Jovem artista de Viana do Castelo põe artes na rua ao alcance de todos

MARGEM – Espaço Criativo
Foto: Margem Criativa

Daniela Viana, de Darque, Viana do Castelo, há anos que “idealizava” um projeto que “retirasse a arte de um pódio elitista”, para a colocar ao alcance de “todos” e foi preciso a pandemia de covid-19 para o concretizar.

“Na realidade, este projeto pretende que a expressão consiga chegar a outras pessoas, não só a arte, mas a expressão. Retirar a arte de um certo pódio elitista, como só pudesse ser possível a algumas pessoas. Trazer a arte para a comunidade”, afirmou hoje à agência Lusa, a artista de 26 anos.

O MARGEM-Espaço Criativo nasceu em Darque, na margem esquerda do rio Lima, há mais de um ano, quando Daniela, licenciada em artes plásticas e com pós-graduação em expressões criativas e terapêuticas, regressou de Lisboa para a terra natal por causa da pandemia de covid-19.

Sem “recursos para o materializar o projeto”, Daniela Viana encontrou na Junta de Darque a parceria que lhe abriu as portas da Casa das Artes da freguesia “praticamente inativa”.

Foto: Margem Criativa
Foto: Margem Criativa  

O projeto começou com ateliers de pintura para jovens e adultos, entre os 14 e os 60 anos. No sábado, arrancam as aulas para crianças, entre os 7 e os 12 anos.

Pelo meio, o espaço criativo formado por Daniela promove exposições, oficinas criativas e de escrita e o que numa vila onde as artes passam “literalmente à margem”.

O MARGEM sobrevive do valor das inscrições nos ateliês, já com materiais incluídos. A jovem, que dá aulas ao primeiro ciclo e participa, “pontualmente, noutros projetos culturais de outras cidades”, até veria com bons olhos um apoio municipal “uma vez que há dinamização de públicos”, em Darque.

Foto: Margem Criativa
Foto: Margem Criativa

“Existe alguma ajuda da Junta de Freguesia, em alguns eventos, mas é uma pequena ajuda pontual”, apontou.

Com Daniela Viana, a arte nasce na sala da Casa das Artes, que “todos os dias é colocada de forma diferente, outras vezes “ao ar livre, pode ser na estação de comboios, ou noutro local qualquer da freguesia.

“Já chegámos a fazer uma sessão de pintura pelas ruas da freguesia em que que convidámos uma pessoa local que se vestiu com o fato tradicional de Darque e caminhou por vários locais. Foi uma sessão muito enriquecedora. Algumas pessoas que ficaram à janela a observar ficaram muito emocionadas e disseram que já não viam vida naquelas ruas há muitos anos”, especificou.

Foto: Margem Criativa
Foto: Margem Criativa
Foto: Margem Criativa

Daniela Viana explicou que “as aulas são sempre uma experiência sensorial, até mesmo ao nível espacial”.

“Os alunos nunca sabem ao certo o que esperar, é sempre novidade, jogando com todos os estímulos espaciais e temporais”, explicou.

No início deste mês, o trabalho realizado nas aulas foi mostrado à comunidade num caminho, local de passagem, da freguesia. A exposição “CaminhArte”, “realizada junto à margem do rio Lima, no Cais Velho, com vista para Viana do Castelo, foi um convite à população para percorrer a pé, de carro, moto ou bicicleta as criações penduradas em cordas atadas a árvores”.

Foto: Margem Criativa

“Foi uma espécie de exposição ‘drive-in’ artístico pelos percursos dos alunos do atelier de pintura”, referiu.

As aulas de pintura de Daniela Viana é um processo composto por três fases, mas antes a artista começa por “desconstruir a bagagem estética que os alunos carregam”.

“O que é o belo, o que é o feio. Por que não gosto disto? Porque é que isto me deixa desconfortável? São questões que estão sempre, diariamente, nos nossos ateliês. Muitas das pessoas dizem ter sentido mudanças na sua vida pessoal, após esta reflexão exercitada nas aulas de pintura”, referiu.

Foto: Margem Criativa

“Inicialmente, algumas pessoas sentiam-se mais reticentes à partilha e, por isso, queriam sair das aulas. Mas, com o passar do tempo, começaram a sentir realmente essencial, por terem começado a conseguir, até profissionalmente, a expressar-se muito melhor, tanto a nível oral, como por escrito.

As aulas paras as crianças e jovens, que começam no sábado, terão “um processo, temáticas e abordagens diferentes”.

“Os alunos são mais novos, e é será preciso começar a construir a bagagem visual. Ao contrário dos jovens adultos, em que o objetivo era desconstruir possíveis bagagens que cada um trouxesse”, explicou.

Foto: Margem Criativa

Apesar “de ter de fazer outras coisas” para se “conseguir sustentar”, Daniela considera o Margem-Espaço Criativo a sua “principal atividade”.

“É a que ocupa mais tempo, dedicação, imensas horas de trabalho, mesmo depois aulas. Sou eu que trata de toda a parte digital do projeto, da construção de conteúdos, de gestão e logística. Sinto que esta é a minha realização.

As instalações gratuitas que utiliza na Casa das Artes, mas são exclusivas do espaço criativo. As atividades do Margem “chamaram a atenção e têm suscitado interesse pelo espaço”, o que Daniela receia que possa colocar em causa a permanência do projeto naquele equipamento.

Reportagem de Andrea Cruz, da agência Lusa.

 
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