ARTIGO DE LILIANA MATOS PEREIRA
Presidente Concelhia das Mulheres Socialistas – Igualdade e Direitos de Braga. Vereadora na Câmara Municipal de Braga.
Acaba de ser conhecida a escolha do democrata Joe Biden para a sua vice-presidência na Casa Branca.
A escolha – para alguns óbvia – recaiu sobre a advogada de 55 anos, Kamala Harris. A decisão sobre um nome feminino não é nova, apesar de ainda pouco frequente. Antes de Harris, apenas dois nomes se tinham apresentado a eleições para este cargo: a democrata Geraldine Ferraro, em 1984 e a republicana Sarah Palin em 2008. Nenhuma destas duas mulheres conseguiu, no entanto, ser eleita.
O que traz então de novo o nome de Kamala Harris e o que poderá fazer dela a primeira mulher eleita vice-presidente nos Estados Unidos?
Kamala Harris tem já o seu nome associado à igualdade de oportunidades. Foi a primeira promotora da justiça mulher de São Francisco, a primeira mulher negra a ser eleita senadora pela Califórnia e a primeira mulher com ascendência indiana em todo o Senado.
Por outro lado, a escolha de uma mulher negra vem reforçar a luta pela justiça racial, num momento em que o fim do racismo está a ser alvo de discussão por todo o mundo e, em especial nos EUA. Com a crise criada pela morte de George Floyd, foi uma das autoras de um projeto de lei que proíbe o uso de técnicas de estrangulamento por parte das forças policiais.
Harris apresenta-se como a primeira mulher negra e de ascendência afro e sul-asiática candidata à vice-presidência dos Estados Unidos e como um trunfo para tirar Donald Trump do poder. Terá sido talvez por isso que rapidamente Trump veio apelidar Harris de “mesquinha”, “horrível” e “insolente” ou, em março último, quando Biden se comprometeu a escolher uma mulher para seu número dois, o atual presidente veio apelidar tal decisão como “insulto a alguns homens”.
Mas Harris é muito mais que uma candidata negra e descendente de africanos e sul asiáticos. Kamala foi vítima de segregação racial ainda em criança e sabe, por isso, os enormes desafios que esta luta tem pela frente. A sua carreira tem sido marcada por diversas bandeiras, mais ou menos progressistas, marcadamente de esquerda. Mostrou ser destemida ainda enquanto promotora da justiça, defendendo o fim da pena capital no estado da Califórnia. Ainda no exercício destas funções, defendeu a comunidade LGBT, criando uma unidade de luta contra os crimes de ódio. Foi também responsável pela criação da plataforma online Open Justice, uma base de dados pública sobre o sistema de justiça que visa responsabilizar as forças policiais por mortes e feridos sob custódia. Foi responsável por uma reforma, que dava oportunidade aos condenados em primeiro crime por tráfico de droga, de substituírem o cumprimento da pena de prisão pela conclusão dos estudos e procura de emprego. Muitas outras lutas marcam a sua carreira.
Atualmente, em termos de educação, defende o aumento salarial para os professores e defende uma reforma no Ensino Superior, propondo um valor máximo anual para as propinas de 125 mil dólares por ano. Propõe que a licença de maternidade seja universal e paga até aos seis meses. Sobre a tão polémica questão da posse de armas, é clara na defesa de leis mais restritivas e de um maior controlo nas licenças de porte de armas de fogo.
Não admira, por tudo isto, que Kamala Harris tenha sido escolhida perante uma tão grande e qualificada lista de mulheres que, com ela, disputavam o lugar de candidata a vice-presidente. Desde a senadora e pré-candidata a presidente Elizabeth Warren, à antiga assessora de Segurança Nacional da Casa Branca e ex-embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas Susan Rice ou à latina Michelle Lujan Grisham, entre outras.
Joe Biden escolheu a “destemida lutadora”, que desafiou grandes bancos, lutou pelos direitos dos trabalhadores, protegeu crianças vítimas de maus tratos e que lutou pela igualdade de género e pelos direitos das minorias. Joe Biden fez uma escolha que representa muito mais que uma escolha por uma mulher, escolheu uma mulher de cor que representa a luta de muitas gerações de mulheres negras, asiáticas, indígenas e latinas nos Estados Unidos. Uma escolha que representa uma verdadeira igualdade de oportunidades.
Com 77 anos e como auto-denominado candidato de transição, Kamala Harris pode vir a ser a primeira mulher eleita presidente dos Estados Unidos. Mas isso é futurologia… agora o que importa é que a dupla Biden-Harris consiga vencer a eleição do próximo dia 3 de novembro e retirar da Casa Branca o desastroso Trump.
Liliana Matos Pereira
Presidente Concelhia das Mulheres Socialistas – Igualdade e Direitos de Braga
Vereadora na Câmara Municipal de Braga