Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural pela UMinho – Investigador em Património Industrial
O património industrial leva-nos a percorrer caminhos infindos, tal é a sua magnitude, a sua abundância, as suas fascinantes estórias e a sua própria história. Hoje, trazemos a lume o nome de um dos mais reputados engenheiros do século XIX: José Eugenio Ribera Dutaste.
Todavia, em que medida é que essa fascinante figura de proa da engenharia de Oitocentos se agremia ao nosso país? Ora, José Eugenio Ribera Dutaste nasce no dia 06 de outubro de 1864, na cidade de Lisboa. Apesar de as suas origens nada terem que ver com Portugal – uma vez que o seu pai era catalão e a sua mãe francesa – é neste pedaço da Península Ibérica que os Deuses decidem que tome os seus primeiros raios de luz e respire pela primeira vez. O seu pai, também ele engenheiro, trabalhava em Portugal na construção de um dos maiores empreendimentos da época: os Caminhos de Ferro. Entre 1882 e 1887, estuda na Escola de Caminhos (estradas), em Paris. Após uma breve colaboração com o pai, em 1887, é convocado para trabalhar para o Estado, sendo designado para chefiar as Obras Públicas de Oviedo, onde permanece ao longo de doze anos. Nesse cargo, inicia a construção de pontes metálicas, como a ponte de Ribadesella (1888-1892), sobre o rio Sella, com 300 metros de comprimento e que, na época, se torna a mais longa da Península Ibérica. A construção da referida ponte dá origem ao lançamento do livro “Puentes de hierro económicos, muelles y faros sobre palizadas y pilotes metálicos” (1895), no qual estuda, analisa e recolhe dados preciosos sobre construções metálicas em todo o mundo, bem como o sistema pioneiro de fundações com estacas roscadas ou Mitchell. Em 1894, é encarregue do projeto de construção da estrada de Fonfría a Salamanca e Fermoselle, no qual se inclui a construção de um imponente Viaduto que realiza a travessia do rio Douro, entre as localidades de Pino del Oro e Villadepera, na Província de Zamora.
Após vários anteprojetos e múltiplas viagens realizadas ao estrangeiro, José Eugenio Ribera Dutaste, adota o ferro como elemento estrutural para a construção do Viaduto. A Obra de Arte contempla um arco parabólico central, em treliça metálica, com 90 metros de altura e 120 metros de vão; para o piso rodoviário, o insigne engenheiro prevê a colocação de madeira, porém, é executado em pedra (macadame) devido às suas superiores qualidades.
Em 1899, José Eugenio Ribera Dutaste, funda a sua própria empresa, denominada – Compañia de Construcciones Hidráulicas y Civiles – que concretiza todo o tipo de obras, desde pontes, viadutos, aquedutos, depósitos, entre muitas outras.
Anteriormente à construção dessa sumptuosa Obra de Arte, para o atravessamento do rio Douro, recorria-se a barcas de passagem, cujas origens se perdem nas brumas do tempo. Hodiernamente, o Viaduto de Requejo perfaz 110 anos ao serviço das populações, marcando de forma indelével aquela geografia, onde se encaixa com tal perfeição que mais parece um elemento natural, caracterizado pelo arrojo, leveza, beleza, robustez e segurança. Ao longo dos tempos é alvo de diversos melhoramentos, como em 2013, em que é completamente reabilitado, substituindo-se o piso do tabuleiro rodoviário, executado em cimento armado, reparação e reforço das vigas principais do tabuleiro, aplicação de um novo sistema de drenagem do tabuleiro e a sua impermeabilização, entre outras intervenções. Neste último caso, os trabalhos estiveram a cargo da firma – Collosa; Projeto e Assistência Técnica – Eipsa; Direção de Obra – Consejería de Fomento y Medio Ambiente (Junta de Castilla y León).
A terminar, deixamos a indicação de publicações de importante relevo para o estudo da vida e obra de José Eugenio Ribera Dutaste, também ele um mago do ferro:
Obras publicadas
Puentes de hierro económicos, muelles y faros sobre palizadas y pilotes metálicos, Madrid, 1895; Estudios sobre Grandes Viaductos, Madrid, Revista de Obras Públicas (1897); Hormigón y Cemento armado. Mi sistema y mis obras, 1902; Puentes de Hormigón Armado, 1903; Puentes metálicos en arco y de hormigón armado. Grandes Viaductos, (1905); Catálogo de obras de J. Eugenio Ribera y Compañía de construcciones hidráulicas y civiles fundada en 1899, 1910; Ferrocarriles directos y ferrocarriles complementarios. La verdad sobre el ferrocarril directo de Madrid a Valencia, 1913; El ferrocarril de Tánger á Alcázar, 1915; Ministerio de Fomento. Dirección General de Obras Públicas. Modelos de puentes en arco de hormigón armado: Memoria, 1925; De la question de l’electrification des lignes secondaires, Bulletin de l’Association Internationale du Congrès des Chemins de Fer, 12 (1929); Puentes de fábrica y hormigón armado, 1925-1932; En mi última lección, establezco mi balance profesional, (1931).