O jovem esfaqueado à porta do Bar Académico de Braga, na madrugada deste sábado, pagou com a sua própria vida ao alertar para a colocação de uma substância alucinogénia, ato popularmente conhecido por entre os jovens como ‘minanço’, na bebida de uma rapariga, pensando, talvez, que não teria retaliações.
Manuel de Oliveira Gonçalves, de 19 anos, aluno do 12.º ano, da Escola Secundária de Dona Maria II, em Braga, onde era mais conhecido como “Manu”, ainda foi avisar um “segurança” do Bar Académico de Braga, estabelecimento concessionado a um particular pela Associação Académica da Universidade do Minho, mas poucos instantes depois, foi agredido e expulso.
A partir daí tudo se descontrolou. Mas ainda antes de ter sido agredido, “Manu” ainda telefonou, num ato de desespero, para o namorado da irmã, que é agente da PSP, tendo o polícia aconselhado o jovem a contactar com o Comando Distrital da PSP de Braga. Os acontecimentos precipitaram-se e, apesar de ter ido logo ao local, a PSP já não chegou a tempo de evitar a tragédia.
É que àquela hora, cerca das 05:30 da madrugada de sábado, os agressores, pelo menos cinco jovens, já se tinham colocado em fuga, dentro de um automóvel, que saiu a alta velocidade, das imediações do Bar Académico de Braga, numa urbanização da freguesia de São Victor, em frente da Escola e Conservatório de Músico Calouste Gulbenkian, acordando alguns vizinhos.
A vítima foi atingida por diversas facadas, em locais muito sensíveis, chegando quase sem sinais vitais à Sala de Emergência do Serviço de Urgência do Hospital Central de Braga, onde faleceu poucos minutos após ali ter entrado, sempre com a equipa médica e de enfermagem da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do INEM junto de si dentro da ambulância.
O jovem estudante da Escola Secundária Dona Maria II, de Braga, foi assassinado com diversas facadas, encostado a uma parede em frente ao único acesso do Bar Académico de Braga, já na sequência de uma cena de pancadaria que envolveu cerca de duas dezenas de clientes daquele estabelecimento de diversão noturna, entre os quais os cinco agressores que fugiram.
É que já fora do Bar Académico de Braga, os ânimos voltaram a exaltar-se e terão tido mais que um episódio, sucedendo-se perseguições entre os contendores, tendo, a dada ocasião, um dos elementos de um grupo de cinco jovens, sacado de uma faca, que desferiu indiscriminadamente, não só, mas também, em especial na zona torácica do jovem Manuel de Oliveira Gonçalves.
A vítima foi encostada a uma parede, em frente ao Bar Académico de Braga, sofrendo diversas facadas, sempre sem quaisquer hipóteses de se defender, tendo caindo, inanimada, enquanto os agressores fugiam, assim como os outros contendores, além dos clientes que estavam naquela zona e afastaram-se logo, porque já não queriam estar ali, até para não terem que ser testemunhas.
Os vários vizinhos, ouvidos sob anonimato por O MINHO, poucos minutos após o crime, foram unânimes em fixar o momento dos incidentes minutos depois das cinco horas da madrugada, tendo-se apercebido que algum tempo antes já andavam ali dois grupos rivais a tirarem desforço, mas só com os gritos da vítima e de outras pessoas se aperceberam da gravidade da situação.
O MINHO sabe que à partida, a grande dificuldade das investigações criminais da PJ prende-se com a ausência de gravações de vídeos das câmaras de vigilância, pura e simplesmente porque não existem, pelo menos fora do Bar Académico de Braga, nem em outro local das imediações, o que poderá prejudicar, pelo menos para já, a celeridade do trabalho da Polícia Judiciária.
Um caso de criminalidade grupal
O homicídio cometido ontem na cidade de Braga foi um caso típico de criminalidade grupal, em que os crimes são praticados por três ou mais suspeitos, independentemente da idade ou do grau de participação de cada um dos seus (cinco) intervenientes.
A PSP isolou todo o quarteirão, em redor do Conservatório Calouste Gulbenkian, entre as Ruas da Fundação e do Padre Manuel Alaio, avançando para o local inspetores da Brigada de Homicídios e peritos de Local do Crime da Polícia Judiciária de Braga.
Os Bombeiros Sapadores de Braga também estiveram no local e depois das perícias policiais, limparam toda a zona envolvente, principalmente todas as manchas de sangue na parede e no chão, tal como as roupas ensanguentadas e uma sapatilha da vítima.
O histórico Bar Académico de Braga
O Bar Académico de Braga é uma das conhecidas casas de diversão noturna da cidade, funcionando na cave e nas traseiras da a quem a Associação Académica da Universidade do Minho concessionou este espaço, sendo dos mais frequentados de Braga.
Está situado num edifício inicialmente residencial, que logo a seguir ao 25 de abril de 1974 acolheu alguns dos professores da Universidade do Minho oriundos das antigas colónias portuguesas em África, que ajudaram a fundar a Universidade do Minho.
Mais tarde, as áreas residenciais que ocupavam o edifício foram sendo sucessivamente ocupadas pelos serviços administrativos da Associação Académica da Universidade do Minho, passando o Bar Académico de Braga a funcionar naquelas instalações.
Agora designado por baracadémico by insólito bar, mas com as mesmas iniciais de sempre, de BA, o Bar Académico de Braga continua a funcionar nas instalações da Associação de Estudantes da Universidade do Minho, mas com acesso pelas traseiras.
O edifício da Rua D. Pedro V, na freguesia de São Victor, foi capa do extinto jornal “o diário” quando o depois reitor, António Cunha, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte, então dirigente estudantil, surgia, numa célebre foto, de uma das varandas, com uma urna eleitoral, a atirar todos os votos para o meio da rua, após polémicas eleições.