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A adega do Paço do Curutelo, em Ponte de Lima, foi inaugurada no passado dia 12 de outubro, num investimento de 3,4 milhões feito pela Xvinus, empresa detida pelos grupos Vila Galé e Madre. No local, recorde-se, está a ser construído um hotel, cujas obras estão embargadas.
Em comunicado hoje enviado a O MINHO, o grupo Vila Galé adianta que a adega tem “uma capacidade de produção de mais de 200.000 garrafas” e “está equipada com a mais moderna tecnologia, permitindo acompanhar e monitorizar todos os processos, desde a receção da uva, ao controlo das fermentações e engarrafamento, e terá a capacidade de vinificar todas as parcelas da propriedade”.
Atualmente, o Paço do Curutelo, com 57 hectares, conta com cerca de 13 hectares de vinha já plantados, com parcelas entre os sete e os 20 anos. Em 2025 serão realizadas novas plantações, perfazendo um total de 20 hectares.
Loureiro, Alvarinho, Avesso e Arinto serão as castas de referência. E o primeiro vinho verde com a marca Paço do Curutelo foi já lançado a 25 de abril de 2024.
“O projeto e a marca Paço do Curutelo têm como objetivo produzir vinhos que caraterizem a região dos vinhos verdes e criar várias referências de vinho diferenciados, quer pelo seu método de produção, quer pela diversidade de castas plantadas, nunca desvirtuando a sub-região do Lima, onde o Paço do Curutelo está inserido e onde a casta rainha é o Loureiro”, antecipa o enólogo, Ricardo Gomes, citado no comunicado.
Paço do Curutelo é a segunda marca de vinhos da Xvinus, que já tem Val Moreira, para a sua produção na Quinta do Val Moreira, no Douro. Nesta área de negócio, a Vila Galé conta com a marca Santa Vitória, dedicada a vinhos alentejanos. E o grupo Madre é produtor de vinhos na região do Tejo, em Arruda dos Vinhos, sob a designação Quinta de São Sebastião.
A nova adega está aberta ao publico para visitas e degustações diariamente, entre as 10:00 e as 18:00.
Obras embargadas por “pressão” do Governo
Este espaço faz parte de um projeto de enoturismo que inclui ainda a construção do hotel Vila Galé Collection Ponte de Lima.
“Com um investimento total de 20 milhões de euros, já considerando o valor gasto na adega, a futura unidade de alojamento deverá ser inaugurada em abril de 2025”, prevê o grupo Vila Galé.
No entanto, as obras encontram-se embargadas. O presidente da Câmara de Ponte de Lima revelou ontem ter sido decretado na passada semana, por “pressão” do Governo, o embargo total ao projeto hoteleiro do grupo Vila Galé no concelho, o que considera não ter sustentação.
“Nós fizemos um embargo total, na semana passada, única e simplesmente por indicação, e por pressão até, inclusive, da secretaria de Estado da Cultura, porque nós não temos informação técnica que sustente o embargo”, afirmou à agência Lusa, Vasco Ferraz.
Localizado na freguesia de Ardegão, Freixo e Mato, o imóvel está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1977, tendo, nos termos legais, uma Zona Geral de Proteção (ZGP) de 50 metros.
Em 2022, foi adquirido pelo grupo Vila Galé, através da empresa Xvinus – Companhia Enoturística, Lda.
Em janeiro, o grupo anunciou um investimento de 20 milhões de euros para criar um projeto de enoturismo e produção de vinhos verdes, com abertura em 2025, criando 42 empregos.
“Novas construções” estão de “acordo com o projeto”
A 10 de outubro, a câmara decretou o embargo parcial à intervenção no castelo de Curutêlo, na sequência de uma vistoria conjunta com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) ao projeto. No dia anterior, o Instituto do Património Cultural tinha anunciado “uma profunda revisão das zonas de proteção” dos monumentos classificados, na sequência do “impacto irreversível” causado pela construção de um hotel no Paço de Curutêlo.
Ontem, o autarca do CDS-PP disse que “tinha informações técnicas” que sustentavam a decisão do embargo parcial.
“A única diferença que encontrávamos na obra [relativamente ao que previa o projeto inicial] foi uma intervenção no Paço e nas peças constituintes, um espigueiro e a capela, que não estão classificados, mas estão dentro da zona geral de proteção”, argumentou.
Quanto ao embargo total à construção do empreendimento, decretado na semana passada, “a pedido da Secretaria de Estado da Cultura e do Património Cultural”, não há sustentação por considerar que as “novas construções”, estão de “acordo com o projeto”.
“Das visitas que fizemos ao local, e já fizemos pelo menos três, não encontrámos nada que sustente o embargo total. As instituições, muito possivelmente, terão percebido que cometeram um erro, estão empenhadas em retroceder”.
Segundo Vasco Ferraz, foi solicitado à autarquia que levasse “um topógrafo à obra, para verificar as cotas das lajes, as cotas das coberturas, as implantações”, operação que concluiu estar “tudo direitinho de acordo com o projeto”.
“Mas pronto, a senhora secretária de Estado da Cultura, nomeadamente o Património Cultural, fez-me esse pedido, que foi uma espécie de condição. ‘Meus senhores, há este despacho, é isto que vocês têm de fazer’. E nós fizemos”, apontou.
Vasco Ferraz acrescentou que, posteriormente, após uma visita ao local, toda a gente percebeu que o embargo parcial foi bem feito.
“Agora está tudo parado. Só quando a secretaria de Estado da Cultura e o Património Cultural decidirem que será levantado [embargo total]. Ou então o tribunal, porque o embargo não está bem feito”, frisou.
Vasco Ferraz referiu ser o “importante” a preservação do imóvel classificado e “determinante para o concelho de Ponte de Lima, e para o distrito de Viana do Castelo”, o investimento de 20 milhões de euros que o grupo Vila Galé está a realizar e que vai criar 42 postos de trabalho.
“Todos nós temos capacidade de fiscalização, todos nós estávamos mais ou menos atentos, nunca nos chocou aquilo que é a construção que existe no local, desde que se recupere efetivamente o património que estava a ficar num estado degradação considerável. As novas construções estão lá hoje, daqui a 50 anos não estão, mas o património, pelo menos, fica recuperado e daqui a 50 anos está lá recuperado e está intacto”, afirmou.
Garantiu que a Câmara de Ponte de Lima “fez tudo o que devia”, desde “a declaração de interesse público, às questões urbanísticas”.
“Vila Galé não é uma empresa de vão de escada”
O hotel terá 69 quartos, piscinas exteriores para adultos e crianças, salão e eventos, bar, dois restaurantes, biblioteca e um espaço museológico dedicado à história do local.
O presidente do grupo Vila Galé manifestou-se, aquando da inauguração da adega, contra o embargo. “A intervenção no castelo estava licenciada e autorizada. Não se justifica o embargo. De jeito nenhum (…) Não vejo razão nenhuma para nos estarem a complicar a vida”, afirmou Jorge Rebelo de Almeida.
O responsável garantiu que todo o projeto hoteleiro, que inclui o castelo, “demorou dois anos a licenciar, pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), pela Cultura (antiga Direção Geral do Património Cultural, atualmente Património Cultural), turismo, pela câmara de Ponte de Lima”.
“Disparate total. Nós temos aqui uma obra que devia alegrar as pessoas da região e do país. A Vila Galé não é uma empresa de vão de escada. Está tudo aprovado. Tudo certinho”, frisou.
“Se houver bom senso isto fica resolvido. Isto é uma coisa que não tem justificação nenhuma. Não estou a perceber porque nos estão a perseguir por isto”, disse.
Para Jorge Rebelo de Almeida, o embargo das obras no castelo “é o mais disparatado que existe e a obra que esta a ser feita devia ser medalhada por ser um projeto estruturante para a região”.
“Quando aparece um camelo que sou eu, que venho gastar dinheiro e recuperar esta coisa, é que nos chateiam”
“Este castelo é um castelinho, mas que importa preservar. Nós estamos a fazer aquilo que destruíram. A fachada estava rebocada com cimento e pintados a tinta plástica. Nunca se mete cimento numa obra classificada. Tinha lajes de vigotas, pré-fabricadas, tijoleiras e telha contemporânea. Estragaram o castelo todo. O património nunca se preocupou com isso”, disse.
E acrescentou: “Estava totalmente descaracterizado. Esta quinta, quando a comprei era um esterco, um abandono, tudo partido, cheio de lixo por tudo quanto era lado. Não tinha ponta por onde se lhe pegasse. E hoje vai sair daqui um castelo recuperado que sou eu que o vou recuperar”.
O empresário diz-se “perseguido e muito magoado”, mas garantiu que “não vai desistir”.
“Vamos para tribunal. Não vou tirar o aço leve. De jeito nenhum. O aço leve é uma solução boa. Se não puder fazer o castelo fica no estado em que está. Está tudo abandonado neste país e quando aparece um camelo que sou eu, que venho gastar dinheiro e recuperar esta coisa é que nos chateiam. Ninguém ligou a isto. Fizeram ali [castelo] barbaridades. Faziam o que queriam. Não tinham respeito nenhum pelo património e a Cultura nunca se preocupou”, concluiu.
Com Lusa