O Jornal de Barcelos está à venda após a sua detentora, a Cooperativa Barcelense de Cultura, se ter declarado insolvente.
O título, fundado em 1950 e cuja última dição foi publicada em 29 de junho do ano passado, está no site E-leilões.pt (aqui) pelo valor base de 246 mil euros (já com IVA incluído).
O valor mínimo para licitação é de 209.100 euros (já com IVA incluído).
Além da marca Jornal de Barcelos (que é o ativo mais valioso), o ‘bolo’ inclui o arquivo, diverso material informático, mobiliário e uma carrinha.
Os bens têm que ser vendidos num lote único.
“Tenho a expectativa de que o leilão corra pela melhor forma para recebermos o que nos é devido”, sublinha a O MINHO Paulo Vila, ex-diretor do Jornal de Barcelos e presidente da comissão de credores.
Recorde-se que o jornal fechou deixando os trabalhadores com salários em atraso.
Paulo Vila manifesta, ainda, a esperança de que “surja alguém com vontade de recuperar o jornal e que lhe dê uma nova vida”.
O leilão encerra em 03 de outubro.
Domingos Pereira acusado de pressões políticas
O Jornal de Barcelos foi para as bancas pela última vez em 29 de junho do ano passado, tendo fechado intempestivamente na semana seguinte.
O então diretor, Paulo Vila, garantia que “calaram” o jornal e acusou o então vice-presidente da autarquia, Domingos Pereira, que entretanto abdicou do cargo por ter sido condenado em primeira e segunda instância por corrupção, de pressões políticas.
“Domingos Pereira não gosta das notícias, dos editoriais e dos textos de opinião que sobre ele aqui se escrevem acerca da condenação por um crime de corrupção passiva”, podia ler-se numa publicação que Paulo Vila assinou na página de Facebook do Jornal de Barcelos, considerando que o fecho da publicação era um “golpe”.
Na altura, Domingos Pereira não quis prestar declarações a O MINHO sobre o assunto para não “alimentar novelas”.
Falta de dinheiro
Já o administrador da Cooperativa Barcelense de Cultura, Carlos Pina, negou que a decisão de encerrar o jornal tivesse que ver com pressões de Domingos Pereira. Justificou que o jornal não conseguiu atingir as metas financeiras definidas em 2011 – aquando da sua reformulação – e que nem sequer tinha “dinheiro para pagar a impressão”.
Carlos Pina afirmou a O MINHO que “o valor dos suprimentos desde 2010 para as empresas Barcul e Cooperativa Barcelense de Cultura ultrapassam os 600 mil euros”. “Quem entrou com esses suprimentos foi precisamente quem eles agora acusam de não querer continuar com o jornal [por motivos políticos]. Isto não é verdade. O jornal fechou porque não havia dinheiro. Ponto. Não havia 800 euros para pagar à impressora em Espanha. Já na [empresa] anterior havia continuamente salários em atraso, porque era preciso consultar os cooperantes, que foram continuamente pagando salários”, refere o administrador. E reconhecia: “De facto, existem salários em atraso, não se nega”.
Em outubro do ano passado, a Cooperativa Barcelense de Cultura decidiu, em assembleia geral, apresentar-se à insolvência. Decisão que contou com a oposição de três cooperantes: o vice-presidente da assembleia geral, Luís Manuel Cunha, e os jornalistas Zita Fonseca e Paulo Vila (último diretor do Jornal de Barcelos).
Fundado em 1950, o Jornal de Barcelos foi o vencedor do Prémio Gazeta Regional em 2011. Além dele, em Barcelos há apenas mais um jornal local, o Barcelos Popular.