A pintora Joana da Conceição apresenta no sábado, na Casa dos Crivos, em Braga, a performance e instalação “O Berço de Vénus”, refletindo a imagem de fertilidade desde o paleolítico até aos dias de hoje.
A proposta da artista inclui “uma série de desenhos, pintura, música e objetos que ficarão instalados no espaço, depois de ativados na performance”, explica à Lusa, num trabalho multimédia com objetos “que depois ficarão inanimados, mas numa primeira fase serão desdobrados e sobrepostos”.
Inserida na programação da Bienal de Arte Contemporânea (BoCA), a performance, que inclui música ao vivo tocada pela própria artista com a colaboração de Sara Graça e Maria Reis, tem entrada livre e está marcada para as 19:00 de sábado, sendo que a instalação se prolonga, já sem a componente ao vivo, de 09 a 12 de abril, com entrada gratuita.
A performance, primeiro, e a versão em instalação que continuará patente, “inanimada”, mas com música anteriormente gravada “em loop” e com um enquadramento na arquitetura e no “espaço central” da Casa dos Crivos, gira em torno da desconstrução histórica, social e cultural da figura de Vénus e, a partir daí, do papel da mulher na sociedade e na cultura ocidentais.
“Cheguei a este tema a partir da minha consciencialização da forma como a mulher é representada na pintura da tradição ocidental, como pintora mulher parto dessa conceção para uma arqueologia da ideia de Vénus, que vai até ao Paleolítico. Os desenhos, objetos e ações que vão ser feitas têm como propósito desconstruir o paradigma androcêntrico ainda presente na História e na perceção de algumas partes, como a pré-História”, reflete.
Partindo do “património artístico e herança cultural” que vem desde esse período, Joana da Conceição reflete a relação entre a mulher e a Natureza, mas também conceitos como a ancestralidade, feminilidade e erotismo, presentes no seu trabalho anterior.
“A representação da mulher na pintura do Ocidente é muito do homem para o homem, e a mulher acaba por ser um objeto no meio. No erotismo, por exemplo, apercebi-me que é muito na perspetiva de homem para homem. Ainda ando à procura dele, encontro-o muito mais facilmente na poesia, por exemplo em Sappho, mas há muito pouco na pintura feita por mulheres”, explica.
A ‘bagagem’ cultural com que se olham as figuras de Vénus dos vários períodos do passado, que “surge com o Cristianismo e a Grécia antiga”, transformam-se quase em “censura”, diz, e a instalação é também “um esforço de tentar sair e desconstruir essa projeção de uma organização social que é a do nosso tempo”, mas também “de refletir sobre a parcialidade que o androcentrismo trouxe a muitas destas evidências” ligadas às restrições aplicadas a mulheres através dos tempos.
Dividida em dois “grandes núcleos”, além de duas pinturas de grandes dimensões, a instalação da artista nascida em 1981, a trabalhar desde Lisboa, fica marcada pelas “diferentes escalas”, a variação entre “sons mais espacializantes e outros mais baixinhos”, num “convite ao espetador para que se ative e se movimente no espaço”.
No aspeto sonoro, há música gravada anteriormente e, na performance, um registo ao vivo, uma “improvisação”, da autoria da pintora, que forma com André Abel o conjunto Tropa Macaca, sendo que todos os registos serão inéditos e assentes na música minimal.