A exposição “1820. Revolução Liberal do Porto”, comissariada por José Manuel Lopes Cordeiro, professor de História da Universidade do Minho, é inaugurada esta quinta-feira na Casa do Infante, no Porto, e vai ficar patente até setembro. A iniciativa assinala os 200 anos da Revolução Liberal, num programa do Município do Porto que inclui meia centena de eventos, como um congresso internacional, colóquios, livros, concertos, visitas e cinema.
A mostra documental – adiantou, esta quarta-feira, a UMinho – arranca com os principais antecedentes da revolta: a ida da corte para o Brasil em 1807; a invasão napoleónica do Porto e o desastre da Ponte das Barcas em 1809; a criação pelo príncipe regente D. João do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815; a conspiração de 1817 e a execução do general Gomes Freire de Andrade, que acicatou a revolta contra a presença inglesa e do marechal Beresford; e a constituição da associação secreta Sinédrio, no Porto, para organizar a revolução.
A exposição destaca, em especial, fontes portuenses daqueles 40 dias que abalaram a História de Portugal e do Brasil há dois séculos. Para Lopes Cordeiro, “a peça principal é a ata da Câmara Municipal de 24 de agosto de 1820, cujo texto se encontra inteiramente coberto com tinta preta, uma iniciativa dos partidários de D. Miguel após a reviravolta absolutista”.
“O pronunciamento militar fez-se às cinco da manhã no Campo de Santo Ovídio (hoje Praça da República) e às oito horas estava toda a gente na Câmara, onde se aprovou a constituição da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, que inaugurava um novo regime”, explica. O professor do Instituto de Ciências Sociais da UMinho e investigador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS) ficou algo surpreendido ao constatar que o documento estava historicamente quase esquecido, apesar de então transcrito na imprensa local, divulgado em panfletos e republicado em jornais de Lisboa quando a capital aderiu ao movimento.
Vitória do liberalismo
A vitória definitiva do liberalismo foi em 1834, com a derrota miguelista na guerra civil, após o fracassado cerco do Porto, mas José Manuel Lopes Cordeiro focou a exposição até 04 de julho de 1821, quando o rei desembarcou em Lisboa. “Estavam cumpridos os principais objetivos: o rei e a corte regressaram ao país, a influência inglesa nos meios militares tinha terminado e já havia um documento provisório da Constituição”, observa.
O historiador lança em abril um livro que aborda desenvolvidamente todo o processo desta primeira tentativa de implantação do liberalismo em Portugal. Este livro supera largamente a função de catálogo da exposição, que vai ficar patente até 06 de setembro e conta com visitas guiadas, tendo entrada livre de terça-feira a domingo, das 10:00 às 17:30, e encerrando à segunda-feira e aos feriados.