Sete jovens vindos de vários pontos do país e de vários países estão a percorrer, em doze etapas, o caminho de Santiago. A uni-los o forró. De sanfona, ferrinhos e pandeiro vão dando a conhecer, por onde passam, aquele estilo de música brasileira. Peregrinos e populares têm-se juntado a uma forma diferente de encarar o Caminho.
O MINHO encontrou-os no albergue de Ponte de Lima, quando as primeiras mazelas físicas começavam a fazer efeito. Paulo é português, Wander e Caio são brasileiros, Natália veio da Ucrânia e Federica de Itália. Há ainda a polaca Alexandra e o libanês Adeeb. São do Porto, Lisboa e Ponte de Lima mas são, sobretudo, amigos. A paixão é o forró e “queríamos fazer coisas diferentes para levar o forró ao maior número de pessoas”, diz, sentado na esplanada em frente ao albergue, Paulo Domingues.
A ideia, que “até poderia ser considerada idiota”, de percorrer ao Caminho de Santiago com forró começou a ganhar corpo e em Mafamude instalaram o seu quartel-general. Durante 25 encontros semanais, às segundas-feiras, começaram a ensaiar, a dançar, a cantar “para fazer boa figura. O espaço era aberto a todos e foi isso que tornou tudo ainda mais interessante”.
Às quintas começaram a tocar nas Galerias de Paris, no Porto e a percorrer algumas ruas como aquecimento para a jornada do Caminho. Cinco etapas depois o balanço era “muito positivo. A receptividade tem sido muito boa. Já há que nos deixe comida e há gente à nossa espera para tocar e dançar o forró connosco”, revela Paulo.
Forró do Santo
A chegada a Santiago irá reservar uma comemoração especial. “Criamos um forró original, da autoria do Ildebrando Coelho, que iremos tocar em Santiago”. Até lá, a caminhada “é feita devagar, sem pressas” e com muita música e dança à mistura. Em frente ao albergue, franceses, italianos, alemães e portugueses juntam-se para dar uma perninha de dança e mesmo os mais desajeitados conseguem ondular o corpo. “É isto que nós pretendemos, celebrar a amizade através do forró”. Aliás o lema dos sete é bem elucidativo: “pode balançar que o forró é por nossa conta”.
Mudar vidas
Paulo revela que o forró mudou a sua vida: “melhorou o meu contacto com as pessoas, permitiu-me conhecer pessoas fantásticas numa altura complicada”. Foi através de uma amiga que conheceu este estilo de música “e desde o primeiro momento, fiquei cativado”. Para além de dançar, Paulo é o responsável pela sanfona, ou se se quiser, acordeão.
Planos para o futuro não faltam. Para além da experiência do Caminho ser para repetir, há ideias para o S. Martinho e outras datas importantes. “O forró é uma dança respeitada. A sociedade, ainda, não está desperta para ela mas quando sentem o encanto, percebem que muda de vida”.
A prova é que dos sete amigos iniciais, mais pessoas se foram juntando com eles e ao som do forró minimizam as dores físicas de um Caminho exigente, contemplativo mas que pode ser alegre e de partilha.