças do que as diferenças nos programas dos candidatos

Há mais a unir do que a separar as candidaturas de Laurentino Dias e Fernando Gomes ao Comité Olímpico de Portugal (COP), com ambos a reconhecerem a importância de atrair mais investimento privado e reforçar a visibilidade do organismo.

Os estilos podem divergir, mas os conteúdos programáticos são semelhantes: se um [Gomes] prefere apontar metas quantitativas e percentuais, o outro [Dias] opta por dar exemplos concretos das suas medidas, como a revisão do código do IVA relativo às despesas associadas à prática desportiva ou do regime de Segurança Social para atletas.

Mas, no essencial, ambos concordam em pontos fundamentais como a valorização do programa de Esperanças Olímpicas, a preocupação com a preparação do pós-carreira ou a revisão do Estatuto do Dirigente Associativo Voluntário, uma ideia já defendida por José Manuel Constantino, sem esquecer também a sustentabilidade, num ‘piscar’ de olho ao Comité Olímpico Internacional (COI), que fez dessa uma das suas atuais bandeiras.

O maior ponto de encontro será, no entanto, a defesa da captação de mais investimento privado para o organismo e de uma maior visibilidade do COP e da marca ‘Equipa Portugal’, nome dado aos atletas que representam o país ao mais alto nível.

Fernando Gomes é mais ‘insistente’ nesse ponto, mostrando-se apostado em “amplificar a visibilidade das iniciativas e conquistas portuguesas”, com o reconhecimento público dos atletas, dos seus treinadores e dos seus feitos como meta.

Com o atleta como principal vetor, o programa do antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) parece marcadamente influenciado por contributos de antigos olímpicos, nomeadamente de Diana Gomes, que escolheu para sua secretária-geral, como é percetível em medidas como a intenção de criar um programa de prevenção e recuperação de lesões para desportistas que participem nos Jogos ou de dar voz à Comissão de Atletas Olímpicos (CAO) nos processos de decisão da entidade.

A fundação de uma Casa das Federações, que proporcione serviços de apoio às federações mais pequenas, é outra das medidas distintivas do antigo basquetebolista, que se propõe reforçar o financiamento de todas as entidades federativas em, pelo menos, 15% até 2028.

Comprometendo-se a organizar um grande evento multidesportivo internacional no país até 2032 – ao que a candidatura de Dias contrapõe com os já atribuídos Jogos do Mediterrâneo de praia em 2027 -, Gomes quer também potenciar a imagem de Portugal no exterior, nomeadamente aumentando o número de portugueses em posições de liderança em organizações internacionais ou a presença (em 25%) de seleções estrangeiras nos Centros de Alto Rendimento (CAR), curiosamente ‘criados’ pelo seu adversário.

O líder da Lista B está apostado em reforçar ou estabelecer parcerias, seja com autarquias, instituições de ensino, o Comité Paralímpico ou mesmo com o Governo, antevendo “trabalhar em alinhamento” com os ministérios relevantes para o setor.

O vasto programa, dividido em cinco objetivos estratégicos, não esquece a inclusão e a diversidade: além de querer aumentar em 50% o número de federados entre as pessoas com deficiência até 2028, Gomes estipula que, pelo menos, 40% dos cargos dirigentes sejam ocupados por mulheres até 2030.

O programa de Laurentino Dias, por seu lado, inclui já uma menção ao Contrato-Programa anunciado pelo Governo em dezembro, através do qual o COP receberá quase 50 milhões de euros até 2028.

Nesse sentido, propõe prestar apoio técnico às federações desportivas – muito visadas pelas suas propostas -, especialmente às de menor dimensão, nos processos de candidatura aos apoios do Contrato-Programa, “garantindo que todas tenham acesso equitativo aos recursos disponíveis”.

A mesma preocupação estende-se à distribuição das verbas das apostas desportivas, cujo modelo tem de ser revisto, de modo “a promover a correção de assimetrias”.

Num programa mais ‘político’, o antigo secretário de Estado do Desporto (2005-2011) promete defender a autonomia do COP e do desporto nacional face “a quaisquer influências políticas, económicas ou comerciais que desvirtuem os Princípios Fundamentais do Olimpismo inscritos na Carta Olímpica”.

Preocupado em ‘descentralizar’ a entidade, nomeadamente através de uma delegação no norte, o jurista de Fafe não inclui essa medida no programa escrito, subdividido em seis eixos, ao contrário da formação e capacitação de treinadores de elite, o apoio a modalidades emergentes ou a celebração de Cimeiras de Presidentes (uma vez mais, foco nas federações).

Aumentar os níveis de exigência dos objetivos desportivos e do rácio entre atletas apoiados e qualificados para Los Angeles2028 é outras das propostas de Laurentino Dias, que quer consolidar o sucesso desportivo das anteriores missões olímpicas nos próximos Jogos.

A eleição dos órgãos sociais do COP para o quadriénio 2025-2029 está agendada para quarta-feira, na sede do organismo, em Lisboa.

 
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