O ex-candidato a Presidente da República, consultor e ‘speaker’ motivacional, esteve na quinta-feira no Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães, onde deu uma palestra para a administração, médicos, enfermeiros e funcionários em geral. O tema foi o livro que escreveu durante a pandemia, “Dar ao pedal”.
“Parece que precisamos de uma pandemia para valorizarmos a saúde. Os profissionais de saúde deviam ganhar mais”, atirou Jorge Sequeira logo a abrir, quando a audiência, pouco habituada a este tipo de palestra, ainda estava desconfiada. Quebrou-se o gelo, a partir daí foi rir a bandeiras despregadas.
Jorge Sequeira conta histórias e conta-as com uma naturalidade que parece que lhe vieram à memória naquele momento, por acaso. Aliás, fala à audiência com se estivesse sentado à mesa de um café com cada uma das dezenas de pessoas à frente dele.
O título do livro, “Dar ao pedal”, é todo ele um acrónimo. Em “Dar”: o “d” é de desculpas, o “a” de acreditar e o “r” de resiliência. A história que acompanha o “d”, as desculpas, é deliciosa. Um fabricante de sapatos, de Felgueiras, claro, decide mandar dois vendedores para a Índia, convicto que se entrar naquele mercado tão grande vai ganhar muito dinheiro. Dividem a Índia entre os dois vendedores em Norte e Sul. Passada uma semana o vendedor que tinha ido para a Índia do Sul telefona para Felgueiras, “isto aqui não vale a pena, a malta anda toda descalça é impossível vender sapatos nesta terra”. O empresário conformou-se e fez regressar o vendedor. Entretanto, o outro comercial, que tinha ficado com a Índia do Norte não dizia nada e já lá ia um mês. “Então pá, não dizes nada? Que é que se passa por aí?”, perguntou-lhe o patrão, pelo telefone. “Esteja calado, eu não tenho tempo para o aturar. Isto é sempre a vender sapatos, esta malta andava toda descalça. Vamos ficar ricos”, responde de lá o vendedor.
É outra versão de, “se a vida te dá limões, faz limonada”. Claro que contado com o charme de um contador de histórias como Jorge Sequeira tudo parece melhor. De tal forma que, mesmo quando o fim da história é evidente, somos embalados de tal forma que aguardamos cada palavra com expectativa. “As histórias servem para adormecer as crianças e para despertar os adultos”, vai avisando.
O “a” é de acreditar, porque, segundo Jorge Sequeira, somos educados para desconfiar. “Cuidado, olha que esse rapaz tem segundas intenções”, diz a mãe à filha. “Não tem nada” – explica Jorge Sequeira – “, as intenções do rapaz não podiam ser mais claras”.
O “r”, de resiliência, Jorge Sequeira compara esta qualidade à de uma mola que consegue voltar sempre à sua antiga forma, mesmo depois de submetida a grandes esforços.
O livro, diz o autor, “foi escrito durante a pandemia, porque fiquei sem nada para fazer. Como veem, eu vivo de ajuntamentos que deixaram de ser possíveis”.
Deixa rasgados elogios ao trabalho que o Hospital de Guimarães e os profissionais de saúde fizeram durante a pandemia. “Quem está mesmo doente quer vir para um hospital público”. Mas, não deixa de espetar uma alfinetada, “sabem o que é que é melhor na medicina privada?” – Pergunta e dá a resposta. “Rapidez”. Já tinha dito no início que é pouco habitual vir falar a organizações públicas, onde tudo para acontecer depende de uma quantidade de autorizações formais que acabam por ser um bloqueio.
Numa altura em que já tinha a plateia unida num sorriso, adiantou que a ciência não encontra nenhuma relação entre a sisudez e a competência, “de forma que é inútil andar de trombas no trabalho.”
No “ao” do título, o “a” é para atenção (foco) e o “o” para objetivos (metas). As letras de “Pedal” são um acrónimo para: positivo, experimenta, duvida, autónomo e luta.
Na impossibilidade de falar aqui de todas elas, sobre a última, Jorge Sequeira invoca a frase do lutador Joe Lewis: “Não importa o número de vezes que caio ao chão, importa o número de vezes que me levanto.”