Juiz Carlos Alexandre em buscas a advogados de Braga suspeitos de gerir ‘empresas-fantasma’

Carlos Alexandre. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

O juiz Carlos Alexandre presidiu a buscas nas residências e nos escritórios de dois advogados, em Braga, durante a Operação Picoas, relacionada com o Processo Altice, tendo sido apreendida documentação sobre o caso em que os causídicos figuram a título de gestores de empresas alegadamente criadas pelo empresário bracarense Hernâni Vaz Antunes, nunca como advogados.

Os dois advogados, Duarte Nuno Loureiro e Ricardo Sobral, são suspeitos de gerirem e/ou deterem ‘empresas-fantasma’ do empresário bracarense Hernâni Vaz Antunes, que dois dias depois da Operação Picoas, se entregou, na Esquadra da PSP de Matosinhos, prevendo-se que seja interrogado ainda esta semana, em Lisboa, pelo juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre.

Nesta fase das investigações criminais, o Ministério Público (MP) sustenta que o empresário Hernâni Vaz Antunes utilizaria diversas pessoas, com intermediação da sua filha mais velha, Jéssica Antunes, de 37 anos, entre os quais os advogados Duarte Nuno Loureiro e Ricardo Sobral, que elaborariam os contratos justificativos para a faturação, mas que o MP considera ter sido “fictícia”.

Ambos os advogados foram alvo das duplas buscas, em casa e no escritório, sendo um deles, Duarte Nuno Loureiro, irmão do economista Álvaro Gil Loureiro, que durante esta terça-feira está a ser interrogado, no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, pelo juiz Carlos Alexandre, sendo Ricardo Sobral o outro advogado, o segundo, de Braga, alvo das buscas judiciais.

O economista Álvaro Gil Loureiro, que reside num primeiro andar da Rua do Alcaide, na zona histórica da cidade de Braga, é um dos quatro detidos quinta-feira na Operação Picoas, tal como os empresários Armando Pereira em Guilhofrei, Vieira do Minho, e Hernâni Vaz Antunes, residente em Pedralva (Braga), a par de Jéssica Antunes, que é a filha mais velha deste último.

Segundo os indícios do Ministério Público, no processo, investigado com o apoio do Fisco e da PSP, o advogado Duarte Nuno Bandeira Loureiro surge como gestor da empresa Zenithindex SA, adquirida na Zona Franca da Madeira, em 2020, enquanto o advogado Ricardo Sobral, ambos de Braga, aparece como gestor da empresa Phitoprecious, por si detida, até janeiro de 2023.

Jéssica Antunes, a primeira arguida a ser interrogada, pelo juiz Carlos Alexandre, em Lisboa, durante dois dias, é suspeita de ter sempre ocultado o nome do seu pai, Hernâni Vaz Antunes, como o verdadeiro detentor das diversas ‘empresas-fantasma’, o que a coloca no epicentro deste megaprocesso, com repercussões muito negativas, para a principal empresa lesada, a Altice.

Advogados não comentam as suas indiciações

O MINHO deslocou-se entre segunda-feira e terça-feira aos escritórios dos dois advogados bracarenses, mas não conseguiu chegar à fala com nenhum dos dois causídicos, além de que posteriormente Duarte Nuno Loureiro não respondeu ao e-mail e às duas mensagens escritas do jornalista de O MINHO, para pronunciar-se acerca de ser o alvo das buscas judiciais.

O advogado Duarte Nuno Loureiro, irmão do economista detido, Álvaro Gil Loureiro, teve buscas no seu escritório de luxo, no terceiro piso do Edifício Liberdade Street Fashion, situado na Avenida da Liberdade, no centro da Braga, assim como na sua residência, um apartamento situado num oitavo andar da Rua de Santa Margarida, também no centro da cidade de Braga.

Escritório do advogado Duarte Nuno Loureiro fica localizado no edifício liberdade street fashion, em Braga. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

Já o advogado Ricardo Sobral, além de não abrir a porta do seu escritório, na Avenida do General Norton de Matos (Largo dos Penedos), tem um número de telefone no ‘site’ da Ordem dos Advogados, que desde novembro de 2022 não corresponde ao seu domicílio profissional, mas sim a uma casa particular, não indicando no site, qualquer outro contacto, de e-mail ou de telemóvel.

Escritório do advogado Ricardo Sobral. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

As buscas foram acompanhadas por representantes da Ordem dos Advogados, que se apresentaram para esse mesmo efeito, à hora marcada pelo juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre, no edifício da Direção Distrital de Finanças de Braga, situado na zona do Carandá, em São Lázaro, na cidade de Braga, conforme se determina expressamente no Código de Processo Penal.

Nas buscas a ambos os advogados, em Braga, estiveram também o magistrado do Ministério Público, Rosário Teixeira, bem como o inspetor tributário principal bracarense, Paulo Silva, que ao longo dos últimos anos tem coadjuvado as investigações, como perito na área do Fisco, desde a Operação Furação, até ao Caso de José Sócrates, passando pela Operação Monte Branco.

Rosário Teixeira. Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

Além dos dois advogados, a Equipa Especial do Ministério Público, liderada pelo procurador-geral-adjunto, Rosário Teixeira, indicia os suspeitos, André Coutada e José Pinto, bem como Abel João Barbosa e o economista detido para ser esta terça-feira interrogado, Álvaro Gil Loureiro, que teriam a orientação contabilística e a gestão financeira das várias ‘empresas-fantasma’.

Hernâni Vaz Antunes, com residência numa mansão em Gualtar, no concelho de Braga, para além de utilizar sua a Quinta das Eiras, na freguesia de Pedralva, em Braga, estaria no cume deste grupo, mas, de acordo com aquilo que foi até este momento apurado, teria a cumplicidade do seu amigo Armando Pereira, de Guilhofrei, Vieira do Minho, à data o número dois da Altice.

Tal como O MINHO tem vindo a noticiar, em causa estaria um esquema ardiloso, para obter ganhos à margem dos negócios da Altice, alegadamente lesando a empresa, em dezenas de milhões de euros, não só, mas também, com a venda de edifícios, todos em zonas nobres da cidade de Lisboa, vendidos aos “testas de ferro” de Hernâni Vaz Antunes e que depois as comprou.

 
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