Já cortou o cabelo a Neymar, é amigo de Vinicius Jr e está de portas abertas em Braga

Foto: Thiago Correia / O MINHO

Há cerca de um ano a viver e a cortar cabelos em Braga, o brasileiro Erickson Sousa de Oliveira, conhecido por ser barbeiro de vários dos principais jogadores de futebol do país, principalmente Vinícius Jr., celebra o seu atual momento, sonha em expandir a sua barbearia e “revolucionar” o mercado na cidade e até em outros lugares.

Entre jogadores brasileiros, Vini Jr. é o cliente mais habitual, e Erickson 2K até já o considera um amigo, assim como a sua família. Mas outros futebolistas como Neymar, Rodrygo, Lucas Paquetá, Gérson, Ederson, Éder Militão, Richarlison, Thiago Silva e muitos outros já passaram pelas suas mãos.

Depois de ter algumas barbearias no Rio de Janeiro, inclusive uma dentro do centro de treinos do Flamengo, Erickson, assim como outros milhares de brasileiros, resolveu vir para Portugal. Primeiro para Lisboa. Mas depois de se encantar por Braga, investiu no seu primeiro espaço no centro, e a ideia é fazer do hábito de cortar cabelo numa experiência.

“Eu vim para dominar”

“Eu não quero abrir apenas uma barbearia, eu quero abrir um espaço que não existe aqui. Com bilhar, matraquilhos, videojogos, espaço para jovens, área kids, algo que aqui não há, com música ao vivo na sexta-feira, com feijoada, caldo de feijão, coisas diferentes, eu já fazia isso no Brasil”, disse o barbeiro a O MINHO, que até já pensa na expansão.

“Quero fazer uma loja modelo aqui em Braga, partir para o Porto, Lisboa, depois França e Espanha. Em Madrid eu consigo alcançar o Vini com mais facilidade. Tem muitos jogadores brasileiros lá também. Eu tenho que aproveitar este momento em que estou bem para alcançar mais”.

Foto: Thiago Correia / O MINHO
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Foto: Thiago Correia / O MINHO

Para já, Erickson já conseguiu atender mais de 200 clientes num mês, e ainda concilia com viagens para outros países europeus, onde corta os cabelos dos jogadores, e vai contratar mais um barbeiro. Para além dos atendimentos, o carioca também oferece cursos.

“A cidade é pequena, eu vim para dominar, vou começar o modelo de franquia de loja e estou a procurar investidor para isto”, revela.

Outro exemplo de ter o espaço como uma experiência foi durante o último Mundial, que improvisou um espaço na barbearia com uma churrasqueira, que ele mesmo preparava, com bebidas e jogos na televisão.

Origem

Erickson nasceu no morro do Andaraí, na região da Tijuca, no Rio de Janeiro, e por causa do envolvimento do seu pai no crime organizado, foi morar em São Gonçalo, na região metropolitana.

Há mais de duas décadas, chegou a trabalhar como estafeta e florista, não gostava de cortar cabelo, mas viu que era um mercado promissor e percebeu que poderia dar certo e começou a fazer serviços na varanda da casa da mãe, como principalmente corta à máquina e fazer o acabamento, ou “pezinho”, como é chamado no Rio.

“E então tive a ideia de abrir uma loja nos fundos da casa da minha mãe, requalifiquei, trouxe um espelho e uma cadeira, um banquinho de espera, trabalhava num escritório em Copacabana como estafeta, abria a barbearia às 15:00 e ia até 22:00. Ainda trabalhava sábado e domingo, começou a encher, aí abri um espaço na rua principal, pois as pessoas tinham um pouco de receio de ir lá onde era”, conta.

“Ali eu conseguia alcançar quem era da comunidade e quem morava nos prédios, começou a encher, formei equipa, tive um sócio e então fui também para Niterói abrir outra unidade”.

Nesta altura também que começou a dar cursos, então para pais que queriam saber cortar os cabelos dos filhos, e assim economizar neste serviço.

Contacto com famosos

Antes de cortar cabelo de jogadores de futebol, Erickson teve contacto com artistas, o primeiro foi o cantor MC Maneirinho, e depois outros artistas do funk carioca.

Ao mesmo tempo, um irmão que também era barbeiro, atendia no Flamengo e já tinha cortado o cabelo do Neymar, conseguiu o contacto para Erickson fazer os serviços com jogadores do Athlético Paranaense, que estava no Rio de Janeiro, e aí as portas começaram-se a abrir, até chegar de vez no clube carioca.

“Tinha total acesso, começamos também a atender comissão técnica, roupeiros, malta da cozinha, e comecei a criar uma relação de confiança. Acabei por ficar fixo, todos já tinham o número do meu telefone, estava lá sempre, atendia todos, até Jorge Jesus e o Paulo Sousa”, disse.

Depois de um tempo, Erickson e o irmão entraram em contacto com a direção e criaram uma barbearia dentro do centro de treinos do Flamengo, o Ninho do Urubu, num ambiente onde ficava a sala de jogos. “Antes cortávamos no balneário, no meio do corredor”.

 
 
 
 
 
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Na época do Flamengo conheceu Vinícius Jr, ainda com 16 anos, e a primeira ida à Europa foi em 2018, quando o jogador do Real Madrid já era amigo do barbeiro.

“Em três meses eu via ele a reclamar que o cabelo não estava bom, aí o Vini falou para eu ir lá, comprei a passagem do meu bolso e fui. Aí eu pensei em sair do Brasil. Não que fosse ruim, mas queria experimentar outra coisa”, disse.

Mudança para Portugal

Depois de alguns anos a pensar em como ir para fora, em 2022 foi convidado pela cabeleireira Preta Ly, também de São Gonçalo, a dar um workshop em Lisboa.

Na mesma altura, num jogo da Canarinha frente à Argentina disse para jogadores como Neymar, Vini e Paquetá que iria para Portugal, e perguntou se cá estivesse, se poderia ir cortar os cabelos dos jogadores, e todos deram respostas positivas.

“Eu sabia que o ‘não’ eu já tinha, então tinha que arriscar, o que conquistei lá no Brasil a partir de uma varanda, ia conquistar de novo. Comecei a fazer o levantamento, pesquisa de mercado, e aí perguntei para os jogadores como era aqui na Europa, eles falavam que procuravam profissionais brasileiros”, explica.

Em abril desembarcou em Lisboa para não mais regressar ao Brasil. Veio com a esposa, que ainda iria voltar uns dias depois. Vini já chamou-o na semana seguinte para cortar o cabelo antes do jogo frente ao Manchester City para a Liga dos Campeões, com vitória merengue no Santiago Bernabéu.

 
 
 
 
 
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Em três meses, Erickson ficou a viajar sempre entre Lisboa, onde vivia, França e Espanha. O principal cliente era o médio Gérson, então no Olympique de Marselha e amigo da época do Flamengo. Além de Paquetá, então no Lyon.

“O Gerson não tinha barbeiro e fechou comigo para ir lá duas vezes na semana, a comissária de bordo até já me conhecia. Comecei até a aprender espanhol, um pouco de francês, foi um divisor de águas, e no Brasil a malta sem acreditar”, recorda.

Chegada à Braga

Depois de alguns meses Erickson teve a oportunidade de conhecer Braga.

“Eu nem sabia que a cidade existia. Então fiquei encantado pela cidade, linda, limpa, bem diferente de Lisboa. Regressei para lá, mas já sonhando com Braga”, conta. 

Então conseguiu organizar tudo e fez a mudança, teve a oportunidade de abrir a barbearia, arrendou um apartamento, a mulher e o filho vieram, o salão começou a ter movimento, e começou a investir mais, e foi crescendo.

E até o tipo de convivência com jogadores molda o atendimento de Erickson, que gosta de conversar durante o serviço, falar sobre vários assuntos. E até conta que futebol nem sempre é assunto com os craques.

“Eu sou flamenguista, mas nem percebo de futebol, tive que estudar para falar com eles. Eu estava com o Rodrygo há pouco tempo, e ele comentou que só fala de futebol, escuta polémicas, então falamos de igreja, família, de música, pegou no cavaquinho e começamos a cantar um pagode, e aí sai da barbearia, e aí cria-se o relacionamento. Dá dinheiro, mas o relacionamento que é criado leva além, eu percebi que a cadeira do barbeiro é um local de relacionamento, que me leva além do que poderia imaginar, foi assim que consegui conhecer outros lugares”, reflete.

Erickson lembra ainda que o seu serviço não é apenas para brasileiros, e que há muitos clientes portugueses, pretende criar contactos com os clubes da região, e lembra que o objetivo final é cortar o cabelo de Cristiano Ronaldo.

 
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