Quatro eurodeputados – que entretanto passaram a três-, estão a ser alvo de críticas nas redes sociais por alegadamente terem votado contra uma moção apresentada na quinta-feira sobre busca e salvamento de refugiados no Mediterrâneo. Dois deles são do Minho. Mas, na realidade, apenas um deles votou contra. Tudo começou com um artigo de opinião de Marisa Matias (Bloco de Esquerda).
José Manuel Fernandes (Vila Verde) e Nuno Melo (Famalicão) não foram diretamente apontados pela eurodeputada Marisa Matias, que, através de um texto de opinião no site de propaganda do BE, apontou “uma votação” que seria “contra uma moção para o plano de busca e resgate de refugiados no Mediterrâneo”.
“Aconteceu o impensável na minha cabeça. A proposta de salvar vidas foi chumbada por dois votos, 290 contra 288. Um murro no estômago, um nó na garganta. Pensei para comigo: há mesmo uma maioria de representantes que quer que continuem a morrer pessoas no Mediterrâneo?”, questionou a eurodeputada de esquerda.
Mas as redes sociais foram buscar quatro exemplos de eurodeputados portugueses que terão votado contra esta proposta chumbada com a diferença de apenas dois votos no hemiciclo europeu. Uma das publicações mais partilhadas é da autoria de António Costa Santos, radialista da Antena 2, conhecido por defender o apoio aos migrantes em solo europeu.
Nas redes sociais, os quatro nomes apontados passaram depressa a três, já que Maria da Graça Carvalho (PSD) veio a público dizer que o voto contra se tratou de um lapso “técnico”, tendo depois sido reposto como a favor. Nuno Melo (CDS) e Álvaro Almado (PSD) votaram efetivamente contra a moção apresentada.
Esclarecimento: é falso que tenha tomado posição contra o auxílio aos refugiados. O meu voto, na resolução em causa, foi favorável. Houve um erro técnico na votação que corrigi de imediato, ainda na sessão plenária, como poderão confirmar pela imagem. #refugiados #fakenews pic.twitter.com/IQ8FV9BTkq
— Maria Graça Carvalho (@mgracacarvalho) 29 de outubro de 2019
José Manuel Fernandes fala em “vergonha”
José Manuel Fernandes (PSD) absteve-se na votação. Mas não nas redes sociais. O eurodeputado, antigo presidente da Câmara de Vila Verde e presidente da distrital de Braga do PSD, escreveu na sua página de Facebook um feroz ataque à “esquerda portuguesa, sobretudo a radical”, a quem apelida de “campeã da demagogia e das meias verdades”.
JMF relembra que se absteve na moção mencionada por se tratar de “um texto mau”, e que “entre um texto mau ou nenhum”, prefere “nenhum”. Diz também que uma outra moção referente a este tema foi apresentada pelo Partido Popular Europeu [ao qual pertence], e que a esquerda votou contra. “Se eu também fosse demagogo diria que eles são contra o salvamento dos refugiados”, escreve JMF.
A proposta em questão, que diverge em alguns aspectos da apresentada pela esquerda europeísta, instava os Estados-Membros e a Frontex [Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira], a intensificarem os seus esforços de apoio às operações de busca e salvamento no Mediterrâneo, não sendo verdade que os eurodeputados “votaram contra a busca e salvamento dos refugiados”, como se lê em vários comentários nas redes sociais.
Sobre o projeto de busca e resgate, José Manuel Fernandes dá conta da falta de consenso entre as diferentes bancadas do Parlamento Europeu. Diz mesmo ser o seu “maior lamento” em toda esta novela e aponta essa falta de entendimento como “uma vergonha”.
O eurodeputado recorda a declaração de voto aquando se absteve sobre esta matéria, apontando que “a União Europeia é um projeto humanista, universal, que não deixa ninguém para trás” e que “é também um condomínio sólido, seguro, que devemos preservar”.
“Assim, o fortalecimento da resposta europeia aos naufrágios no Mediterrâneo é, sem dúvida, premente. Em particular, as operações de busca e salvamento são essenciais para salvar vidas humanas, mas também para lutar contra entidades criminosas que hoje traficam seres humanos nesta região”, relembra JMF.
No entanto, a abstenção deveu-se à falta “da promoção do equilíbrio necessário para tornar as fronteiras da União num lugar mais seguro e humano”, indicando que a moção “favorece a criação de negócios privados, à conta de um drama que nos toca a todos”.
Nuno Melo diz ser “falso” votar contra salvamento de refugiados
Nuno Melo, também visado nas críticas, já reagiu através das redes sociais, indicando que a afirmação de que terá votado contra salvamento de refugiados é “falsa, insidiosa e revela o carácter de quem a profere”.
O centrista, à semelhança de José Manuel Fernandes, relembra a proposta apresentada anteriormente que foi rejeitada por vários eurodeputados afetos à esquerda.
“Só por absurdo se poderia imaginar que uma maioria dos deputados no Parlamento Europeu desejasse a morte de quem seja. Causa perplexidade esta conclusão tão óbvia não ocorrer a quem coloca essa possibilidade”, acrescenta.
Nuno Melo explica que “foram várias as propostas sujeitas a votação e não apenas uma, com o mesmo objetivo”, sendo que o PPE, grupo a que pertence, “apresentou uma proposta com o mesmíssimo fim – entre outras coisas, cuidar do resgate e salvamento de pessoas em risco no Mediterrâneo -, proposta esta que foi chumbada”.
“Ou seja, significa isto que não foi apenas a proposta do relator socialista (B9-0154/2019) que foi chumbada com votos da direita. Foram todas propostas, nomeadamente as referidas, com votos da esquerda”, acrescenta.
Terminando, Nuno Melo explica que votou contra esta última proposta por não existir uma diferenciação entre “migrantes e refugiados” e porque esta proposta daria mais poder às ONG.
Notícia atualizada com reação de Nuno Melo